Honolulu, 17 de Fevereiro
de 2013
Caiçara,
Chegamos aqui cedíssimo,
depois de um vôo longo e cansativo, e ao invés de eu descansar não,
recebi seu email (as 6 da manhã) e fiquei preocupada pois você não
tinha compreendido nada. De acordo com suas palavras, estava triste e
pensativo (e me senti culpada, olha a codependência ai gente!).
Tentei ligar várias vezes, e quando finalmente consigo falar com
você mais um desastre...estou chegando a conclusão que estamos
voltado a estaca zero, comunicação zero, compreensão zero,
cobrança mil, paranóia mil. Não são números muito animadores...
Esta na hora de
você começar a me dar um pouco mais de valor e, acima de tudo,
respeito! Se você acha que por um passeio de barco, meia duzia de
cervejas e carência eu iria para cama com outra pessoa (mais ainda
um ex-marido, se eu quisesse continuar indo para a cama com ele, ele
não seria meu ex-marido e sim marido, faz sentido nesta sua cabeça?)
você realmente não me conhece! Pior, sinto-me extremamente ofendida
e desvalorizada nos meus sentimentos por você. Se você não confia
em mim, no amor que eu tenho por você eu estou fazendo exatamente o
que nesta estória? Só me avise pois, honestamente, fazer parte
desta estória não é fácil. Analisando racionalmente, em algum
momento no nosso relacionamento eu dei motivo para você não confiar
em mim? Mesmo quando as coisas estavam uma gigante merda? Mesmo
quando você simplesmente sumia com meu dinheiro, meu carro etc...?
Eu estava aonde? Tomando cerveja no motel com meia dúzia de homens?
Não! Eu estava em casa, me descabelando, esperando você voltar e
depois reparar os danos que você causou. Ou seja, eu tive e
tenho todas as razões e oportunidades de dar um enorme pé na sua
bunda...mas uma coisa que eu não tenho controle me impede (e não é
o I.), é o amor que sinto por você, então dê mais valor a isso
e me respeite!
Cresça Caiçara, depois
desse seu momento ciumento/machista/inseguro/medo/possessivo e sei lá
eu mais o quê sinto que ainda esta faltando e muito! Você esta
apreendendo (espero) que suas ações têm consequências, e a
consequência dessa sua atitude é esta, fiquei muito magoada mais
uma vez com a sua desconfiança (mesmo eu tentando esclarecer as
coisas no telefone pois achei que teria sido apenas um mal entendido)
e acabo me afastando emocionamente mais uma vez. Pare de sabotar o
amor que tenho por você...tudo tem limite.
Também achei um absurdo
você questionar a segurança do I., quem você pensa que eu sou? Alias quem é você (pai do ano) para imaginar que eu colocaria
o I. em alguma situação de risco?
O barco (na verdade é um
iate), é novíssimo com toda a tecnologia disponível hoje, eles
navegaram com ele mês passado da Nova Zelândia até aqui, com toda
a documentação necessária (e aqui nos USA não tem rolo não),
super confortável e seguro...Que tipo de mãe você acha que eu sou?
Ah, é que você deve estar acostumado com umas e outras por ai (sem
nomes né?). Não confunda...eu sou a Dona Barriga, mãe do I., não
esqueça! E nunca mais se esqueça disso, estamos entendidos?! Alias,
a pergunta é, que tipo de pai você é? Não questione minhas
decisões como mãe enquanto você não for um pai responsável, pois
desde que o I. nasceu quem é responsável por ele sou eu (não que
esse tenha sido o plano original, a idéia é que fossemos nós dois
juntos...mas você nunca se responsabilizou por nada, e sim sobrou
para mim!). Enfim, não toque mais neste assunto porque ai sim,
teremos a briga do século!
E sabe o que me irrita
mais? Eu comigo mesmo. Do outro lado do mundo, exausta, recebo seu
email e pronto...fico preocupada, querendo tentar ajudar e olha que
beleza! Só acabo me complicando mesmo e me machucando, antes tivesse
deixado você fantasiar suas inseguranças o quanto você quisesse.
Codependência me pega as vezes, qualquer outra pessoa simplesmente
leria seu email e pensaria, que pena, ele não entendeu nada...bom
fazer o que, vou dormir porque viajei 12 horas + 4. Mas estou
aprendendo, um dai eu chego lá!
Mas algumas poucas coisas
já apreendi, e não vou deixar esse momento Caiçara estragar minha
chegada na minha tão amanda ilha! Nunca esqueci o azul turquesa
deste mar, a sensação de olhar pela janela depois de inúmeras
horas de vôo e avistar as ilhas pela primeira vez, como um oásis no
meio deste enorme oceano, descer do avião e sentir o calor
aconchegante, o aroma das plumérias...e os amigos esperando no
desembarque com as leis (colares de flores) dizendo Aloha!
O I. esta meio “sem
horários”por causa do fuso, depois que chegamos ele dormiu quase a
manhã toda, acordou depois do almoço (comeu super bem, a Ro – que
cozinha muito- fez um feijão com uma carne seca que eu trouxe) e
ficou pilhado...consegui colocar ele para dormir eram quase 10 da
noite. Daqui uns dois/três dias ele entra no ritmo, até eu fico
meio zumbi nos primeiros dias. Depois que consegui fazer o Iago
dormir, a S. (filha da Ro) ficou de baby sitter (alias levei
um choque quado vi a menina, moça! Já esta na faculdade e
tudo...conheci ela tão pequenininha, como o tempo passou mesmo...),
pois combinaram um jantar no meu restaurante favorito (nem acredito
que a Ro lembrou disso, é um tailandês perto de Waikiki!). Quando
chegamos fiquei imensamente feliz, muitos amigos queridos de longa
data, pessoas que estudaram comigo na universidade, americanos,
brasileiros! Fiquei profundamente emocionada...reencontrar tantas
pessoas que, nem sei as vezes, porque deixei para trás...ou faz
parte da vida mesmo, as despedidas e os encontros, os encontros e as
despedidas...um ciclo.
Hoje acordei e prometi
para mim que, faça o que você fizer, diga o que você dizer,
escreva o que você escrever...sinta o que você sentir são todos
atos seus e eu não vou mais tentar resolver nada (pois eu não tenho
este poder mesmo), não vou mais me abalar (pois acabo sempre me
machucando), não vou mais interferir (porque ninguém me escuta
mesmo, começando por você)...não vou mais nada! Quem tem que me
reconquistar, quem tem que me respeitar, quem tem que me amar, quem
tem que provar que vale a pena é você! Sabe quando você vai no
cinema assistir um filme e espera um final feliz? Sou eu sentada
naquela primeira fila aguardando o final feliz comendo pipoca.
E assim vou para Kaimana
beach, passar o resto do dia com o pequeno. Precisei viajar até o
outro lado no mundo para me lembrar que viver é bom, a vida é uma
benção e que eu passei tempo demais sem viver...a minha vida. A
minha vida, que teve, tem e sempre terá suas ondulações, altos e
baixos mas, agradeço ao Poder Superior (que sempre esteve do meu
lado, mesmo eu não sabendo) pois é uma vida maravilhosa! Uma
família amorosa e compreensiva (com nossos problemas claro), amigos
queridos, experiências únicas (já vi e fiz muita coisa), um filho
simplesmente lindo que é tudo para mim, e um amor sem tamanho por
você (espero que correspondido a altura).
Então só tenho a
agredecer, hoje e sempre!
Mas eu confesso,
estou cansando dos nossos atritos. Talvez este tempo seja mais do que
necessário, quem sabe você apreenda a dar valor ao que você ainda
têm e comece a me tratar com mais amor, carinho, compreensão e,
acima de tudo, o respeito que eu mereço. Não vou me contentar com
nada mesmo do que isso. Desculpe, mas estou deixando meus limites
muito claros. Sei que facilitei demais para você, deixei você me
manipular, você me desvalorizar, você me tratar como um lixo as
vezes...mas a realidade hoje é outra.
Também estou olhando com
cuidado o que posso contribuir para mudar a dinâmica da nossa
relação, pois nem sempre o respeitei (ficava meio impossível né?),
acabei assumindo papéis que não são meus e sim, inúmeras vezes
não levei você a sério por tratá-lo como um adolescente mau
resolvido e rebelde (você também se comportava como um). E acabei
me sobrecarregando, pois não tinha como dividir as responsabilidades
com você. E acabei me fechando, pois não tinha como me abrir...meu
companheiro não era um companheiro para “todas as horas” eu não
podia contar com ele, então fui me fechando e resolvendo (ou não)
mas tomando decisões independente dele, das opiniões dele, dos
sentimentos dele. E acabei virando uma ditadora por falta de opção
mesmo! Então eu também preciso reapreender a como me relacionar com
esse “novo”companheiro, mais adulto, saber que eu posso confiar
nele, pedir ajuda, apoio, colo...e que as decisões que dizem
respeito a nossa relação e ao nosso filho possam ser tomadas em
conjunto levando em conta os meus sentimentos e os dele. Criando este
espaço de cooperação que até então, não existia. Resumindo, eu
também preciso olhar você com mais respeito e consideração (mas
como você mesmo disse, o processo é lento). Enfim, aguardo
carinhosamente este “novo”companheiro porque, honestamente, estou
meio de saco cheio do “velho”companheiro.
Beijos,
Dona Barriga
P.S: O Hawaii continua
lindo!
P.P.S: Na sexta voamos
para a Big Island (meia horinha de vôo, rapidinho) e no sábado
estaremos embarcando. O C. tem um celular que funciona via
satélite geostacionário (tipo exército), mas fico sem graça de
pedir emprestado pois as ligações são caras e é mais para uma
situação de emergência mesmo se o rádio não funcionar, por
exemplo. O meu, em alto mar não vai ter sinal. Enfim, poderia tentar
ligar na sexta mas depende de vocês conversarem ai. Só me avise.