São Paulo, 30 de Janeiro
de 2013
Querido Caiçara,
Dormi muito mal a noite
passada, tive vários pesadelos horríveis. Sonhei que eu estava num
avião que explodia em pleno ar, acordei assutada coberta de
suor...parecia tão real. Demorei um tempão para dormir novamente,
depois sonhei que o I. sumia do seu berço! Saia correndo
desesperada pela casa escutando o choro dele e não o encontrava em
lugar nenhum...simplesmente horrível. Imagina como estou hoje depois
desta noite “maravilhosa”, me arrastando (ainda bem que não
tenho nenhum compromisso importante). Que noite de cão! Mas tudo
bem, nada como um dia depois do outro.
Estou meio pensativa
hoje, querendo ficar no meu canto sem muita conversa com ninguém.
Sem querer também, uma série de lembranças muito ruins das coisas
que você fez para nós surgiram, como se o passado materizaliza-se
no meu presente e toda aquela dor voltasse. As noites de angústia, a
raiva por você simplesmente sumir, me roubar, se desfazer das minhas
coisas materias, do abandono, das mentiras...e depois aparecer com a
cara mais deslavada da face da terra, comer, dormir como se nada
tivesse acontecido. Meu Deus, voltou tudo como um tsunami!
Acho que não estou tão
bem resolvida assim...alias, longe disso! Sem querer essas cenas
aparecem na minha cabeça como se fosse um filme, um pesadelo. Será
que algum dia eu vou conseguir fazer as pazes com este passado? O
pior é que sofro por coisas que não causei...você causou. Mas,
como dizemos no NarAnon: a dor é inevitável, o sofrimento opcional.
Não vou mais sofrer. A dor que você me causou é irremediável, mas
a opção de ficar sofrendo ou não por causa dela é minha. Então
digo em alto e bom tom foda-se. Eu tenho mais o que fazer da minha
vida do que ficar sofrendo pela dor que você me causou! Você que se
responsabilize por ela e sofra você.
Desculpe, estou muito
abalada. Esse submundo todo...Até liguei para a Cida, querendo saber
de você também mas, para variar você esta bem, para variar eu
nunca consigo falar com você quando preciso, e para variar eu que me
vire e segure a onda sozinha. Tá certo, eu mereço mesmo, afinal de
contas, para variar, a culpa é minha por continuar insistindo em me
relacionar com você.
Então, para variar, é
isso. Enquanto você esta ai blindado, com o apoio que você precisa,
eu estou aqui de peito aberto sem o apoio de ninguém (só o gupo
mesmo e o novo psicanalista, mas vai demorar um bom tempo) tendo que
vivenciar essa realidade horrorosa que não é minha. Honestamente,
talvez eu siga o que você me pediu na carta que escreveu.
Espero que você esteja
bem (de acordo com a clínica você esta sempre bem então continue
assim e depois me mande a receita porque eu não estou, quem sabe eu
me interno também! Mas ai quem vai cuidar do I. ne'? Pagar as
contas, e por ai vai...O Poder Superior não vai ser...).
Beijos,
Dona Barriga
P.S: Estava fazendo as
contas, sabe quantas cartas já escrevi para você nestes últimos 2
meses? Eu sei (meu computador sabe), umas 15. Sabe quantas você me
escreveu? Miseras 3! Chega, cansei de ficar só doando...e não
receber nada em troca.
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