quarta-feira, 6 de março de 2013

O passado bate a porta


São Paulo, 30 de Janeiro de 2013

Querido Caiçara,

Dormi muito mal a noite passada, tive vários pesadelos horríveis. Sonhei que eu estava num avião que explodia em pleno ar, acordei assutada coberta de suor...parecia tão real. Demorei um tempão para dormir novamente, depois sonhei que o I. sumia do seu berço! Saia correndo desesperada pela casa escutando o choro dele e não o encontrava em lugar nenhum...simplesmente horrível. Imagina como estou hoje depois desta noite “maravilhosa”, me arrastando (ainda bem que não tenho nenhum compromisso importante). Que noite de cão! Mas tudo bem, nada como um dia depois do outro.

Estou meio pensativa hoje, querendo ficar no meu canto sem muita conversa com ninguém. Sem querer também, uma série de lembranças muito ruins das coisas que você fez para nós surgiram, como se o passado materizaliza-se no meu presente e toda aquela dor voltasse. As noites de angústia, a raiva por você simplesmente sumir, me roubar, se desfazer das minhas coisas materias, do abandono, das mentiras...e depois aparecer com a cara mais deslavada da face da terra, comer, dormir como se nada tivesse acontecido. Meu Deus, voltou tudo como um tsunami!

Acho que não estou tão bem resolvida assim...alias, longe disso! Sem querer essas cenas aparecem na minha cabeça como se fosse um filme, um pesadelo. Será que algum dia eu vou conseguir fazer as pazes com este passado? O pior é que sofro por coisas que não causei...você causou. Mas, como dizemos no NarAnon: a dor é inevitável, o sofrimento opcional. Não vou mais sofrer. A dor que você me causou é irremediável, mas a opção de ficar sofrendo ou não por causa dela é minha. Então digo em alto e bom tom foda-se. Eu tenho mais o que fazer da minha vida do que ficar sofrendo pela dor que você me causou! Você que se responsabilize por ela e sofra você.

Desculpe, estou muito abalada. Esse submundo todo...Até liguei para a Cida, querendo saber de você também mas, para variar você esta bem, para variar eu nunca consigo falar com você quando preciso, e para variar eu que me vire e segure a onda sozinha. Tá certo, eu mereço mesmo, afinal de contas, para variar, a culpa é minha por continuar insistindo em me relacionar com você.

Então, para variar, é isso. Enquanto você esta ai blindado, com o apoio que você precisa, eu estou aqui de peito aberto sem o apoio de ninguém (só o gupo mesmo e o novo psicanalista, mas vai demorar um bom tempo) tendo que vivenciar essa realidade horrorosa que não é minha. Honestamente, talvez eu siga o que você me pediu na carta que escreveu.

Espero que você esteja bem (de acordo com a clínica você esta sempre bem então continue assim e depois me mande a receita porque eu não estou, quem sabe eu me interno também! Mas ai quem vai cuidar do I. ne'? Pagar as contas, e por ai vai...O Poder Superior não vai ser...).

Beijos,
Dona Barriga

P.S: Estava fazendo as contas, sabe quantas cartas já escrevi para você nestes últimos 2 meses? Eu sei (meu computador sabe), umas 15. Sabe quantas você me escreveu? Miseras 3! Chega, cansei de ficar só doando...e não receber nada em troca.

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