quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Não minta


Ola meus queridos(as)

Resolvi escrever hoje sobre algo de primordial importância. Antes de mais nada, não sou psicóloga, não sou pedagoga e não tenho nenhuma educação formal em comportamento infantil (só a prática mesmo de mãe do pequeno I. de 5 anos). Pelo contrário, humanas não é a minha área, sei derivar a equação de vorticidade de olhos fechados mas não entendo gente... é caos. Mas entendo da importância de educar e amar um filho.

Se o pai do seu filho é um adicto, ou um pai ausente, ou um pai zero a esquerda, não envolva seu filho nisso; principalmente se ele for pequeno e ainda não tiver ferramentas para absorver esses conceitos. Com o tempo, eles vão crescer e desenvolver sua própria relação com esse "pai". Nem quando você estiver explodindo de raiva porque mais uma vez o "pai" não apareceu para levá-lo no cinema, não deixei espirrar na criança. Ao contrário, explique MAS não minta. Nunca minta para o seu filho! Claro que cada faixa etária deve ser abordada dentro da sua compreensão, resumindo, o que a cabecinha do pequeno conseguir processar sem subestimar sua inteligência.

Não invente estórias mirabolantes, seja direto e objetivo. Não quebre a confiança que seu filho tem em você, por mais que queira protegê-lo. Lembre como você se sente cada vez que alguém querido mente (ou omite a verdade, os adictos adoram usar essa frase).

Ame muito seu pequeno, ensine, cuide, não o envolva nos seus problemas e NUNCA minta para ele. Crie um laço de respeito e honestidade que durará toda a vida!




quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Esse problema não é meu


Ola meus queridos(as)

Temos a tendência, ou predisposição de sair resolvendo todos os problemas do mundo: desde a crise migratória na Europa até o pãozinho francês da padaria que esta saindo queimado do forno. É quase patológico como abraçamos problemas que não são nossos. 

Outro dia estávamos conversando, o Caiçara falando de alguns problemas do seu trabalho, e quando dei por mim lá estava eu maquinando como resolve-los. Opa, pera aí! Como se eu já não tivesse problemas suficientes na minha vida, porque adotar os dele também? Ou os dos outros?  Claro que podemos e devemos ser solidários, um ouvido amigo e fica por ai. Esse problema não é meu...

O poder libertador do "esse problema não é meu"! Hoje, esse é o meu mantra... quando começo a perceber que estou me envolvendo demais em algo que não me diz respeito (como se o novo auxiliar de cozinha será competente ou se vai dar tempo de desalgar as carnes para a feijoada de sábado no restaurante), opa! São alguns resquícios de codependência que ainda surgem apesar de anos de recuperação. Aquela necessidade de controle, aquela maluquice de achar que vamos salvar a pátria e abraçar todos os problemas do universo, e pior, resolvê-los. Insanidade total, né?

Preciso sempre me monitorar para não entrar nessa dança novamente, e isso; cuidar de mim e dos MEUS problema, é problema meu...para o resto " esse problema não é meu"!

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Gaiola


Ola meus queridos(as)

Cadê a chave? Como abrir a porta? Não sei... nos emprisionamos em nós mesmos. Medo? Dor? Sei lá... Quem cria as gaiolas somos nós mesmos. Quem sabe como destruí-las somos nós mesmos também.  Você construiu, ninguém melhor do que você sabe como (des)construir! 

Quebre essa gaiola, vamos voar por ai; pode ser assustador, e é... mas vale a pena. Ninguém, nem nada nasceu para viver preso, preso a dor, preso ao passado, preso aos erros, preso a culpa, preso a uma gaiola, preso numa prisão.

Se liberte! Se encontre, faça o que você tem vontade, pule de para-quedas, venda tudo e se mude para Tailândia, abra uma ONG, plante alface orgânico no deserto, sei lá... se encontre, se escute, se ame. E se alguém quiser ir junto, melhor ainda! 

Se não, tenho certeza que muita gente boa vai aparecer no caminho para ajudar a plantar alface!

Seja feliz... só isso, fazendo o que te dá prazer! E se no meio do caminho você mudar de idéia, tudo bem também. Lembre, se respeite, ame o próximo e acredito eu, que no final, estaremos todos lá fazendo um churrasco em comunhão com o PS! 

O melhor presente


Ola meus queridos(as)

Ontem foi o dia das crianças, mas o melhor presente de todos quem recebeu fui eu... ver o quanto meu filho é querido e amado (e não só por mim ou minha família). 

Do lado de casa temos um excelente restaurante japonês, bem famoso aqui na Vila, e nesse restaurante trabalha o "tio" como manobrista. Todos os dias passamos na frente do restaurante e lá está o tio, é só o I. vê-lo que ele sai correndo e se joga no seu colo. O tio é sempre muito carinhoso com o I., brinca com ele, pergunta dele quando passo por lá,; mas eu não sei muito sobre ele, apenas que ele tem 5 filhos, mora longe, trabalha muito e mesmo a vida sendo dura, ele sempre esta sorrindo.  Todos os dias, os ensolarados e os chuvosos também, lá esta ele, com seu bom dia alegre e seu sorriso sincero, abraçando meu filho por alguns minutos quando caminhamos para a escola de manhã. 

Não sei muito da sua vida, nunca sentamos e tomamos uma cerveja, não tenho seu telefone nem sei o nome dos seus filhos... mas ele sabe o nome do meu. E nos dias de chuva, quando passo na frente do restaurante sem meu guarda chuva, ele me acompanha com o seu até a porta do meu prédio para que eu não fique mais ensopada do que já estou... sempre tem um pirulito escondido no bolso para o I., uma balinha desviada do pote do restaurante... uma luz que não sei donde vem. Uma educação, um carinho, um cuidado com o outro.

E ontem, quando o Caiçara foi na padaria o "tio" pediu para ver o I., que já estava de pijama em casa (estávamos terminando de jantar). Uns minutos depois, voltam o Caiçara, o I. e um presente, um carrinho amarelo que o "tio" deu! Não ia esquecer do meu amiguinho no dia das crianças, disse ele!!!

Pois é, o tio, que não tem uma vida fácil, com 5 filhos lembrou do meu; esse carrinho/carinho será guardado no coração, no meu coração, no coração do I., e espero que nos corações de todos vocês. O ser humano sempre nos surpreende, com sua solidariedade, amor e carinho.

E acho que, como mãe, algo certo eu devo estar fazendo na educação do meu pequeno que conquista os corações mais puros e dignos.


sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Sinal vermelho


Ola meus queridos(as)

Caiu o primeiro dente de leite do I., fizemos todo o ritual da fada do dente com direito a deixar o dente embaixo do travesseiro e moeda em troca. Marquei uma consulta no dentista (ops, desculpe odontopediatrista), 14:30. Arranjo e desarranjo os horários, faço uma ginástica temporal e lá vamos nós. Chegamos no horário, milagre... espera, espera; a doutora não chega. Uh, será que ficou presa no trânsito ou aconteceu algo? 15:30 desisto, vamos embora. Uma mescla de "estou puta" e preocupada (vai que aconteceu algo) envio um whatsapp. Resposta, sim a consulta é as 14:30 mas na próxima segunda feira (hoje é sexta)! 

Devo estar enlouquecendo mesmo. Ou o Alzheimer esta foda! Ri um monte primeiro e depois comecei a pensar, não sou eu totalmente vivendo no mundo da Lua (sei que as vezes moro lá uns tempos), isso é algo mais... é estresse, é falta de atenção, é maluquice mesmo! Sou eu atropelada por mim mesma... Acho que estou cansada, é isso, estou cansada. E qualquer dia destes esqueço meu filho na escola, na natação ou em outro lugar. Ou esqueço uma reunião importante, ou esqueço meu nome... sei lá. Não quero ser dramática, mas nesses momentos precisamos parar e repensar. O que esta acontecendo? 

Alerta vermelho, momento desacelerar, colocar o pé no freio, ir pra praia mas como agora? No meio de um projeto para o CDP (Carbon Disclosure Program) com uma deadline apertadíssima, I. no meio do semestre escolar, como simplesmente ir para praia? Talvez um final de semana.

Mas é um sinal...minha cabeça esta em curto circuito!


quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O terror


Ola meus queridos(as)

De tempos em tempos dou uma fuçada nos blogs por ai, grande parte dos dinossauros se aposentaram (o que é ótimo) ou tomaram outros rumos escrevendo sobre X (poesia, evolução espiritual, dieta etc...). Alguns ainda existem e continuam ajudando muita gente (quero acreditar eu), alguns novos aparecem enfim, é um ciclo. 

Mas ainda vejo muita dor, muitas vidas (principalmente mulheres, mães) sofrendo, perdidas... e isso dói aqui dentro também. Queria poder simplesmente dizer a todas elas que não estão sozinhas, procure ajuda (o Nar-Anon foi e é a minha casa), deixe a vida fluir e tudo vai ficar bem. Quando você esta no olho do furação, nenhuma dessas palavras fazem o mínimo sentido... Eu sei. É trabalho de formiguinha mesmo, um tijolo de cada vez. É pesado o primeiro tijolo, o segundo um pouco menos e dia após dia, sua casa vai sendo construída e no final, que vontade de levantar mais um tijolo! Com satisfação você olha para trás e fica feliz com o que construiu... Você se reconstruiu!!!!

Quanto tempo leva? Não sei, meses, anos, décadas.... uma vida toda; vale a pena? Opa! É a sua vida, né? Só temos essa. A dor causada por conviver com um dependente químico não tem tamanho, os absurdos, o medo, o abuso (emocional ou físico), a culpa, e porque não dizer, o terror! É um terrorismo bárbaro, ficamos reféns desse terror e nos libertamos APENAS quando decidimos dar um basta. O terrorista não vai nos libertar, somos nós que um belo dia de sol saímos andando e foda-se! E o terrorista deixa de existir... E ele não é mais alguém que pode te machucar, é apenas mais uma pessoa que sofre também. E neste momento cabe a você decidir se quer continuar convivendo com essa pessoa, que não é apenas mais do que uma pessoa, ou não.

Ou foda-se! É sempre uma boa opção! Viva e deixe viver...

P.S: Desculpe se metade do NA teve um chilique agora, mas todo adicto na ativa é um terrorista sim, e cuidado, ele vai explodir uma bomba na sua vida se você deixar, e destruí-la!


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Um ano limpo e sereno(?)


Ola meus queridos(as)

E o inatingível foi atingido. Semana passada o Caiçara trocou sua ficha: limpo e sereno por um ano! Não pude deixar de me orgulhar um pouquinho (mas não contei para ele), continuo na postura "não esta fazendo mais que a sua obrigação"...MAS algo aqui dentro mudou. Sabe quando você se permite voltar a acreditar que é possível ele viver sem drogas? Talvez até o dia que ele morrer bem velhinho ou num acidente de carro, vai saber... mas limpo. Já a parte que diz sereno, são outro 500s. 

Ninguém muda da água para o vinho, infelizmente ele ainda tem alguns comportamentos totalmente inadequados e explosivos do nada. Estou chegando a conclusão que ser "estouradinho" faz parte da personalidade dele mesmo, e cabe a ele apreender a lidar com isso. Alias eu também, você também, o universo também tem momentos que nos comportamos "meio" fora do eixo. No fundo faz parte do ser humano, não somos perfeitos nem nunca seremos. Chegou o momento de parar, analisar e permitir que ele seja ele, não tem mais a droga para culpar. 

Sereno, eu lá vivo serena? Não. Tenho momentos de serenidade, de paz, e outros de estresse, de TPM, de saco cheio e TUDO bem! O truque é esse, se aceitar e buscar um equilíbrio entre matar alguém e salvar o mundo. 

Meus queridos, não sei em que momento vocês estão, querendo matar alguém ou salvando o mundo MAS procurar um meio termo, um equilíbrio parece ser a chave. Não a chave da felicidade eterna, mas a chave para uma vida BEM vivida!!! Então vamos lá!

E parabéns meu amor! Que vários outros anos virão... limpos, e se possível, serenos!

sábado, 30 de julho de 2016

A bruxa evangélica


Ola meus queridos(as)

Algo de podre paira sobre o reino da Dinamarca... Quando era criança escutava isso, e pode ser um ditado bem bobo mas quando algo cheira mal... eu lembro dele, e algo cheira mal aqui. É sempre assim quando o Caiçara resolve ligar para irmã bruxa/evangélica dele. O ar pesa, cheira mal, e depois lá vou eu jogar sal grosso na casa inteira. É sério, vocês devem estar imaginado que enlouqueci mas não, tudo pesa, seca, escurece; esse ser é um não ser, desprovido de luz e suga tudo e todos! Quase como um buraco negro. Mas até um buraco negro tem sua função no universo, só ainda não sei qual é a dela. 

Algumas pessoas simplesmente não apreendem, e o Caiçara é uma delas. Inúmeras vezes pedi que ele  continue andando sem olhar para trás ou carregar essa bruxa com ele, mas algo dentro dele não consegue simplesmente se desvincular... mas ela é minha irmã, jura? Foda-se. Irmã não é isso meu querido. Esse ser apenas nasceu da mesma barriga que você e mais nada. 

Eu não tenho mais raiva como alguns anos atrás, hoje eu tenho dó e mais nada, Quanto mais longe de mim e do meu filho (boa tia nem lembrou do aniversário dele), melhor. Alias eu só lembro que essa bruxa evangélica existe quando o Caiçara lembra que ela existe, por mim, honestamente tanto faz quanto tanto fez. Mas ela o afeta, o transtorna, não faz nenhum bem à ele; clássica relação tóxica, Desejo que o Caiçara consiga quebrar essa relação com esse ser MAS quem sou eu... 

Enquanto isso, ignoro, e vou vivendo minha vidinha que esta gostosa! E sinto muito que o ser humano ainda não entendeu o que importa na vida. 


Mamãe águia


Ola meus queridos(as)

E mais um ano na vidinha do I. é comemorado. Meu pequeno fez 5 aninhos!!! Como o tempo passa, não, passa não voa... outro dia ele estava no meu colo e agora correndo enlouquecido por ai. Cheio de personalidade, um serzinho, mas um SER, único, com gostos e (des)gostos, opiniões, vontades, sonhos, maluquices. 

Para uma mãe, é uma mescla de sentimentos; uma enorme compensação por ver seu filho crescer saudável e feliz explorando o mundo, mas ao mesmo tempo, um medo tão enorme quanto por vê-lo começar a caminhar pelas próprias pernas; a cada ano que passa sinto que o cordão umbilical vai se estendendo, até um dia romper de vez.  Fisicamente o cordão umbilical foi cortado 5 anos atrás, e racionalmente sei que o cordão emocional nunca será cortado MAS mãe quer os filhos embaixo das asas, mesmo sabendo que eles precisam voar... 

Outro dia estava assistindo um documentário muito interessante sobre as águias americanas (american eagles), lentamente sua população aumenta a cada ano e provavelmente estarão fora da lista de espécies em extinção em breve com esse crescimento populacional. Entre outros fatores, começando por nós humanos a preservar seu habitat natural; as águias voltaram a se reproduzir e serem bons pais ensinando seus filhotes a sobreviver. Lá estava a mamãe águia, no topo de um cliff com seus filhotes no ninho e chegou o momento de ensiná-los a voar. Um por um, relutantes, os filhotes não queriam simplesmente pular no abismo; a mamãe águia sabia que, para eles sobreviverem, teriam que apreender a voar e carinhosamente foi encaminhando os até a beira do penhasco. E com todo o instinto do mundo, a mamãe águia empurrou seus filhotes... e alguns saíram voando em três segundos, outros demoraram um pouco mas começaram a bater as asas, e um simplesmente caia em queda livre quando a mamãe águia abriu as asas e voo em sua direção; e o filhote começou a imitá-la e bater as asas também. 

No fundo é isso, eu gostaria de ser a mamãe águia com sua sabedoria, seu instinto e coragem de empurrar seu filho do penhasco para que ele apreenda a voar quando a hora chegar! 



segunda-feira, 25 de julho de 2016

Tatjana manuska


Ola meus queridos(as)

Essa é a segunda estória/lenda da minha família, lado materno polonês/russo. Minha avó e meu avô, os dois engenheiros de minas vivendo sua vidinha, minha tia já nascida pequenininha com uns dois ou três ano, minha avó grávida (da minha mãe), em Varsóvia, na sua casa da cidade e outra no campo. É o que era chamado de casa de inverno e verão, na época era comum. Minha avó sempre amou mais os verões que os invernos, e a casa do campo era seu refúgio. Nesse oasis ela cultivava suas orquídeas na estufa o ano todo, plantava seus morangos para compotas, e beterrabas para um bom borsch...  e amizadse com os "criados". Um belo dia a mulher do caseiro entrou em trabalho de parto, difícil, longo, complicado, o médico não chegava (hospital...nem pensar né), e minha avó saiu do salto alto, tirou o casaco de mink, e literalmente fez aquele parto sozinha! Diz a lenda que chamaram o bebê de Tatjana... em homenagem a minha avó Tatjana. 

Rapidamente os tempos mudaram, a Alemanha nazista invadiu a Polônia, e a casa de verão foi invadida pelas tropas,  e as orquídeas destruídas, as beterrabas esmagadas... e minha avô, que só era polonesa, não judia embarcou para Auschwitz sem suas orquídeas, grávida de 7 meses. Minha mãe nasceu num campo de concentração, longe do seu berço tão decorado, seus bichos de pelúcias, das orquídeas. Mas minha avó nunca se dobrou, cortou quilos e quilos de batata numa cozinha pobre e gelada enquanto minha mãe mamava grudada no seu peito (e ela agradecida por poder amamentar ela, não a mesma sorte de outros). Todos sabiam o fim, os "banhos" nos quais eram envenenados e mortos. Minha avó sabia que seus dias estavam contados, e numa noite de nevoeiro ela saiu do alojamento pedindo à Deus que fosse morta escutou uma voz... não era Deus mas um soldado da SS que patrulhava as cercas... Tajtana, Mamuska Tajtana! 

E ai entra a lenda, era ele seu criado da casa de verão que minha avó ajudou no parto da mulher. E como todos os menos favorecidos foram recrutados pelas SS por um trabalho. Combinaram um horário que ele estaria de vigília, na madrugada, para que pudessem fugir. E assim foi, numa madrugada sombria, com nada mais do que a roupa do corpo, minha mãe já andando, minha tia chorando e meu vó... o ex-caseiro não viu, e eles entraram no meio da floresta e correram, correram até chegarem num casebre, imploraram ajuda; e foram acolhidos, alimentados e dormiram numa cama depois de vários anos nas mãos dos nazistas.

Era 1945, o final da guerra... e eles chegaram na Itália e embarcaram no primeiro barco saindo da Europa para qualquer lugar e vieram parar neste pais. E até o dia que minha avó morreu nunca conseguiu pronunciar, e procurou os seus que ficaram, sumiram, morreram, e nunca desistiu até seu último dia nessa terra de acho-los e ajudá-los. Passou anos e anos enviando sacos de comida, roupas etc... voltou a Polônia inúmeras vezes buscando seus irmãos e irmãs sem achar, nenhum deles teve a mesma sorte que ela. Nunca achamos nem os túmulos.

Anos depois da sua morte confortável aqui, do lado da família, minha mãe e tia receberam uma carta do governo alemão querendo restituir as propriedades que foram da minha avó/avô desapropriadas indevidamente pelos nazistas durante a guerra.  Pois é, a casa de verão da minha avó com suas orquídeas ainda existe, e segundo minha mãe que esteve visitando uns anos atrás, continua como ela deixou. Só falta algum de nós quer ir morar lá. Já a casa da cidade, elas decidiram doar, pois um orfanato funciona lá hoje.

Muita coisa horrível aconteceu na guerra, muita coisa se perdeu mas muita coisa se achou também! Só quem viveu sabe que no concreto sempre nasce uma flor que não desisti! Isso é minha avó! Minha Babushka, que rezava toda noite o pai nosso para mim em polonês ... depois de tantos anos ainda lembro da voz dela e rezo em polonês também quando a coisa aperta!!!

P.S: A última vez que estive na Alemanha, o processo de restituição de posse não estava finalizado ainda, então não vi a estufa das orquídeas da minha avó,  mas vou, quem sabe, passar um tempo com elas e o I, em breve!









sábado, 23 de julho de 2016

O velho Manoel


Ola meus queridos(as)

Minha família é pequena mas cheia de estórias, algumas delas ninguém realmente sabe se são fatos ou lendas que se perpetuam através das gerações e se tornaram verdadeiras. Temos duas clássicas, de cada lado da família. Fiquei com vontade de escrever uma delas hoje, do lado paterno português. 

Meu bisavô Manoel (pois é, parece que todo português de Tras-os-montes se chama Manoel, como meu avô Manoel e meu pai Manoel também), cruzou o Atlântico e chegou ao Brasil no começo do século passado, em busca de aventuras e dinheiro deixando sua amada Maria debruçada numa janela no além Tejo esperando seu retorno um dia com promessas de fortuna e casamento. 

Só temos uma foto muito velha dele, desbotada em preto e branco; mas ele era bonito, jovem, com um olhar sonhador. E foi parar em Manaus, em pleno ciclo da borracha. Com sua lábia e conhecimentos, afinal de contas estudou engenharia em Coimbra, construiu um império; o "rei"da borracha (assim meu avô diz que o chamavam), prosperou, ganhou fortunas e perdeu grande parte dela com jogo e mulheres (diz a lenda). Se apaixonou por uma índia/cabocla, sumiu na floresta e anos depois voltou para Portugal, sem um centavo no bolso e casou com Maria, que ainda o esperava.  Nasceu meu avô Manoel na quinta em Tras-os-montes, (sim, esse é o nome da província, alias essa quinta esta na nossa família vai bater uns 100 anos ou mais), e tudo estava lindo e maravilhoso no reino do vinho do Porto e bacalhau por um tempo.  Mas ele, o velho Manoel ainda sonhava com as plantações de seringueiras, os trópicos, a cabocla... e ele voltou ao Brasil e nunca mais se soube dele.

Anos depois, meu avô Manoel (sei, está confuso é muito Manoel nessa estória) veio ao Brasil e aqui resolveu ficar com sua mulher, minha avó Maria (é Maria demais também né?), que não era portuguesa mas espanhola. E fizeram seu lar numa ruazinha em Perdizes, a casa ainda existe, nessa metrópole, que na época tinha bonde e não metro. Nasceram meu pai (mais um Manoel) e meu tio, meio portuguêses, meio espanhóis, meio brasileiros... Por alguns anos meu avô procurou seu pai, viajou inúmeras vezes a Amazônia, o que de mais concerto, entre as várias estórias que ele escutou, é que meu bisavô foi morto numa disputa de terra. 

Por muitos anos ninguém deu muito crédito a essa estória, até um dia um oficial de justiça bater na porta do meu avô informando que 10.000 acres de terra perdida no meio do nada na Amazônia pertencia ao meu avô. Pois é... 

Mais do que isso, apenas sobrou a velha bengala do velho Manoel, com suas inicias cravadas em ouro que meu pai guarda com carinho! 





quinta-feira, 21 de julho de 2016

Torre de Babel


Ola meus queridos(as)

Cada um de nós somos um universo paralelo... O que se passa aqui dentro, por mais que tentemos explicar, comunicar, desenhar, traduzir... sempre será apenas um pseudo espelho distorcido. A comunhão (sem nenhum sentido religioso), o entendimento pleno e único, é breve e pontual. Pequenas amostras do que somos capazes, mas ainda não chegamos lá, não evoluímos o suficiente para fazer essa comunhão com outro universo. 

Hoje fui a prova disso. confesso que tentei; em vão. Ele sabia que algo de errado acontecia no meu universo, perguntou... não soube responder, procurei as palavras, achei algumas, tentei responder, sucesso zero. Queria tanto que ele pudesse simplesmente "ler" ou "sentir" o universo aqui dentro. Fico impressionada com a clareza emocional que alguns universos têm, outros carentes dela. 

Sempre fui fã de ficção científica, passei grande parte da minha infância e adolescência entre viagens interestelares e alienígenas; lembro um livro de Philip Dick, talvez seja "The alien mind" mas honestamente não tenho muita certeza do título, no qual encontramos uma espécie inteligente que apenas se comunicava por telepatia. Qual melhor forma de se comunicar do que essa? Você pensa, e pronto; o outro lado recebe sem interferências linguísticas, gestuais, etc... interpretação zero, exatamente o que você pensou o outro lado recebeu. O que você sente, o outro sente. 

Acredito que experimentamos essa comunicação ocasionalmente em nossas vidas, sabe aquela frase clássica, ele olhou para mim e entendeu tudo?! Provavelmente é um desses momentos, que ninguém precisa falar nada e tudo foi dito! Mas são momentos raros, perdidos em trilhões de diárias traduções e explicações. Nossa linguagem verbal por mais rica e poética que seja, não traduz as profundezas dos nossos universos... tão vasto, não há palavras que os descrevem.

E assim nos perdemos em confusões, interpretações, traduções infrutíferas; e nos tornamos uma gigante Torre de Babel!



sábado, 16 de julho de 2016

As pessoas cansam...


Ola meus queridos(as),

As pessoas cansam... essa é a verdade, nua e crua, as pessoas cansam. Cansam de investir, de acreditar, de tentar, de fazer de conta. Elas cansam, e um belo dia elas estão tão cansadas que existem duas opções, elas continuam cansadas e continuam cansadas ou colocam um ponto final. 

Eu cansei de tentar entender o que não faz sentido, eu cansei de me preocupar pelo que não me diz respeito, eu cansei de me cansar... Simples assim, hoje eu não me canso mais por nada disso. Eu me canso porque trabalhei o dia todo, porque não fui no supermercado e na reunião da escola do I. ao mesmo tempo, eu me canso porque já passei dos 40 e gosto de dormir um pouco mais no final de semana... Mas não me canso mais por qualquer outra coisa. 

Talvez seja um aprendizado, talvez eu me tornando um ser menos "cansado", ou chutando o balde mesmo! Precisa de muito hoje para me tirar do me centro, ou roubar meu sono. Talvez seja a idade, os anos... nunca gostei muito de escutar que o tempo, as experiências nos ensinassem mas hoje, não tenho como negar. E o que alguns anos atrás seria uma tragédia, hoje é apenas uma lombada no caminho, transponível, nada de mais... administrável. Resolvido. 

A proporção que as coisas tem ou não tem dependem de você, em qual momento da sua vida você está ou o quão cansada você está! 

P.S: Caiçara contando os dias para sua troca de ficha, não estou cansada dele não!!! Estou cansada de outras inúmeras coisas... Sua feijoada de sábado, seu carinho e compreensão continuam deliciosas!

sábado, 2 de julho de 2016

E lá vamos nós para a praia invernal


Ola meus queridos(as)

Trabalho novo, Mac novo... problemas velhos. E chegou as férias!!! Deles, pelo menos. Por alguma razão cósmica, nosso escritório em Londres atrasou tudo, o que significa que AQUI atrasou tudo também e, surpresa... alguns dias de folga! O que calhou, micro férias, e lá vou eu para o único lugar que sei ir, praia!

Estará frio?! Provavelmente. A água estará gelada? Certamente. O céu estará azul? Nem todos os dias...  mas é a praia! Meu refúgio, minha casa, salgada, arenosa, calmaria cheia de ressacas... não há outro lugar no universo aonde se entende melhor quem somos. Ou quem eu sou, não tenho como enganar o oceano com mentiras, nem fazer de contar que esta tudo bem para o vento terral que sopra no final da tarde, muito menos me esconder da maresia. São meus velhos amigos, cheios de sabedoria; sabedoria que eu jamais terei; então apenas escuto as ondas quebrando na praia, observo o horizonte sem fim na curvatura da Terra, abraço o vento salgado e enterro meus pés na areia. E por um micro segundo, faço parte desse todo; sem explicação.

Nem sempre o mundo faz sentido, alias nem sempre os dias fazem sentido... MAS tudo faz sentido no oceano! Ainda estamos aqui porque 30% de todos os gases de efeito estufa de origem antropogênica são absorvidos por ele (não sabemos até quando, todo sistema tem uma capacidade de suporte, e a acidificação de algumas áreas já é observada), porque ele ainda regula o clima com sua circulação termohalina (meio afetada ultimamente pelos últimos estudos comprovando o degelo na calota polar causando um aporte de água doce diminuído a salinidade), e por ai vai... Talvez faça um blog científico, mas ninguém aqui está muito interessado em saber como o balanço na equação da salinidade está afetando o processo de formação da NACW (North Atlantic Deep Water), o que compromete a distribuição de calor entre os hemisférios. Mas WHO CARES? Sei lá...EU (e meia dúzia de oceanógrafos e climatologistas por ai). 

Mas ainda temos o oceano para nós lembrar o que importa (por enquanto). Dele viemos...e sem ele não existimos, simples assim! Isso é algo que, de formas diferentes, sempre dividimos; eu e o Caiçara; o respeito e amor pelo mar... e nosso pequeno caminha nossos passos! É quase assustador escutar o Iago falando do mar, com tanto conhecimento e carinho (ele nem fez 5 anos), "mamãe, a baleia azul vai sumir se a gente não ajudar...", pois é, mais uma espécie na lista de espécie em extinção. São frases como essas que me ajudam, como mãe, à saber que estamos no caminho certo!

E o Caiçara? Contando os dias para seu primeiro ano limpo (acho que é em Agosto, não, pode ser Setembro...sei lá, eu nunca contei nada) MAS para ele parece ser um gigante evento, planejando sua troca de ficha. Talvez, porque o cara nunca conseguiu ficar um ano limpo mesmo... deve ser.  Estou estourando rojões? Não. Fico feliz por ele, e é isso. Alguns queridos agora devem não estar concordando comigo, poxa; o cara vai bater um ANO um ano limpo e você indiferente?! Não é bem assim... Vejo como um marco, o primeiro de vários que ele terá que ultrapassar, só isso. Mas é um marco importante a se comemorar... só isso. Continuo não estendendo nenhum tapete vermelho.

Como sempre disse, depois de um ano a gente conversa... já que ele esta chegando lá, talvez chegue a hora de conversar! 











sexta-feira, 24 de junho de 2016

Oliver não vai...


Ola meus queridos(as)

Porque o Oliver não vai?  Toda vez que pergunto porque o Oliver não vai sempre a mesma resposta... Organização aniversário do I., convites, cattering, mágico etc... MAS o Oliver não vai. Oliver é o amigo ou (arqui)inimigo do I. da escola, o Oliver bate de frente, o Oliver chuta o balde quando o I. chuta de volta, o Oliver é o I. ao contrário... O I. é o Batman mas o Oliver é o Coringa!!!! E os dois são maravilhosos e não seriam sem o outro.

E você? Tem um Oliver na sua vida? Eu tenho, a eterna dualidade entre o bem e o mau, o certo e o errado, e quanto eu já errei! E quanto já acertei também... E ele, meu Coringa, quantas vezes quis matá-lo, eliminá-lo, exterminá-lo... e quase ganhei! Mas no último segundo, a redenção, o  antídoto, o final feliz. As dualidades, não somos quem somos sem os opostos! 

É a natureza, não existe campo magnético sem o polo positivo e o negativo, não existe gravidade sem massa e aceleração, equilíbrio! A beleza que esta em cada gota de orvalho, cada flor que nasce por simplesmente nascer; cada por do sol que se acaba... tudo esta conectado, sem perceber fazemos parte de uma enorme rede, as vezes apenas nos esbarramos no metro ou nos tocamos na rua. Ou nos amamos, ou choramos dizendo adeus. Mas somos uma rede de pessoas e sentimentos, e isso nos faz únicos!

E se o Oliver vai ou não é irrelevante, mas ele existe... e nos ensina a ser também! 

terça-feira, 24 de maio de 2016

Se


Ola meus queridos(as)

Quantas vezes olhamos para trás imaginando o velho e bom SE....se eu tivesse feito isso, se eu tivesse feito aquilo, SE e se e se e se...O Se não ajuda muito depois que ele passou, O que foi feito, foi feito! E passar a vida imaginando o que o SE seria se não fosse, é quase uma tortura!

Mas, as vezes me pego pensando no Se... se eu tivesse escolhido a direita e não a esquerda, Se eu tivesse ficado, Se eu tivesse ido embora; sempre as escolhas. Pois o Se nada mais é do que as escolhas do que não fizemos. Não entendo muito tudo isso, destino talvez? 

Mas o SE é cruel quando remoído, alimentado, arrependido. Mas quem nunca se arrependeu de nada? 
Sabe aquele número da mega sena que você não jogou porque mudou de idéia? Será que o destino dita alguma coisa nas nossas vidas? Odeio pesar que sim, que nossas vidas são um gigante acaso de coincidências. 

Talvez seja, mas me recuso a aceitar. E Se fuder, fudeu...porque eu escolhi!

Talvez seja TPM brava, agravada pelo apartamento de cima que resolveu quebrar o piso inteiro (e quem aguenta marreta, britadeira e sei lá eu mais o que.. isso não é mais uma reforma, é construção ou destruição), mais um ser que deixa a sua cozinha parecendo Hiroshima depois de um spagetti com almôndegas... Ou seja apenas o meu SE... Se eu tivesse pulado pela janela, se eu tivesse me mudado para Thailandia, se eu manda-se todo mundo se fuder!  

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Intolerância


Ola meus queridos(as)

É com muita tristeza que observo uma gigante intolerância se instalando em nossa sociedade, e quanto mais ela cresce pior as relações humanas ficam. Tudo, hoje, é motivo de discussão, que devido a intolerância acaba escalando a agressividade verbal, e porque não dizer, física também.

O cara é branco, o cara é amarelo, o cara é preto, o cara é coxinha, o cara é pão com mortadela, o cara é gay, o cara é homofóbico, o cara tem dinheiro, o cara é pobre, o cara é sei lá eu o que... tudo é motivo para rotular. E se faz parte do seu grupo ótimo, senão joga pedra nele! O que aconteceu com a diversidade? O que aconteceu com o respeito ao outro? 

Quando nos tornamos juízes, promotores, advogados sem jurisdição, sem lei, sem constituição? O próximo passo (des)evolutivo é voltarmos aos clãs e sair na porrada impondo nossas verdades falhas e intolerantes...

Não cheguei lá, e espero nunca chegar MAS é com muita vergonha que relato algo que eu fiz. Odeio shopping, abomino porém, é um mal necessário, e ontem lá fui eu comprar um óculos de natação para o I. (o outro ele comeu, sério, mastigou) mais umas roupinhas de inverno, já que ele não cabe mais em calça nenhuma sem parecer um jeca-tatu! E como shopping é coisa do capeta, lá esta aquela promoção de edredon (vamos levar dois logo de uma vez), uns travesseiros, uns jogos de toalha e por ai vai.  Quando dei por mim era tanta sacola que mal conseguia andar pelos corredores (só os dois edredons ocupavam um espaço de duas pessoas). 

Passado das duas da tarde, fominha... odeio praça de alimentação, achei um pseudo restaurante (você se serve mas consegue sentar sem sair no braço com ninguém). Despejo as sacolas nas cadeiras, vou me servir, sento... 5 segundos depois veio uma senhorinha (que trabalhava lá recolhendo os pratos das mesas) tentando organizar minhas sacolas e coloca um edredon na mesa quase em cima do meu prato. Pronto, juntou o resto de TPM: Ei, o que você esta fazendo? Tentando ajudar, as sacolas estam atrapalhando o caminho. É mesmo? Então você coloca em cima da mesa? O edredon vai almoçar em cima do meu prato também? Resumindo, fui super grossa.

A comida foi ficando amarga, me senti tão mal por ter " destratado" aquela senhorinha... fiquei tão constrangida comigo mesma, nem terminei de almoçar direito. Lá veio ela recolher meu prato, segurei no braço dela e pedi desculpas, a senhora me desculpe não quis gritar com você... Ela olhou para mim, com seu olhar triste, desprovido de brilho e sonhos, seu rosto sofrido, murcho e disse sem nenhuma emoção: "Tudo bem, estou acostumada a ser maltratada pelos clientes".

Quis morrer, cavar um buraco... não consegui dizer mais nada, fiquei paralisada, recolhi as mil sacolas e sai correndo querendo pular pela primeira janela que encontrasse. É isso que estamos (ou eu estou) me tornando? E pior, a senhorinha simplesmente achou normal, mais um cliente a maltratando... 

Sem saber, essa senhorinha me ensinou uma valiosa lição... Espero ter apreendido! 


quarta-feira, 18 de maio de 2016

O tempo e o vento


Ola meus queridos(as)

Confesso, Érico Veríssimo foi meu companheiro e seus livros habitaram minha imaginação por vários anos; principalmente quando descobri a beleza poética sulista dos pampas, seus nevoeiros matinais, sua geada fina e branca pintando a paisagem, o por do sol tardio avermelhado, o chimarrão amargo e quente... o silêncio do tempo e o vento, quando sopra da "banda oriental" forte, constante, ensurdecedor! E como dizia Ana Terra: "Sempre que me acontece alguma coisa importante, esta ventando". 

E como diz o I. "O vento esta ventando", nada muito poético vindo do meu pequeno de 4 anos escutando o vento no décimo oitavo andar deste arranha-céu que nada lembra os pampas e seus minuanos invernais e meus anos gaudérios! Sério, até um lindo vestido de prenda eu tinha, uma bomba de chimarrão de prata herdada de um enorme e já desencarnado amigo, a cúia mais curtida de todo o Rio Grande, as tardes preguiçosas na varanda, um fogão a lenha que mais esfumaçava a sala do que aquecia (mas era uma relíquia), os churrascos infindáveis de apara de costela (picanha é para os principiantes)... tudo no sul é intenso, amplo, contemplativo. E como dizia Bibiana Terra: "Parece que o tempo maneia o vento"...

E o tempo mais uma vez me ensina tanto, calma. Sou uma pessoa ansiosa por natureza, o que é péssimo por si só, mas a lenta (ou as vezes apressada) passagem do tempo me ensina a ter calma. Tudo tem seu tempo, é o que dizem... nunca entendi muito isso, pois queria EU atropelar o tempo. Talvez porque não soubesse valorizar o aqui e agora, queria que o tempo passasse rápido e transforma-se o agora em passado.

Hoje eu gosto do agora, e que o agora vire passado no seu tempo... O agora é bom!

E quando o tempo passar e o vento "ventar" quero olhar para o agora e sentir saudades desse tempo bom!

P.S: E o tempo realmente passa, essa semana o Caiçara, enquanto salteava as batatas e grelhava o atum com crosta de gergelim para a janta, casualmente segurou minha cintura na cozinha enquanto eu lavava a salada e sussurrou no meu ouvido: "Hoje fazem 10 meses que estou em recuperação, só por hoje". Eu simplesmente o levei para cama e as batatas e o atum queimaram... ainda bem que temos delivery a qualquer hora nesta metrópole!!!! 




sexta-feira, 1 de abril de 2016

As mãos que me chulaparam


Ola meus queridos(as)

Este post é para você, amiga, querida, guerreira que ainda carrega o peso do mundo nas costas... Este post é para você, que acorda no meio da madruga (ou nem dorme), desesperada, sem saber se essa infindável noite um dia terminará... Este post é para você, que sofre escondida, chora no banheiro, não atende o telefone, esqueceu de pentear o cabelo... Este post é para você, que teve sua alma tão machucada que não acredita em mais nada nem ninguém... Este post é para você, que ainda acha que vai salvá-lo das garras da adicção e consome cada segundo da sua vida nesta missão impossível... Este post é para você que sofre porque ama alguém que é um dependente químico.

Eu já estive aí, neste limbo, nesta dor eterna, nesta escuridão sem fim... (e nada me garanta que não possa voltar, por isso me policio diariamente; a codependência também é traiçoeira). Eu já estive ai, me agarrando com unhas e dentes as migalhas de esperança que alguns poucos raios de sol traziam pela persiana da janela fechada. Eu já estive ai, minhocando planos mirabolantes para que ele não usa-se mais drogas... Eu já estive ai, agachada atrás da porta com medo, apavorada! Eu já estive ai, escondendo minha bolsa, a chave do carro... Eu já estive ai, sendo refém dentro da minha própria casa. Eu já estive ai, morrendo, agonizando, sangrando lentamente a cada dia... deixando meus sonhos escorrerem pelos dedos. Eu já estive ai, perguntando o porque, por que comigo? 

Quem me chulapou e me acordou desse pesadelo foram várias mãos (e pés na bunda também, só assim eu me mexia), e sou grata a todas elas, MAS antes eu precisei colocar minha cara para bater.... e não foi fácil. Vocês, meus queridos, que me acompanham neste espaço há uns anos sabem da minha trajetória, meus altos e baixos; e finalmente minha busca por equilíbrio. Fazer as pazes comigo mesma! As vezes ainda fico meio brigada comigo, mas não dura muito porque eu gosto deste eu; é um eu chato, birrento, arredio, impulsivo, insano (as vezes) mas é uma parte do meu "eu" também. E assim me desculpo, e me perdoou... O que me permiti desculpar e perdoar os que amamos também! 

Sem essas "mãos" que me chulaparam, me ampararam, me abraçaram... a estória seria outra e, talvez, eu não estivesse mais aqui, cultivando os sonhos e amando tudo e todos!!!  E acreditando, não no papai noel, mas na humanidade... no ser humano e sua capacidade de fazer o bem neste planeta. Como estamos carente de "mãos" amigas! Se a minha servir, estendo minha mão a você, minha querida....

Quem "tem" tem medo


Ola meus queridos(as)

Mais uma vez, em tempos de crise, o Caiçara que nasceu com a bunda para Lua, conseguiu um ótimo emprego numa rede multinacional de restaurantes, asian fusion cuisine (esta na moda e eu adoro!!!!). Agora ele apreende a fazer o melhor wonton do universo! O salário não é lá essas coisas, mas a empresa é grande com restaurantes em vários países (ele até se animou a apreender inglês) com plano de carreira e benefícios; e se ele realmente se dedicar e não meter o pé na jaca, o vejo como sous chef em um ano.

Fiquei feliz por ele, sua auto estima, se ocupar com o que gosta MAS não posso deixar de pensar aqui com meus botões: será que vai desta vez? Quantas mais oportunidades a vida vai lhe dar? Já foram tantas indas e vindas... Porém, sinto uma diferença; seu comportamento. Não é manipulação, é genuíno; ele se preocupa; ele nos ama; ele quer viver em paz. Um tempo atrás enquanto conversávamos, ele, muito tranquilo disse, que simplesmente não podia mais usar; seu organismo não aguenta mais e provavelmente ele morreria. Sei lá... vaso ruim não quebra, mas senti um verdadeiro comprometimento DELE com ele mesmo, com sua vida.

Adotei uma outra postura também já faz um bom tempo, não passo mais meio segundo da minha vida me preocupada com ele... não é egoísmo, longe disso; adoro dividir minha vida com ele, e vice-versa (espero eu!). Ele pode recair e voltar a fumar crack, pode; é uma possibilidade; ele pode continuar investindo na sua recuperação e continuar limpo; pode, também é uma possibilidade... Sei, e vocês também, infelizmente, o quanto traiçoeira é a dependência química; porém sinto que ele não mais a menospreza, alias, porque não dizer, ele tem medo dela pois sabe que as chances dela ganhar são muito maiores que as dele de vencer. Inúmeras vezes, ele simplesmente flertava com ela, brincava; mas algo mudou, hoje, ele a respeita e como dizem, quem "tem" tem medo! 


quarta-feira, 30 de março de 2016

Não temos mais "todo o tempo do mundo"


Ola meus queridos(as)

Depois de muito tempo, acho que baixei a guarda e simplesmente me permiti aproveitar a companhia da minha mãe num almoço de Páscoa. Depois de muito tempo, olhei para ela e notei inúmeras novas rugas (será que passei tanto tempo sem "olhar" para ela ou as rugas surgiram ontem? Mais provável a primeira hipótese). Depois de muito tempo, olhei para ela e vi sua dificuldade ao caminhar quase mancando; seu armário do banheiro cheio de analgésicos e uma ampola de morfina (sabia que tinha sido diagnósticada com displasia coxo-femural mas não falei nada, nem uma palavra). Depois de muito tempo, olhei para ela e sua vontade de simplesmente me agradar (ela até comprou numa cerveja para mim!), agradar o I. com o ovo de Páscoa mais caro da Kopenhagen e simplesmente conversar, passar um tempo junto.

Tempo que talvez não seja eterno; bom, nunca foi eterno mas contemplar o fato que não temos mais "todo tempo do mundo", como dizia Renato Russo, é revelador. Prometi, silenciosamente, a mim mesma que não vou desperdiçar mais o tempo que nos resta, vou visitá-la com mais frequência, vou traze-lá de forma mais presente a minha vida e do I., vou convidá-la para almoçar, ir no zoológico, no parquinho, no cinema... enfim, deixar minhas picuínhas e mágoas de lado e parar de perder tempo.

O Caiçara, uma vez me disse: Você não sabe a dor que dói uma saudade. Ele fala isso sempre quando se refere aos pais (os dois já falecidos) de uma forma muito melancólica... Quando chegar a minha vez de sentir a "dor que dói uma saudade" espero poder ter saudades do tempo que tivemos juntos e não do tempo que desperdicei.

    


sábado, 26 de março de 2016

Corrupção I


Ola meus queridos(as)

Não vou fazer deste post nenhuma bandeira política MAS não posso deixar de expressar minha opinião frente ao caos político/econômico e porque não ousar e dizer, emocional que estamos vivendo neste país. Para os desligados, estamos enfrentando, provavelmente, a maior investigação de corrupção deste país realizada pela polícia federal junto ao ministério público. A cada nova fase, mais e mais pessoas são citadas, parece um buraco sem fim... a sensação que tenho é que não se salva ninguém no planalto (ou fora dele)!

É desanimador quando, como cidadãos, somos tratados com desrespeito pelo governo que elegemos (bom, eu particularmente não, pois não votei nesta corja) MAS o povo elegeu, não só desrespeito escutando as "conversas" telefônicas grampeadas, mas roubados! É tanto zero que já perdi a conta, milhões, bilhões... queridos, é NOSSO dinheiro, é dinheiro público que foi roubado, desviado, enviado para Suiça para pagar propina. É dinheiro da educação, da saúde, do transporte público, da segurança sendo utilizado num esquema mafioso delapidando o país... e quais são as consequências concretas de tudo isso? Bom, você querido que paga as contas no final do mês sabe muito bem, inflação, desemprego. Bom, você querido que precisa de um atendimento médico sabe muito bem o tamanho da fila e o péssimo atendimento hospitalar e falta de medicamentos; você querido que conseguiu (ufa) uma vaga na escola pública para o seu filho sabe muito bem, ensino de péssima qualidade... e por ai vai, então não preciso me delongar aos reais estragos que essa política extrativismo instaurada pelo governo causou e causa ao povo. 

Porém, numa gigante manobra de marketing, o governo clama ser alvo de perseguição do poder "ditatorial" do judiciário... e tem gente que acredita (bom, até ai, tem gente que acredita em papai noel), gerando uma enorme bipolarização da sociedade. Não considerando os extremos, vejo com certa esperança as manifestações pois querendo ou não, o gigante adormecido (que dormia em braço esplendido à décadas) acorda lentamente da sua letargia ao sonoro som do Sr. Molusco mandando enfiar o processo no CÚ... esse "cú" é o nosso; e aí, quem não acorda com uma dedada no cú?!!! 

Mas a corrupção é antiga na estória desse país... elaboro melhor no próximo post!

sábado, 5 de março de 2016

Anestesiada


Ola meus queridos(as)

Acordei com uma enorme vontade de escrever, sei que ando meio ausente deste nosso cantinho, na verdade acho que ando ausente de inúmeras coisas na minha vida. Sabe quando você esta aqui MAS não esta ao mesmo tempo? Pronto, agora me internam para valer! É uma sensação de dirigir no piloto automático, repetir um ritual sem pensar, tomar banho porque é isso que você faz todo dia SEM realmente sentir aquela água quentinha caindo nas suas costas, o cheiro gostoso do shampoo, o vapor embaçando o espelho... tudo sem gosto, sem cor, e porque não ousar e dizer, sem alma. 

Como se eu estivesse anestesiada, sem sentir nada. Outro dia conversando com o Caiçara ele me perguntou se eu estava triste, não, você esta feliz? Também não... Então você esta sentindo o quê? Caiu a ficha, nada; estou sentindo a "falta" de sentir. Depois dessa revelação, digamos assim, fiz uma análise racional se há alguma razão concreta, também não. Cogitei procurar um psiquiatra, talvez esteja deprimida; mas já sofri de depressão antes e não é isso... quando se esta deprimido você pelo menos sente alguma coisa, mesmo que seja sofrimento, angustia, medo MAS você sente. Será alguma crise existencial tardia dos 40 anos? Sei lá.

O Caiçara faz o seu melhor para me ajudar a atravessar essa fase anestesiada (espero que seja apenas uma fase) onde tudo tanto faz quanto tanto fez, eu que sempre fui tão opinada, hoje estou indiferente, tanto faz se como sushi ou pizza, socorro! 

Espero que essa vontade de voltar a escrever seja o (re)começo, eu acordando deste coma... eu voltando a sentir. 


sábado, 23 de janeiro de 2016

Feliz tudo atrasado!!!


Ola meus queridos(as)

Feliz Natal, Feliz Ano Novo... feliz vida. Não que a minha seja a mais "feliz" da face da terra mas aprendi, e venho aprendendo que posso fazer meus dias como eu quiser. Ainda sinto muito ressentimento, as vezes dor, mas passa e meses na praia ajudam bastante!

Dormir escutando as ondas acalentando seu sono, acordar com pássaros enlouquecidos cantando, rodeado de amigos queridos, seu filho pelado correndo (o I. virou índio, não sei como argumentar que semana que vêm tudo volta a rotina, escola, trabalho, roupa...), e o sempre amigo fiel, infindável na sua sabedoria; nas tempestades e nas calmarias: o mar! O oceano que me acompanha sempre. E com ele a certeza que o ser humano vale a pena, seja ele quem for... E a maré leva e trás... Cabe a você aceitar ou não, sempre as escolhas.

Aproximadamente seis meses atrás (não sou muito de contar o tempo), recebo uma ligação do nada, honestamente achei que ele, o Caiçara tinha morrido ou sei lá eu o que, um SOS... uma garrafa perdida no oceano que chega ao seu destino, relutei, afinal de contas gato escaldado tem medo de água fria e EU tinha mudado, eu mudei, sem perceber, lentamente... mas não fui eu apenas que mudei, e isso fez a diferença.

Nós mudamos, o nascer do sol hoje tem um significado único (apesar de achar um saco esse negócio de "só por hoje" e não ter colocado meu pé numa sala à séculos), cada um descobriu uma forma de conviver com seus demônios, alias talvez essa seja a beleza do ser humano, somos imperfeitos, estamos sempre buscando o inatingível (pelo menos neste plano material).... e um dia simplesmente entendemos que "é isso ai". Não é apenas o I. que nos une... 

Na nossa casa de praia, o cajueiro que meu avô plantou a mil anos atrás no quintal, quebrou um enorme galho, por algumas boas horas fique estática, como se um pedaço do meu avó tivesse se quebrado, como se aquele galho fosse essencial para que minhas memórias dele continuassem a existir. Uma enorme profunda tristeza tomou conta de mim, e sentei na grama, ao pé daquele velho cajueiro e chorei. Meu avó plantou aquele cajueiro muito antes que eu nascesse... era como se ele estivesse lá enquanto o cajueiro estivesse também (e meu avó morreu a mais de 20 anos atrás). Cresci ali naquele momento de perda, amparada pelo Caiçara, beijei o que sobrou do cajueiro e fui tomar uma cerveja (sozinha, o Caiçara não bebe mais).

E que seja assim a vida... mas meu avô, agora vive dentro de mim, e o Caiçara também por dividir um momento tão único e solidário. No fundo, é isso que levámos... o amor e respeito pelo outro! Pois não se pode amar alguém sem respeito e confiança.

P.S: Se alguém estiver contando (eu não), lá se vão 6 meses (ou mais). Eu já falei, depois de um ano, a gente conversa (até troco a ficha dele se ele quiser).