quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Época boa


Ola meus queridos(as)

Aqui estou eu literalmente chapada de tanto remédio, no décimo sonho quando o céu resolveu despencar e acordar o I., assustando com os trovões e raios... E lá fui eu, zumbi, colocá-lo na minha cama, assegurar que esta tudo bem... e o meu sono sumiu (daqui a pouco ele volta, já esta quase na hora de tomar o antiviral mesmo).

E lembrei de uma época boa, quando conheci o Caiçara, nem sempre tudo foi miserável e dolorido... houve um tempo que (ele já era DQ, sempre foi mas eu nunca soube) meu coração batia mais rápido quando descia a serra para encontrá-lo, meu corpo tremia quando ele me abraçava, meus olhos se fechavam quando ele me beijava e eu era transportada para outro universo! 

E lembrei de uma época boa, quando morávamos na nossa casa no Ruínas, do lado da praia, e escutávamos as ondas quebrando na praia antes de dormir... nossa casa, onde recebíamos nossos amigos queridos, tantos churrascos, jantares... amor, carinho, cuidado com o outro, consideração. As caminhadas na praia, com nosso sempre fiel escudeiro Drago, o melhor cachorro/pessoa do mundo!!! Nossos amigos queridos (de até hoje), nossa praia, as madrugadas de calor quando tomávamos banho pelados no chuveiro de praia ou simplesmente corríamos pelados para o mar, iluminado pela lua, as noites contando estrelas cadentes fazendo pedidos impossíveis... As manhãs, quando ele abria a janela do quarto e a primeira coisa que eu via abrindo os olhos era aquela primavera linda, toda florida e o céu único, azul, ensolarado. E dava aquela preguiça de ficar deitada mais um pouco, e ele me beijava e fazíamos amor...

E lembrei de uma época boa, quando o I. nasceu, e ele acordava de madrugada para pegá-lo no seu berço e trazer até mim (deitada exausta), e mamar... os banhos que ele deu (tudo bem, tivemos alguns acidentes mas nada sério), as papinhas que ele preparou, as fraldas que ele trocou, a maluquice das cólicas (dava vontade de jogar o I. na parede), e depois os dentinhos nascendo... Sim, não posso apagar tudo isso, ele esteve lá ao meu lado.

E lembrei de uma época boa, quando nosso amor era tudo, nossa casinha na beira da praia era tudo, com um olhar ele sabia e eu sabia. Mas nos perdemos, não nos víamos mais, e nossa casinha da praia também deixou de existir... 

E hoje, nesta noite de tempestade eu me pergunto, que tempestade ele enfrenta? Onde ele esta? Será que está inteiro? Melhor, será que ele esta vivo? Alias o que é estar vivo quando você é um escravo da droga? Será que ele lembra dessa época boa, ou tudo foi apagado pela droga? Será que ainda existe algum resquício de humanidade dentro dele, ou simplesmente ele se tornou mais um fantasma desesperado, procurando pela próxima pedra? Será que o Caiçara simplesmente vai virar mais uma estatística nesta luta infindável, que poucos ganham e muitos e digo, MUITOS perdem?




O que seria do azul sem o arco íris?


Ola meus queridos(as)

Nestes dias de molho em casa, muito tempo para não fazer nada (as vezes a medicação me deixa meio zumbi mesmo, e hiberno como um urso polar), a gente lê um livro, assisti um filme e pensa (e depois dorme de novo, esse antiviral é bom mesmo)!!!

Conversando com minha irmã de coração sobre as dificuldades de cuidar do I. nestes últimos dias (até no meu pai ele ficou enquanto estava internada), ela disse: não deve ser fácil ser mãe solteira... Fiquei pensando sobre isso. A sociedade ainda tem um preconceito básico com o conceito de família. Ser mãe não é fácil, e ponto final (se a mãe é solteira, divorciada, casada, lésbica, transexual, amarela, negra é a mesma coisa, não é fácil igual). A diferença é a rede de apóio ao redor, que no meu caso, como mãe solteira,  é bem reduzida. Na verdade até o adjetivo esta errado, pois deveria ser mãe divorciada e não solteira... Vai entender!

O meu círculo de amigos e pessoas com as quais convivo, talvez seja diferenciados, pois ser mãe solteira/divorciada não faz a mínima diferença para eles, inclusive na escolinha atual do I. onde grande parte das famílias não se enquadram no comercial de margarina; alias umas semanas atrás o I. foi convidado para a festinha de aniversário de um dos amiguinhos do grupo e conheci os dois pais  adotivos dele (um advogado e um artista plástico, alias os dois muito gatos...que desperdício!). O que eu vejo em comum em todos esses pais/mães? Amor, amor pelo seu filho, respeito pelo outro, carinho, compreensão e o desejo de um mundo mais justo, menos poluído, mais humano...

Porque a sociedade é tão relutante as mudanças e se sente tão ameaçada com esses novos conceitos de família? Simples, medo. Medo que o que se considera o alicerce fundamental da sociedade (que é a família) mude, que outros "alicerces" sejam legitimados, medo do que eles não entendem... medo de perder o seus status de "alicerce". Quantos "casais" viveram a vida inteira juntos porque era isso que se fazia (a mulher de saco cheio a séculos, o cara traindo ou descobrindo que era gay ou sei lá eu o   que) MAS ninguém se separava, estamos fadados a viver infelizes até que a morte nos separe! Era melhor ser viúva infeliz (ou feliz, já que o infeliz morreu finalmente) do que divorciada feliz... Socorro, né? Mas em pleno século 21, ainda temos manifestações (principalmente de cunho religioso, pois afinal de contas, eles são os detentores da palavra de Deus (uh uh!!!) preconceituosas, maldosas, cruéis... e desculpe, mas apologia ao ódio não é liberdade de expressão. Então, meu amigo evangélico que acha que eu vou queimar no inferno porque profano seu sagrado conceito de família, porque sou uma fornicadora pecadora pior que Jezebel, vai se fuder (se é que você sabe o que é isso) e nos vemos lá em cima, ou não!!! 

Ainda bem, que lentamente, um passo de cada vez, as coisas mudam... e hoje, digo para quem quiser escutar, sou mãe solteira/divorciada SIM, e tudo bem! Meu filho crescerá com amor... meu filho respeita a diversidade, meu filho não acha nada estranho quando são dois pais, duas mães, uma mãe, um pai, ou três Xs... Ou se você é negro, amarelo, azul ou cor de rosa. Pois isso eu ensino a ele todo dia, todos somos iguais e merecemos ser respeitados, e fazemos parte desse mundo maravilhoso cheio de diversidades! O que seria do azul sem o verde?!!! O que seria do azul sem o arco íris?!!!

P.S: E agora, você meu querido leitor deveria estar se perguntando, se respeito tanto a diversidade porque não o amigo evangélico fanático que quer me ver queimando no inferno? Pois é, não cheguei lá... e talvez nem chegue, talvez caiba a geração do I. ter essa generosidade nos seus corações, pois no meu não há. Continuo sendo alérgica... melhor não chegar perto.  


terça-feira, 20 de outubro de 2015

Trégua


Ola meus queridos(as)

Muito obrigado pelo carinho de todos, foram dias um pouco confusos, a velha batalha entre a razão e a emoção, o coração e o cérebro; e no meio disso tudo peguei meningite; precisei ficar uns dias internada... Enfim, estou me recuperando, já de volta em casa MAS muito cansada, levei o I. na escolinha hoje de manhã, são apenas duas quadras, duas quadras que mais pareciam duas maratonas.  Fui preparar o café e no final parecia que eu tinha participado de um decathlon... Tudo dói e cansa muito. Mas vou melhorando aos poucos, mais uns dias e estou nova em folha!

O I. ficou com meu pai uns dias (que graças à Deus, tinha chego de viagem), mais uma vez atestando como é difícil não ter um backup, em último caso pediria para minha mãe (mas ela não tem estrutura emocional de cuidar de uma criança, sério, ela simplesmente entra em parafuso no primeiro chilique dele), a super babá numa emergência ficaria sim, mas não acho justo complicar mais ainda a vida dela, né? E o Caiçara... ninguém sabe do seu paradeiro, pelo menos eu não sei... Faz umas boas semanas que ele nem liga (e não só uma ligação telefônica, nem liga MESMO, acho eu). Mas quem liga e MUITO é meu meteorologista, quando soube que estava internada, ficou genuinamente preocupado, inclusive com o I. e tenho certeza que se ele pudesse, teria pego o primeiro vôo para Sampa.

Pelo menos a clássica batalha interna deu uma trégua temporária, para que eu possa me recuperar!




quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Banho maria


Ola meus queridos(as)

Como eu queria amar quem me ama... Como eu gostaria de convencer meu coração teimoso que essa é a melhor escolha, mas como? Hoje, durante nossa tradicional escapadinha semanal, eu e minha irmã de coração conversamos MUITO, sempre bom demais sua companhia, seu carinho, suas chulapadas... Ninguém me conhece melhor que ela, alias acho que ela me conhece melhor do que eu mesma, essa é a nossa amizade! Talvez seja o momento de, simplesmente, ficar um pouco sozinha. Eu gosto muito, demais do meu meteorologista MAS eu não o amo... Estou muito confusa, preciso de um tempo para mim. As vezes, nem sei direito o que sinto... é tudo tão maluco! 

O Caiçara ainda é muito presente em mim, e meu meteorologista, por mais que seja a aposta certa (sabe homem que dorme de pijama, então... é para casar mesmo) não me incendeia, é banho maria, gostoso, confortável mas não entra em ebulição. E algo dentro de mim  continua querendo ver o circo pegar fogo, parece que eu não apreendendo mesmo; ou talvez seja minha natureza inquieta que não se contenta com a média, com o "ok", com o "tudo bem"... Eu quero o desvio padrão, a anomalia, o BOM PARA CARALHO!!! 

Eu não me contento em simplesmente sair da Terra por alguns segundos, eu quero ir até Marte e morar lá!!! Eu não me contento com duas bolachas, eu quero o pacote inteiro!!! Eu não me contento com água morna, eu quero ela pelando! Sou ambiciosa, sou gulosa e vou acabar me queimando... (de novo).

Meu, o que esta de errado comigo? Porque não simplesmente ser feliz com o que tenho, que já é muito?!! Porque essa sensação de insatisfação? Porque essa vontade de arrancar a roupa e sair pelada que nem uma louca pela rua? Porque esse desejo de viver enlouquecidamente agora já? Porque esse desejo de falar Caiçara vêm, foda-se... eu sei que vou me fuder de novo, mas vêm me incendiar e destruir meu mundinho de novo. 

P.S: Preciso voltar urgentemente para uma psicanálise, só a psicóloga não esta dando conta... é psiquiatra mesmo! E não qualquer psiquiatra para analisar esse caos aqui dentro...

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Final (não) feliz


Ola meus queridos(as)

Momento de silenciar, escutar o que meu "ser" quer dizer, aquela pequena voz dentro de nós... quantas vezes o barulho externo é tão alto, que ela não é escutada. 

Momento de parar, refletir, meditar, pensar, conectar... e tomar a melhor decisão. Muitas vezes, impulsivamente, empurramos o carro ladeira a baixo por simplesmente não conseguir mais lidar com ele, parado, estacionado ali.

No fundo, muitas das minhas "decisões" são baseadas numa gigante culpa que sinto pelas escolhas erradas, numa tentativa de reparar, preencher o buraco... Mas não tem como voltar atrás, não tem como mudar o que ficou no ontem... Eu, continuo sendo meu pior inimigo, me flagelando, me punindo, me culpando, me atormentando. Preciso me perdoar, fazer as pazes comigo mesma; e abraçar essa vida maravilhosa que eu tenho; esse filho lindo e carinhoso, essa família solidária e compreensiva, esse meteorologista companheiro em todas as tempestades, meus poucos e amados amigos! Preciso simplesmente parar... olhar ao meu redor, ser grata e abraçar essa rede de amor e carinho ao meu redor.

Não deu certo, eu tentei, eu amei, eu me entreguei, eu me afundei, eu me podei, eu me anulei, eu acreditei... eu ajudei, eu odiei, eu pirei, eu cansei, eu desisti! E todo ponto final é doloroso, principalmente quando o final não é feliz.

P.S: Se eu falar que não penso mais no Caiçara, estaria mentindo. Se eu falar que ele não é mais nada para mim, estaria mentindo. Se eu falar que não desejo ele na minha cama, estaria mentindo. Se eu falar que não sinto sua falta, estaria mentindo...

P.S: Porque todo grande amor acaba assim?!!!

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A dor


Ola meus queridos(as)

Hoje tomei uma decisão muito difícil, não por mágoa ou ressentimento, mas por amor... amor ao meu filho, a mim, a nossa vida. Estou entrando com um processo de perda de paternidade... é isso mesmo meus queridos, o Caiçara deixará de ser pai do I. Seu nome não existirá na certidão de nascimento, ele não existirá mais em nenhum papel... e em lugar nenhum. Dói, muito, bastante mas deve ser feito!

Oficializar o que já existe, o I. não tem um pai... então porque continuar com essa babaquice? Ele tem um gene e nada mais do Caiçara. Devido as circunstâncias, o processo judicial não será muito complicado; provavelmente ele não abrirá mão de livre e espontânea vontade mas existem outros meios burocráticos. Ele não merece ser o pai do I.

Alguns queridos podem estar se perguntando porque levar as coisas ao extremo, ao ponto de excluí-lo até da certidão de nascimento do I.? Porque começar uma cruzada que será longa, árdua e dolorida? Bom, primeiro porque eu quero e posso. Alguns queridos podem se questionar se o que eu quero é o melhor para o I. Certamente é o melhor para mim... o mínimo que posso fazer para tentar reparar um gigante erro. Segundo, se por alguma merda do destino eu morrer amanhã, a guarda do I. passa automaticamente para um dependente químico sem a mínima condição de cuidar dele e muito menos de uma criança, simples assim. Então, se ele não for mais o pai, automaticamente a guarda o I. passa para os meus pais ou minha irmã, caso eu venha a falecer. Claro que não estou pensando em morrer tão cedo, mas sei la... para morrer basta estar vivo, e seguro morreu de velho.

Pode parecer calculista e frio, e é! Mas a última coisa que quero, é meu filho amado sendo criado por um bando de gente louca morando num manicômio, e passando necessidade. Ele merece um futuro que não é esse (mesmo sem pai)!!!

Sei que muitos questionarão se eu tenho o direito de privar o I. de ter um pai, bom, ele já não têm um,  logo não faz a mínima diferença na presente situação... tudo bem, mas as coisas podem mudar, ele pode entrar em recuperação e blablabla... pode (e deve) mas ninguém vai ficar esperando por isso. Ou talvez, se isso realmente acontecer, muito já foi perdido e nada poderá se recuperar (mesmo ele estando em recuperação...sinto muito). E juridicamente, não quero que ele tenha direito a NADA! Uma vez que nunca cumpriu com seus deveres...


Delete


Ola meus queridos(as)

Como seria bom se simplesmente tivéssemos uma tecla "delete". Assim convenientemente, apagaríamos acontecimentos, sentimentos, pessoas das nossas vidas... Mas não funciona assim, infelizmente. Precisamos lidar diariamente com tudo isso que "não" queremos. Alguns se contentarão em simplesmente aceitar que vivemos o que vivemos pois é necessário para nossa evolução espiritual, outros porque acreditam em destino ou sei lá eu o que... E eu, que não tenho tanta certeza assim de nada? 

Gostaria de aceitar que as coisas aconteceram por uma razão, mas que razão é essa? Hoje eu sou uma pessoa melhor porque essa merda de dependência química bateu na minha porta? Acho que não! Talvez eu dê mais valor para algumas coisas que antes eram irrelevantes? Não sei. Ter convivido e amado um dependente químico tornou a minha vida mais significativa e frutífera? Nem a pau. 

Se existisse essa tecla mágica, eu voltaria lá trás e deletaria o dia que conheci o Caiçara da minha vida. Se você encontrasse essa tecla mágica, o que você deletaria da sua vida?

Mas o delete não existe, e precisamos conviver com as consequências das nossas escolhas... Eu só acho, que as vezes, as escolhas são feitas sem o conhecimento de todos os dados, ou seja, você não tem toda a informação disponível para fazer uma escolha sólida e racional. Se eu soubesse, lá trás, que ele era um dependente químico, teria escolhido ficar com ele? Claro que não!

Mas é isso ai meus queridos, o que temos é o hoje que podemos fazer diferente, escolhendo um amanhã melhor! E com tranquilidade, transparência, conhecimento e racionalidade, provavelmente faremos as escolhas certas...




segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Dias das crianças


Ola meus queridos(as)

É apenas uma data comercial, mas existe uma expectativa pelo lado da criança... O I. escolheu seu presente (econômico e educativo por incrível que pareça), e sem muito auê passamos o dia tranquilo em ótima companhia. Meu meteorologista mostrou seus dotes culinários (preparando um carbonara maravilhoso) e parentais (brincando com o I.).

Em nenhum momento o I. perguntou pelo pai, alias o Caiçara não se deu o trabalho nem de ligar (mandar um presentinho então, nem pensar!). E assim cada um faz as suas escolhas... Quem ficou chateada fui eu, mas no fundo, eu não esperava nada diferente dele. Tão previsível! 

E aos poucos vou entendendo como a "criança" se adapta rapidamente à outras realidades, quem se prende a velha realidade somos nós, adultos. Quem lamenta, quem sente, quem fica triste ou magoado, somos nós adultos... a criança ainda não construiu realidade nenhuma, tudo é mudança, tudo é novo, tudo é único e essa é a realidade dela, mutante, aberta, sem fronteiras ou limites! O mundo é um playground a ser explorado. Cada vez mais entendo isso, e fica mais fácil para mim; meu filho é feliz, ele não sofre porque seu pai é um dependente químico que nem liga no dia das crianças... para ele "essa" realidade não existe (só para mim)!

Claro que ele ainda é pequeno, e crescendo sua realidade também "crescerá" MAS espero poder estar sempre ao seu lado neste caminho, e apoiá-lo na difícil tarefa de "entender" as outras realidades, por mais absurdas que elas possam ser.

Mas a minha realidade hoje é essa, e hoje, foi mais um dia bom junto das pessoas que amo!!!

P.S: O dia foi das crianças, mas a mamãe também ganhou presente, linda tornozeleira de estrelas!!!

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Castelos de areia


Ola meus queridos(as)

Saudades de escrever... saudades de vocês! Como é bom voltar a sentir aquele friozinho na barriga, aquela ansiedade básica, aquela saudade. Como é bom viver em paz (claro, com todas as nossas dificuldades e problemas QUE são apenas dificuldades e problemas e não nenhuma gigante catástrofe), sem brincar de montanha russa, alias sem brincar de nada... ser transparente, ser única, ser você! Ser respeitada e respeitar, ser cuidada e cuidar, reciprocidade, cumplicidade, carinho, confiança e, acima de tudo, a preocupação com os sentimentos do outro. Sem expectativas, sem promessas de amor eterno; mas cultivando o que foi plantado a tantos anos atrás, nos (re)conhecendo, nos (re)encontrando, nos admirando, nos surpreendendo, nos superando e gradualmente, tijolo por tijolo, construindo uma base sólida para uma relação madura, e quem sabe, para hoje, amanhã e sempre. 

Não, não é nenhuma paixão adolescental avassaladora, que faz você perder a cabeça ou noites de sono, pelo contrário; é um amor mútuo, maduro, que têm a sabedoria do tempo, de tudo que já vivemos até hoje, é um amor com estória, um livro de várias páginas e que ainda não chegou no final; e assim escrevemos o "nosso" final...  Nos permitimos voltar à escrever nosso livro que tínhamos abandonado a muitos anos, por circunstâncias banais da vida, caminhos, escolhas... que hoje, acredito que precisávamos ter vivido para chegar AQUI, nesta encruzilhada, e nos re-encontrar e escolher qual caminho seguir juntos. 

Nos permitimos voltar ao velho projeto de construção, dá trabalho, toma tempo (e talvez dure uma vida toda); mas não construo mais castelos de areia; eles são lindos, frágeis, perenes e na primeira onda, destruídos e lá vai você construir outro, e outro e mais outro a cada tempestade. Não construo mais castelos de areia...

Precisei construir inúmeros castelos de areia antes de chegar numa casinha de tijolo, que nada nem ninguém destrói! 

Meus queridos, não desistam dos seus sonhos, mas construam com tijolos... e não esqueçam, que a casinha mais importante, é a sua!!! 









quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Filho(s), a culpa e os laços


Ola meus queridos(as)

Filho não é trabalho... andei conversando com várias mães (solteiras, bem casadas, mau casadas, vários filhos, filho único, filhos adotivos, filhos agregados, etc...). Filho não é trabalho; filho pode (e deve) dar trabalho pois eles não vieram fazer as nossas vida mais fáceis, eles vieram fazer as nossas vidas mais difíceis, porém mais completas, mais enorme, mais única, mais importante... mais vida!

Você esta cansada, acabada, quer se jogar na cama e pedir uma pizza... pois é, temos esses momentos; mas o que o seu filho tem haver com isso? Ele quer sua atenção, seu carinho, uma comidinha gostosa, um colo, uma estória antes de dormir... um beijo de boa noite. Se você não esta conseguindo dar isso para o seu filho, pare, repense, o que realmente vale a pena?!!! 

Eu sei (ou acho que sei) o que vale a pena, e quando sinto que meu filho "precisa" de mim, coloco o pé no breque, passo uma tarde preguiçosa com ele e seus brinquedos no meio da semana, desligo o celular, vou para cozinha e faço o strogonoff que ele tanto ama, deixo ele dormir na minha cama com a centopéia... asseguro à ele que nada é mais importante neste mundo do que ele, e que a mamãe esta aqui! E vamos brincar de sombra na parede, submarino no banho ou fazer pegadas de dinossauro na areia.

Não posso, nem vou tentar preencher uma lacuna que não compete a mim, sou mãe (cozinheira, motorista, banco, amiga, psicóloga etc... pau para toda obra) MAS não sou pai. Hoje enquanto almoçava com minha irmã de coração, conversamos novamente a respeito disso e ela disse o que eu precisa escutar...lá eu mais uma vez me lamentando que poderia ter escolhido um "pai" melhor para o I., minha culpa e blablabla (agora meu), e veio a chulapada definitiva!!!! O I. é o I., não tem nada de lindo ou glamuroso em ser mãe solteira (se esse é o jargão), mas é ele, e você e foda-se o resto! Faça seu melhor...

Fiquei pensando nisso, faça o seu melhor...o meu melhor, qual é o meu melhor? Esse é o meu melhor? Posso melhorar o meu melhor? E assim a culpa (que ainda sentia), foi diminuindo, foi diluindo em risos e felicidades únicas, no seu beijo de borboleta, no abraço de urso, no banho quentinho com o avião... E finalmente deixo minha "culpa" para trás, e espero um dia poder explicar para o I. as escolhas de cada um, MAS eu sempre escolhi e escolho ele sempre!

E o que é família? Quais são os laços que nos unem? Papai, mamãe, filho, papagaio e vovô? Não se adequada mais a nossa realidade. Não lembro de quem é essa frase, mas diz que família são as pessoas que tem a chave da mesma casa...

Quais são os laços que nos unem? 



segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Eu não tenho mais saco


Ola meus queridos(as)

Olha, precisa de muita paciência (que eu já não tenho mais) para não mandar tomar no meio do olho do c@... Hoje é o dia que estou na universidade, só atendo o celular se for da escolinha do I. e uma gigante emergência (da mesma forma que proíbo os alunos de usarem o celular durante as aulas o mesmo se aplica à mim). Lá pela hora do almoço, só tinha umas 10 ligações perdidas do Caiçara... e não contente, um email dizendo que não queria infernizar minha vida mas que eu atendesse suas ligações e blablabla... A doença da pessoa é tão grande, que não passa na cabeça dele que simplesmente não atendi porque estava OCUPADA. Porque tenho uma vida, porque não estou a disposição 24 horas por  dia. Claro que não, o mundo continua girando em torno do seu umbigo e SE eu não atendi é porque não quis falar com ele (bom, também tem essa possibilidade, mas hoje não foi o caso). 

Honestamente, não tenho mais saco! Ando cada dia mais sem paciência para ele, suas maluquices, seus blablablas... sempre arrumando uma desculpa para ligar. Agora é a carteira de trabalho (nem trabalho o cara tem, qual a urgência na carteira de trabalho?). Nenhuma, mas enfim, mandei pelo correio, sei lá porque ainda não chegou, parece que o correio esta meio em greve e consta, no número do protocolo, que foi entregue no endereço do destinatário. Pronto, a maldita carteira agora é a bola da vez... e uma mala que ficou aqui em casa (se pudesse, desci para praia AGORA, levava a merda da mala e a carteira de trabalho, só para ver qual será a próxima desculpa). 

Esse final de semana, o I. não quis falar com ele no telefone. Alias, pela primeira vez na minha vida, fiquei com vontade de dar um tapa na cara dele por ver meu pequeno chateado, triste, escondido em baixo do seu edredon dizendo que nunca mais queria falar com o papai. Contornei a situação da menor forma possível, enchi ele de beijos, chocolate, descemos para piscina e logo ele esqueceu e voltou a ser o I. feliz de sempre!!! Claro que recebi um email seu, estou muito triste porque o I. não falou comigo e blablabla... Meu, jura? Você esta triste? Vai tomar no meio do olho do seu c@! 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A Batata


Ola meus queridos(as)

Temos um novo membro na família, ela é minúscula, peluda, fofa, carinhosa resgatada diretamente das ruas de São Mateus (nem me perguntem onde é isso, só sei que é ainda nesta cidade, lá para zona leste), e chama-se Batata (foi o I. que escolheu o nome). A Batata é mais uma das dezenas de gatos que minha mãe resgata por ai, e quando digo por ai, é literalmente em qualquer canto, qualquer lugar, desde esgoto, terreno baldio, árvore etc... não concordo muito com essa quase compulsão da minha mãe em transformar sua casa num gatil MAS fazer o que? Já sugeri que ela criasse uma ONG pelo menos e organizasse esses resgates e adoções MAS ela não me escuta... Sei que ela faz de coração, ela ama os bichinhos (e todos eles, inclusive os gatinhos mais velhinhos, doentes e sofridos que jamais serão adotados pois são ariscos demais... para ela sem problemas, fica todo mundo com ela). Uma vez vi a conta do pet shop, ração, pedrinhas, remédio e honestamente, dá para alimentar umas 4 famílias por vários meses... Mas o dinheiro é dela. Enfim, existe esse lado da minha mãe que me enlouquece e comove ao mesmo tempo!

Mas a novidade é a Batata, o I. simplesmente esta apaixonado, até demais; coitada da gata, ele não deixa ela em paz um segundo. O I. adora bicho, qualquer bicho, agarra cachorros desconhecidos no meio da rua, queria "roubar" o jabuti do meu pai que tem uns 20 anos (ele escondeu na mochila para levar para casa, pode?), quando ele chega na casa da minha mãe sai correndo atrás dos pobres gatinhos, a maioria deles são bem velhinhos e não conseguem fugir... e dá-lhe arranhada. Você acha que o I. se intimida? Até arranhão na cara levou e não desisti!!! E tem o Juca, até eu quero uma lambida matinal do Juca. Ele é um Golden Retrivier lindíssimo, fofíssimo que mora aqui por perto e religiosamente esta passeando na mesma hora que levo o I. a pé para escola, nos encontramos todas as manhãs, e o I. se joga em cima daquele tapete carinhoso de pêlos e babas... Gostoso Juca!!! 

Lembra muito meu Drago, meu gigante de 4 patas, meu companheiro, meu amigo que faleceu um pouco depois do I. fazer um aninho... e até hoje, quem o conheceu, sente sua falta! Um dia escrevo um post só dele, pois ele merece bem mais que isso! 

Seja bem vinda Batata, e com você um novo ar encheu nosso lar, uma nova alegria, uma nova bagunça... e no presente momento, encontra-se os dois tranquilamente dormindo na caminha do I. (acho que ela já achou seu cantinho). 

Pouca fé?


Ola meus queridos(as)

Ainda estou digerindo os últimos acontecimentos, claro que ele ligou, acabei atendendo e mais uma vez fui desagradável e mandei todos eles irem fazer uma gigante terapia familiar, com direito a psiquiatra, remédio tarja preta, internação e sei lá eu mais o que for necessário para estacionar essa insanidade coletiva.

Mais uma vez escutei ele dizendo que sua recuperação é tudo, que será um pai para o I. e blablabla... a questão é que, eu não acredito mais; ao ponto de realmente ser sarcástica... pode parecer cruel, mas eu não tenho fé nenhuma que algum dia ele finalmente entrará em recuperação e passará o resto da sua vida limpo e sereno. Mas o que eu acho ou acredito é irrelevante para o resto do mundo (importa apenas para mim), e espero de coração estar errada; só o tempo dirá. Não consigo mais nem "fingir" que acredito na sua recuperação... tanto que desta vez fiquei mais puta com a prepotência da irmã dele em me "culpar" e se ver no direito de me ligar gritando do que a recaída dele em si. Recaiu? É mesmo, pois é... nada de novo (sério, estou bem assim). Antigamente, quando ele recaia eu até me preocupava, me importava, tentava ser assertiva... hoje, foda-se. 

Gostaria de poder dizer à vocês que acredito na recuperação de qualquer pessoa, toda nossa filosofia Nar-Anon... não mais, porém, por favor, cada um é cada um; e o que retrato aqui é apenas a minha vivência, as minhas experiências. Talvez a minha fé seja pequena, talvez minha racionalidade me impeça de acreditar no sobrenatural e em milagres... Talvez, todos esses anos foram minando minhas esperanças de vê-lo inteiro, saudável, pleno e livre das drogas. 

É muito triste isso que vou confessar, não tenho bola de cristal, não sou juiz para sentenciar ninguém, mas ele vai morrer escravo das drogas... Pode demorar, pode não demorar...

Espero que me prove o contrário, pois não desejo essa vida para ninguém, muito menos para o pai do meu filho.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Gente louca


Ola meus queridos(as)

Aqui estou eu vivendo a minha vida quando recebo uma ligação no meio da tarde, do outro lado a irmã do Caiçara completamente fora de si, gritando, me culpando por ele ter recaído e blablabla... Quando eu engrossei também e iria desligar, o santo J. pegou o telefone, mas não fez muita diferença. O que EU tenho haver com isso? Eu não sou responsável por ele, são as suas escolhas... Conversei com o Caiçara ontem no telefone, avisei que estamos viajando (eu, o I. e meu meteorologista), tentei ser amiga e desliguei. Segundo eles, depois disso o Caiçara se enlouqueceu, enfim, resumindo a ópera, a CULPA é minha que ele recaiu. E que eu sou a sua obsessão (até ai pode ser, MAS de novo, o que eu tenho haver com isso?). No auge da maluquice, o outro disse daria meia dúzia de $ para o Caiçara vir para cá...Uh! Claro que não, na minha casa não; já fiz o que podia e o que não podia; já me prejudiquei, psicologicamente e financeiramente e CHEGA! Olha, quando eu acho que já vi de tudo... sempre consigo me surpreender! E mais uma vez chego a conclusão que quanto mais longe eu fico desse manicômio, melhor para mim. Não atendo mais ligação nenhuma de NENHUM deles... gente louca.

Confesso que tentei ser amigável, compreensiva e me re-aproximar MAS não dá, são universos muito distantes, realidades completamente outras, lá as pessoas se xingam, gritam, batem; só drama, novela mau escrita que precisa ter um vilão, e esse vilão sou eu. Engraçado eles me atribuírem esse poder todo, se realmente tivesse, usaria esse poder para fazer ele parar de usar drogas NÃO continuar usando... gente louca. 

O cara é adicto sei lá eu a quanto tempo, eu caio de para-quedas nessa estória (a família dele sempre soube e nunca abriram o jogo), fiz das tripas o coração, estendi minha mão um bilhão de vezes, acreditei, apoiei, ajudei, rios de dinheiro... mas a culpa é minha, gente louca.

O cara foi criado na base da porrada, apanhando dia sim dia não, nunca foi reconhecido em nada, alias pelo contrário, podado, com alguém sempre puxando a descarga das merdas que ele fazia, não apreendeu a se responsabilizar por nada, inclusive sua vida mas a culpa é minha... gente louca.

O cara não sabe lidar com seus sentimentos, frustrações, mágoas; é agressivo, violento e fuma todas as pedras de crack que ele conseguir mas a culpa é minha... gente louca.

De gente louca na minha vida, eu estou sossegada. 

P.S: No fundo eu entendo que eles estão desesperados, perdidos, sem saber o que fazer com essa bomba na mão, que é o Caiçara na ativa. Mas honestamente, isso não é problema meu e para quem ainda não entendeu, EU NÃO SOU RESPONSÁVEL POR ELE! 





sábado, 19 de setembro de 2015

Pedro, meu amigo


Ola meus queridos(as)

Ele foi meu primeiro "amor" (se é que eu sabia o que era "amor")... Mas algo dentro de mim mudou, quando o vi, trilhões de borboletas se mexiam dentro do meu estômago. Eu tinha 10/11 anos no máximo, mas antes de tudo ele foi meu amigo!

Foram as férias mais memoráveis da minha infância (e não foi para Disney, nem para o Caribe, nem para Europa), foi numa praiazinha perdida no litoral norte de SP chamada Toque-toque Grande (alias não faz o mínimo sentindo, pois Toque-toque Grande é a menor praia, e a outra Toque-toque pequeno é a maior...). Mas naquela época, a única coisa que importava é que estávamos indo para praia, e iríamos ficar na casa de uns amigos dos meus pais, e suas filhas, que eram muito amigas minha e da minha irmã! Era quase uma vila, ruas de terra, sem supermercado, sem barulho, sem nada... só a praça da igreja e aquele mar imenso, azul, nosso playground. Eu, só queria acordar e sair correndo por ai! O  litoral norte de SP era um paraíso escondido, uma jóia preciosa... muito diferente do que é hoje, uma pena. 

Ele era o filho do caseiro, Pedro, uma criança como nós, mas sabia tudo do mar, e pescava! Um dia nos encontramos num final de tarde na praia, e ele estava saindo com seu barquinho/canoa e perguntou se eu não queria ir junto. Claro, e foi o por do sol mais inesquecível, principalmente porque meus pais gritavam enlouquecidos da praia exigindo que a gente voltasse enquanto seu barquinho se distanciava da costa e a gente só ria! Ficamos de castigo aquele dia...

Ele era sensível, ele era simples, ele não sabia o que era metro nem video game, ele era uma cria daquela natureza; tão diferente dos meninos que eu conhecia da escola, uns pentelhos. E assim passei meus dias, andando com ele pelas trilhas da mata atlântica, pelos lugares secretos que só ele conhecia (cavernas, cachoeiras), colecionando conchas, limpando as redes de pesca, sentados no banco da praça, deitados na areia contando as estrelas a noite, nadando no mar até não conseguirmos mais ver a praia.

Quando acordava de manhã e escutava ele no portão me chamando, algo dentro de mim batia mais forte, e saia correndo cheia de felicidade e borboletas; e lá íamos nós explorar as praias desertas, os tesouros escondidos pelos piratas, nadar pelados nas cachoeiras, subir nas árvores, roubar cachos de bananas, pescar com sua varinha de bambu, e contrariando tudo e todos, sair com sua canoa mar a fora! 

Mas as férias estavam acabando, ele sabia, eu sabia... e num final de tarde, sentados na praia, seu pé cheio de areia encostando no meu, seu braço salgado me abraçando; nos beijamos. Meu primeiro beijo, seu primeiro beijo... o universo parou por um minuto, e tudo fez sentido! E aquele minuto existe até hoje dentro de mim! Ele me deu um colar de conchas (que ele fez), disse que nunca iria me esquecer e me amaria para sempre... Usei esse colar por vários anos até a minha infância acabar e ele se quebrar,  guardei as conchas na caixinha de lembranças assim como nosso beijo salgado.

No dia seguinte, não consegui esconder minhas lágrimas enquanto subíamos a serra, queria escrever pelo menos (já que nem telefone existia), meu pai explicou que o correio também não chegava lá; mas existem outras formas que as pessoas se comunicam, através do coração! Lembro que tocava no rádio uma música do Milton que até hoje me leva até ele: Canção da América. "Amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não... o que importa é ouvir a voz que vem do coração"...

P.S: Para vocês que nasceram com celular, iPad, internet pode parecer estranho...mas existiu um tempo que foi assim, é era bom!

Sem nome


Ola meus queridos(as)

Não sou de asistir TV aberta (alguns canais a cabo e olhe lá), muito menos novela das 7, das 8 e menos das 11 (nem sabia que o negócio se estendeu para madrugada quase...), MAS escutei muito sobre a repercussão de uma personagem na tal novela das 11 que acabou se viciando e agora vive na cracolândia. Então, lá fui eu tentar ficar acordada para assistir um pedaço disso na sexta a noite. 

É... confesso que até para mim que já fiz trabalho voluntário por lá, foi um tapa na cara, mas a realidade é essa. Fiquei feliz (não pela situação), mas pelo fato dessa realidade estar sendo descaradamente retratada numa novela, sem pudor ou meio termo. O desespero, a dor, a destruição total do ser humano, a busca incessante pela droga; não há mais limites ou princípios, se você tiver que roubar ou transar com o traficante, que seja. Você vive (ou melhor morre) com o único intuito de usar mais drogas, uma completa escravidão, nada mais existe ou faz sentido, tudo gira em torno de conseguir mais uma pedra e por alguns segundos fugir para o nirvana. Claro que esse é o estágio terminal da adicção, e espero que poucos de nós tenhamos vivenciado isso, MAS esse é o fim quando a doença não é tratada e estacionada. Não tenho como florear muito, só existe este fim se o adicto não escolher parar de usar drogas. Ele pode morrer de overdose (o que é raro), ele pode morrer em decorrência das suas atividades ilícitas e violência das ruas (na maioria dos casos), ou, mais triste, simplesmente definhar, lentamente até deixar de existir e morrer como um indigente, sem nome.

Nunca me esqueço de uma menina, literalmente uma criança com seus 12/13 anos, a mãe completamente entregue ao crack, elas moravam num "barraquinho" ali na rua Helvétia (o coração da cracolândia para quem não é de SP), nem pergunte pelo pai porque é inútil; andava imunda, esfarrapada, os piolhos pulavam do seu cabelo, descalça, agarrada a uma boneca encardida, pedindo qualquer coisa para qualquer um. Algumas pessoas do comércio local por dó, davam uma coxinha, um suco, um par de chinelos; e ela perambulava naquela sujeira, naquele limbo enquanto a mãe passava o dia inteiro se drogando. A primeira vez que tentamos conversar com ela, simplesmente ela saiu correndo como um bicho acuado e se enfiou lá para dentro (a partir de um certo ponto, ninguém entrava... só a polícia e na base da porrada). É uma fronteira invisível, nenhum assistente social, nenhuma ONG, nenhum missionário, nenhum agente de saúde ousava cruzar (ou se tentar, a primeira vez você é convidado a se retirar, na segunda você é ameaçado e na terceira...nem tente). 

Aos poucos ela foi se aproximando, o truque foi uma boneca nova, um pacote de balas, um vestido limpo; mas quando conversávamos sobre a possibilidade dela "deixar" a mamãe que estava doente e ir passar um tempo na escola (a ONG articulou um internato muito bacana para que ela pudesse ser acolhida, com o aval da agente social); ela saia correndo de novo. E assim foram vários meses... pequenos avanços e grandes retrocessos. 

A última vez que a vi, parecia que 30 anos tinham se passado; sua carinha de criança envelhecida, entristecida, sua ingenuidade roubada, seus sonhos de apreender a ler destruídos. Ela estava completamente drogada e grávida... e não queria mais uma coxinha, e sim dinheiro. Uma infância perdida, um ser humano que nunca teve nem uma chance de ser amando e cuidado; e a única coisa que apreendeu na sua curta existência foi dor e sofrimento; e que o mundo é cruel e escuro.

Ela disse que se chamava Maria... morreu esfaqueada numa briga de traficantes pouco tempo depois, e foi enterrada como indigente, sem nome.

P.S: Não consegui mais continuar esse trabalho voluntário na cracolândia depois disso, chorei uma semana sem parar, deixei flores e uma boneca onde ela foi enterrada, e hoje ajudo de outras formas. Mas confesso, não sou tão forte como achava que fosse; e estar no batalhão de fronte é para os fortes mesmo! E deixo aqui meu amor e respeito por todos os voluntários que se aventurão por lá! 






quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O Nada e o Tudo


Ola meus queridos(as)

Porque nos prendemos a tantas coisas que não nos dizem nada? Absolutamente NADA! É hábito? É rotina? É medo? É o que exatamente que nos amarra no NADA?!!! Eu me prendi, me enrosquei, me emaranhei neste NADA por tanto tempo, e hoje, olhando para trás, parece tão simples, tão óbvio deixar o NADA para trás, por que o NADA não diz nada... não cria nada, não acrescenta nada. E quando deixamos o NADA para trás, abre um espaço que agora pode (e deve) ser ocupado com o TUDO! Tudo de bom, tudo de lindo, tudo de cor, tudo de amor... 

Mas para que o TUDO hoje tenha importância, talvez o NADA precisasse ter existido... E esse TUDO não é absoluto, dogmático e sim um tudo que completa, um tudo que une, um tudo que abraça o resto, um tudo que faz sentido; um tudo que traz paz e amor! Não é um TUDO de querer tudo e ter tudo, pelo contrário, é um TUDO que preenche, que agrega, que compartilha, que une... e diz TUDO! 

É o TUDO que completa a falta do NADA! O TUDO é um abraço de urso, um vento que balança as folhas da árvore, o sorriso de alguém que passa na rua, uma palavra de carinho, um obrigada, uma noite silenciosa, uma música que toca seu coração, uma janta gostosa, um bom dia inesperado, as ondas do mar acalentando seu sono, o nascer do sol... um beijo.

Que esse TUDO que sinto hoje, possa ser o tudo a todos vocês meus queridos!

P.S: Hoje, meu amor se estende sem régua! E que chegue a cada um de vocês... no momento que se encontrem, olhem para o TUDO, e não deixem o NADA ocupar esse espaço dentro de vocês!!!! Mega beijos de borboletas... 

Passarinho verde


Ola meus queridos(as)

Minha super babá/pau para toda obra chegou ontem, olhou para mim e disse: que passarinho verde é esse que você viu? Você esta radiante! Radiante, já não sei... mas com vontade de simplesmente ser. Sai para almoçar com a minha velha amiga pau para toda obra que perguntou qual era o passarinho verde também que eu vi, pois estou com cara de "boba" feliz. Nossa, boba feliz foi ótimo!

Não tem passarinho verde, ou talvez tenha mas você precisa estar disposta a escuta-lo cantar! Como é bom ter planos, ter sonhos, acreditar novamente nas pessoas, no amor... Se abrir, se entregar, voar no foguete espacial do I. e depois resgatar o dinossauro preso no armário! Passar horas preguiçosas com sua velha amiga num boteco de esquina enquanto o resto da Avenida Paulista não para enlouquecida, rindo das nossas estórias (a do motel com café da tarde é imperdível, todo mundo se mija de rir), nossa cumplicidade de décadas, nosso carinho incondicional, nosso eterno apóio e amor sincero. Passar horas no telefone, conversando sobre tudo e nada, com aquele que lhe acolhe, lhe respeita, lhe admira... Sentir saudades, querer estar juntos, nos darmos uma chance, parar de fugir, de correr, de despedidas em aeroportos. E simplesmente abraçar o que sentimos, e deixar crescer sem cobranças ou ansiedade, simplesmente regar e cuidar da semente que foi plantada a tantos anos atrás... Até venho, gradualmente, me re-aproximando da minha mãe, deixando minhas mágoas para trás e entendendo que ela não é eterna, muito menos perfeita, e cabe a mim perdoar e aproveitar o tempo junto que nos resta neste plano material. Voltei a ligar, voltei a me importar, voltei a ter vontade de vê-la... enfim, sábado almoço lá (e desta vez vou numa boa, sem inventar nenhuma desculpa, sem me sentir "obrigada" a ir como nas últimas vezes e sair correndo meia hora depois). Alias, será um final de semana gastronômico, domingo almoço no meu pai (é, segunda feira só alface e água para compensar a comilança)!!!

O I. esta uma pessoinha cada vez mais interessante e gostosa de conviver, seu comportamento é totalmente outro depois da mudança de escola, claro que ainda temos momentos de conflito, afinal de contas quem manda aqui sou eu, mas aos poucos, ele esta entendendo que temos regras e o não faz parte da vida também, assim como o sim. E meu pequeno se torna um grande parceiro para "mamãe"... sempre carinhoso, me enchendo de abraços de urso e beijos de borboleta!

O Caiçara continua ligando, com menos frequência (ainda bem), mas ainda insistindo em algo que não existe mais. Sei que ele esta sofrendo, não ignoro seu sentimento, MAS é isso ai; cada um colhe o que planta; e ele esta sofrendo as consequências das suas escolhas e não há absolutamente nada que eu possa fazer. Apenas desejar que ele se levante, se responsabilize pela sua vida, fique limpo e encontre a felicidade (dentro dele)! Ele continua dizendo que me ama, e eu continuo dizendo que ele ama as drogas... e no fundo, eu não o amo mais... um passarinho verde me contou!!!




domingo, 13 de setembro de 2015

Depois dos 40


Ola meus queridos(as)

Depois dos 40 muitas coisas fazem sentido, muitas coisas são deixadas para trás, muitas coisas amadurecem e muitas outras apodrecem (e cabe a você jogar fora). 

Depois dos 40 muita coisa não diz mais nada, muita coisa diz tudo, muita coisa perde seu valor e muita coisa ganha o seu devido valor.

Depois dos 40, suas costas podem começar a doer, suas rugas podem começar a aparecer, sua calça jeans pode ficar mais apertada, seus pés mais doloridos... Mas depois dos 40, você encontra alguém que sabe massagear suas costas, aprecie suas rugas, não se importa com sua cintura, e escalde seus pés... 

Depois dos 40, você não tem mais o que provar, você não tem mais que escutar blablabla, não tem mais que esconder nada de mim... 

Depois dos 40, você não precisa fazer mais nada que você não queira! 

Então meu bem: Vem viver comigo, vem correr perigo, vem morrer comigo... meu bem!!!!

sábado, 12 de setembro de 2015

Divórcio


Ola meus queridos(as)

Provavelmente foi uma das coisas mais difíceis que fiz, e só consegui pois meu pai estava comigo... decisão tomada, divórcio; ele resolveu voltar para o Brasil e fui deixá-lo no aeroporto em Honolulu. Desci junto com ele no embarque internacional, enquanto meu pai estacionava meu carro (ele estava me visitando, graças a Deus). Ajudei a fazer o check-in (ele sempre ficava nervoso achando que estava esquecendo algum documento ou mala pelo caminho); caminhamos juntos até o portão de embarque, nos despedimos; e ele olhou para trás, para dentro de mim com lágrimas nos olhos, não, em prantos e disse: perdi o grande amor da minha vida e se foi. Quis sair correndo, abraça-lo, pedir que ficasse... mas era tarde demais (nosso casamento tinha acabado), e simplesmente fiquei imóvel, estática, parada no meio daquele aeroporto não sei por quanto tempo, até meu pai me achar, me abraçar, me resgatar. E chorei como uma criança nos seus braços... e depois que ele me acalentou e eu me acalmei, ele fez o que sabia fazer de melhor; me levar para jantar no melhor restaurante de Honolulu e assegurar que tudo iria ficar bem! 

Meu pai ficou mais uns dias comigo, inventou de tudo e mais um pouco. Fomos para Big Island (minha ilha favorita); scuba diving com as raias gigantes em Kona, passeio de helicóptero no Kilauea,  snowboarding no Mauna Kea, snorkeling em Kapoho com os peixes de recife de coral mais coloridos da face da terra (saudades da minha casinha lá... preciso voltar), passeio a cavalo (eca, não curto andar de cavalo) em Waimea, jet ski em Hilo... Enfim, ele fez de tudo e mais um pouco para amortecer esse período de luto, mas chegou o momento dele voltar para o Brasil e eu fiquei.

A primeira noite que passei no "nosso" apartamento, que agora era só meu, sem meu pai, foi estranho. Como se eu esperasse o P. entrar a qualquer momento, mas ele não voltou... eu sei que destruí seu coração. Pensei em me mudar no dia seguinte, e foi o que fiz! 

Uns meses depois meu advogado aqui no Brasil avisou que a audiência do divórcio tinha sido agendada, e eu precisava estar fisicamente aqui na frente do juiz (como eu tinha me casado no Brasil, eu tinha que me divorciar no Brasil também). Ok, acho que era uma terça, cheguei na segunda com minha volta para os USA marcada para quinta ou sexta (foi um bate e volta mesmo); e essa foi a última vez que o vi... Não foi muito amigável, ele fez chantagem, mas mediante uma módica quantia que meus pais pagaram, ele assinou os papéis (nunca pensei que ele tivesse um preço). Fiquei muito triste... quando soube anos depois disso, e um pedacinho do quanto eu o considerava morreu também.

Mas isso não diminuiu os quase 15 anos maravilhosos que dividimos nossos sonhos, nossas tristezas, nossas conquistas, nossos fracassos... nossas vidas! Uma vida que construímos juntos e acabou.

É isso mesmo?


Ola meus queridos(as)

Nós viemos à esse mundo para trabalhar? Desde que nascemos, somos doutrinados a "sermos alguém", termos um bom trabalho, ganhar dinheiro e blablabla... Quantos de nós realmente temos prazer no que fazemos? Bom, eu não posso reclamar; gosto do que faço, e não sou escrava do trabalho, alias tenho o privilégio de escolher o que quero fazer e o que não quero (apesar de que agora, dando aula... não sei, universidade particular paga bem MESMO; e se você perguntar se eu adoro dar aula para 100 pessoas almejando um diploma em engenharia, e nada mais, pois apreender que é bom... nem metade destes 100). Mas é temporário, eu me conheço, daqui a pouco chuto o balde e volto ao meu esquema consultoria (se a crise passar e a Dilma parar de meter no nosso cú...). 

Mas enfim, a pergunta é essa. Quantos de nós somos escravos do trabalho? O trabalho deveria nos engrandecer e não nos escravizar.. Olha que engraçado, você trabalha de segunda a sexta sei lá eu quantas horas, e com sorte tem o sábado e o domingo de folga, e nestes dias você faz o que? Vai gastar o dinheiro que acumulou com o seu trabalho suado a semana inteira... Faz algum sentindo isso? Sei lá, na nossa sociedade capitalista faz e MUITO. Pois o seu valor não é quem você é, mas o que você tem. Não estou aqui levantando nenhuma bandeira anarquista/comunista... longe disso, apenas uma reflexão, acho importantíssimo nos sentirmos produtivos, criativos e FELIZES neste processo; mas infelizmente, a grande maioria das pessoas sendo espremidas como sardinhas no metro as 6 da tarde voltando do trabalho, não têm semblantes muito felizes... estão esgotadas, exaustas, mau humoradas. Provavelmente, chegarão nas suas casas de saco cheio, chutando o cachorro, mau olhando na cara do filho querendo atenção, xingando o chefe e reclamando da janta na mesa (que a mulher cozinhou aos trancos e barrancos, porque ela também acabou de chegar do trabalho). É isso mesmo que nós viemos fazer neste mundo? 

Será que não existe um meio termo? Será que não é o momento de voltarmos um pouco para trás, e dar valor para as coisas mais preciosas nesta vida que dinheiro nenhum no mundo compra? Talvez nos distanciamos tanto que não há volta, talvez uma enorme ruptura social seja necessária, talvez uma catástrofe climática nos envie de volta a idade da pedra...(acho improvável, temos tecnologia suficiente para nos adaptarmos)... Mas que seria interessante um gigante meteoro colidir com a Terra e colapsar toda nossa sociedade, seria. Será que nos adaptaríamos a "terra" novamente ou seríamos extintos como os dinossauros? 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Vambora


Ola meus queridos(as)

Ele foi, provavelmente, o único homem que eu amei de uma forma diferente, muito fraternal (apesar do desejo físico sempre estar presente), um enorme amigo, companheiro, confidente, parceiro... quase como se fosse sua melhor amiga mas de cuecas. Até ir no banheiro fazer xixi nós íamos juntos (e não, ele não é, nem nunca foi gay), até dormir na minha cama ele dormiu e eu na dele como dois irmãos (apesar do desejo, que com o tempo foi se intensificando...até um dia).

Ele tinha aquele sotaque catarinense que precisava de legenda, vindo de uma cidade perdida no meio do nada que nem lembro o nome hoje, físico, com mestrado em física e buscando algo novo como candidato a doutorado em oceanografia na cidade grande. E foi assim que o conheci, na USP, ele não entendia muito de oceanografia e eu não entendia muito de física na época (começando meu mestrado); ele era calado, e eu falava demais; ele era paciente e calmo, e eu era inquieta e explosiva; ele era paz,e eu queria mais era ver o circo pegar fogo! Mas ele podia ser bem maluco também com meia dúzia de cervejas, lembro de uma festa dos bichos no centro acadêmico da farmácia que simplesmente ele sumiu, e quando dei por mim o Go-go boy em cima da mesa era ele (sem roupa)! Ele sempre teve um lado meio "animal" enjaulado, meio porra loca que herdou do pai poeta (alias um gênio) que apreendeu a conter para sobreviver.

Ele foi meu fiel escudeiro (e vice-versa), onde eu ia, ele ia, meus amigos, eram seus amigos, cada página da minha tese ele leu e releu um bilhão de vezes e corrigiu com carinho, cada sugestão, cada gráfico, cada equação... quantas noites em claro estudando (cursamos várias disciplinas juntos, mesmo ele sendo do doutorado), quantas noites em claro perdidos pelos botecos da Vila Madalena... quantas noites em claro simplesmente conversando um no colo do outro, quantas noites em claro planejando escapar para Marte ou qualquer outro planeta!

Ele era meu guarda costas, do seu lado tudo era seguro (mesmo só fazendo merda), podíamos tudo e mais um pouco. Até o dia que literalmente invadimos o Instituto Oceanográfico depois de várias cervejas no bar da física, pois eu tinha esquecido minhas chaves no laboratório, pelo buraco do ar condicionado (fazer o que, o segurança não tinha a chave do laboratório e eu precisa pegar minha bolsa, né?). Claro, no dia seguinte, o "arrombamento" foi a fofoca do dia no cafezinho, e nós dávamos risadas... Jura? Alguém entrou pelo ar condicionado? Ou quando ele "chulapou" um cara muito folgado que estava me incomodando numa balada, ou quando eu "chulapei"uma vagabunda dando em cima dele... (no fundo, tínhamos um ciúmes inexplicável um pelo outro).

Mas ele era família (tinha uma namoradinha de infância lá na cidade perdida no meio do nada), e eu sempre enroscada, já com o P. se tornado algo "tipo noivo", nunca dando chance para nada nem ninguém e chegou o momento de ir para os USA...  Fiz um enorme churrasco de despedida, noite a dentro; e claro, meu fiel escudeiro não poderia faltar! Acho que foi nesse churrasco que viram a gente fazendo xixi juntos no banheiro e até hoje ninguém esquece isso... Mas foi nesse churrasco que nos beijamos pela primeira, única e última vez, e isso EU não esqueço...

Um beijo, sincero, profundo, contido, guardado, intenso, eterno.. Um beijo, que não trocaria por mil outros beijos, um beijo que disse mais que mil palavras; um simples beijo, nosso único e precioso beijo de entrega total como se não houvesse amanhã, nunca mais fui beijada assim, com tanta intensidade, tanta cumplicidade; e isso faz ele ser único... E até o último minuto, enquanto eu embarcava naquele avião, sonhei que ele poderia ir comigo e mudar tudo! Mas eu nunca o convidei a ir... Nunca abri as portas e deixei ele entrar.

P.S: Entre por essa porta agora,
       Me diga que me adora, 
       Você tem meia hora para mudar a minha vida, vem
       Vambora... 
       (Adriana Calcanhoto)

P.S.S: E mais uma vez quem foi embora fui eu...

Capacidade de suporte


Ola meus queridos(as)

Essa semana, senti na pele as consequências de viver numa cidade sempre no limite do caos... São Paulo é uma cidade que vive no limite da capacidade de suporte, um equilíbrio frágil, entre a ordem e o caos. O que é a capacidade de suporte de um sistema? Na verdade, esse é mais um jargão da ecologia: 

"Quando os custos energéticos da manutenção se equilibram com a energia disponível (quando o crescimento atinge um nível máximo que o sistema pode suportar em relação ao aumento da entropia), não ocorre mais um aumento em tamanho, já que foi atingida a capacidade máxima teórica de suporte (menos energia é direcionada para o crescimento). A capacidade ótima de suporte é representada no ponto de inflexão onde a taxa de crescimento do ecossistema é máxima. Qualquer mudança nas condições e parâmetros do ecossistema, neste ponto, é mais rapidamente reposta. A partir daí, a taxa diminui e o tamanho do ecossistema se aproxima da faixa de capacidade máxima. Se o sistema estiver no nível da capacidade máxima, qualquer mudança brusca pode levá-lo ao colapso. Para garantir a capacidade de manobra do sistema (margem de segurança), existe uma capacidade ótima de suporte que é inferior à sua capacidade máxima."

Pois é, resumindo, atingimos a capacidade máxima do sistema (que ultrapassou a capacidade de suporte); logo qualquer gota de água que caia a mais, um acidente na marginal ou um maluco que resolve se suicidar no metro torna-se um tsunami, uma onda que rapidamente se propaga, aumentando a entropia e colapsando todo o sistema! Caos... Caiu uma árvore na rua de casa (uma pena, lindíssima; alias várias árvores infelizmente caíram aqui na Vila) devido a tempestade de terça feira, pronto quase 36 horas sem energia elétrica... O pessoal da padaria distribuiu sorvete de graça antes que derretesse tudo, o pessoal da arquitetura sustentável recolheu algumas toras de madeira que viraram bancos na nossa pracinha, o pessoal do restaurante japonês fez uma mega promoção de sushis e sashimis (me dei BEM!!!!!), os fofos porteiros do meu prédio interfonaram preocupados com o I., e se precisávamos de algo, os moradores fizeram um multirão na limpeza das folhas e galhos...

E mesmo no caos (desculpem, mas ficar sem tomar banho menstruada é uma meleca e explicar para o I. que não tem como assistir a patrulha canina pois a TV não liga sem energia pela décima vez foi um exercício zen), a união, a preocupação com o outro mostrou como podemos ser solidários em momentos de dificuldade. E são nesses momentos de caos que volto a acreditar no ser humano... 

domingo, 6 de setembro de 2015

Virgindade


Ola meus queridos(as)

Nunca tinha escrito nada explicitamente sobre sexo, depois do último post fiquei inspirada! Então vamos falar de algo que todos nós e digo todos NÓS fazemos, e sei lá eu, não falamos... Então eu começo, sexo faz parte da minha vida desde cedo (talvez cedo demais)... Não estou aqui, mais uma vez, levantando nenhuma bandeira, e sim retratando a minha estória. 

Perdi minha virgindade (o que alias acho ridículo, opa... perdi minha virgindade, cade? sumiu? deixa eu ir procurá-la, talvez se perdeu no armário), coisa MAIS babaca isso, machista, sem sentido... Vamos colocar um anúncio no jornal: Virgindade perdida, ontem a noite no cafezal dos S., norte do Paraná, procura-se desesperadamente... criança doente!

Fala sério! Mas a minha "virgindade" foi perdida e nunca mais encontrada neste cafezal... Ele foi meu primeiro amor, meu primeiro namorado, meu primeiro tudo de muitas coisas... (e a virgindade  dele também se perdeu junto com a minha naquele cafezal, então que se faça uma busca mútua pelas duas perdidas)!!!! Ninguém sabia muito o que estava fazendo, a gente só sabia que queria fazer! 

Ele era um pouco mais velho que eu (3 anos no máximo), magro, estranho, de uma família conhecia dos meus tios (que moravam neste buraco no norte do Paraná onde passamos as férias, pois o meu tio era simplesmente o dirigente da Cargill e mandava lá), e eles eram fazendeiros de algodão, café, soja que vendiam tudo para multinacional Cargill e sei lá eu mais o que... ou seja, todo mundo altamente respeitado, a elite do buraco rural. Logo, quando começamos a sair, ninguém se opôs, pelo contrário, menor de idade com o carro do papai para sair com a "namorada", só não voltem antes das 11 da noite. No começo tudo era muito estranho, mas tínhamos várias coisas em comum, ele tocava teclado  digital (é meio meleca) e eu estava no meu auge como pianista, e passamos horas e horas num pseudo estúdio que ele montou na casa dos pais tocando juntos, e horas e horas fudendo juntos no mesmo estúdio também. Mas isso foi depois que nossas "virgindades"tinham sido perdidas... e tínhamos descoberto o prazer do sexo!

Era mais um fevereiro, já tínhamos viajado para o Canadá em janeiro e meus pais voltaram para o trabalho e nos mandaram (eu e minha irmã) para passar uns dias com a tia no interior. Nem achava ruim, alias pelo contrário, porque nesta cidadezinha  eu podia andar a pé, andar de bicicleta, sem eira nem beira, me perder nas plantações, no cheiro de terra molhada, no boteco com tubaina e pão com mortadela... nada do que eu tinha em SP, longe da liberdade que meus 13/14 anos me dariam na selva de pedra. E nessas minhas andanças o conheci, franzinho, esquisito, lindo, o cabelo mais escuro que a noite, pálido como a lua cheia... quase um vampiro! Um vampiro que sugou meu sangue, me entreguei de livre e espontânea vontade numa noite de lua nova, escura, deitava num cafezal, os dois de bicicleta, e a única coisa que brilhava eram seus olhos... e nos amamos, e nos amamos inúmeras outras vezes, até nosso amor "infantil" crescer, e chegou o momento de decidir, eu já aceita na faculdade... Tocamos pela última vez juntos, transamos pela última vez, me despedi e fui para o sul estudar oceanografia e nunca mais soube dele. Dessa vez não deixei ninguém no aeroporto, mas a dor que senti foi imensa, como se um pedaço de mim estivesse sendo arrancando, ele não foi apenas uma pessoa, ele foi a PESSOA, a primeira pessoa que eu realmente amei, me entreguei e vivi o que tinha para viver! Eu o amei, apreendi a amar, e deixar também... poderia ter ficado, poderia, mas não fiquei por mais que ele tenha pedido, implorado. E muito cedo apreende que a vida são encontros e desencontros...

Um pouco antes do I. nascer (e eu com aquela barriga imensa), minha mãe pediu que eu fosse com ela visitar a sua irmã nesse buraco no norte do Paraná, meu tio já falecido uns bons anos, e foi a última vez que o vi por acaso, na padaria comprando pão... quis abraça-lo, dizer que tudo ficará bem MAS a tristeza e revolta dentro dele não me permitiram. Sei que ele sofre até hoje... meu grande, primeiro amor! Posso fechar os olhos e ver claramente, você na minha frente, no seu teclado, me perguntando se é Dó menor... Gostaria de pode lhe dizer hoje, tanto faz... o que importa é como toca o seu coração! E seu coração, sempre confuso, maluco as vezes, foi muito amado por mim! 

Para você e todos vocês... dream on:

https://youtu.be/DUeKqpvXU8A?list=RDDUeKqpvXU8A

Pau encantado


Ola meus queridos(as)

Resolvi dar uma volta pelo blog como um todo, quase uma viagem no tempo e fiquei pasma com a quantidade de posts de recaídas, recaídas e mais recaídas... E olhando para trás eu me questiono como aturei tudo isso por tanto tempo?! Deve ser macumba! 

Não meus queridos, não é macumba, é codependência pura e simples com uma pitada de conto da carochinha, no qual você acredita que o sapo vai se transformar em príncipe encantado. Bom, acreditar em príncipe encantado, todo mundo que um dia foi criança, já acreditou porém vamos crescendo e deixando de acreditar nele, assim como no papai noel e coelhinho da páscoa. Queridas, não existe príncipe encantado e sim PAU encantado (mas cuidado, às vezes o adicto pode ser esse pau encantado e ai complicou, como foi o meu caso). A cama segurou muita coisa durante muito tempo... 

Inúmeras vezes quando estava quase virando as costas e indo embora, lá vinha ele com seu pau encantado e literalmente FUDIA tudo! E uma enorme amnésia se instaurava, e lá estava você na manhã seguinte dando mais uma chance e blablabla... Hoje vejo essa dinâmica de uma forma muito clara, tão óbvia quando um mais um são dois! Por isso a importância do meu meteorologista, quebrando esse "controle" sexual e se candidatando a vaga de pau encantado também! 

Bom, imagino que todos vocês meus queridos que acompanham meus posts são maiores de idade, então sem pudores ou metáforas, sexo é BOM! Claro que fazer sexo com a pessoa que você tem um envolvimento emocional, uma intimidade é maravilhoso; mas um sexo gostoso, com respeito e consentimento também é bom. Nós mulheres temos essa mania de associar sexo com amor... e não é a mesma coisa. E essa é uma das grandes diferenças entre homens e mulheres. Você começa a sair com o cara, enfim vão para cama e no dia seguinte você já se vê mãe dos filhos dele com um anel no dedo enquanto o cara só pensa, é... foi legal quem sabe a gente sai de novo semana que vem se eu não estiver ocupado. Viu a diferença? Foi só uma noite, uma transa, um sexo gostoso MAS você já criou toda uma estória em cima, e nós mulheres, em geral, somos assim. E ai o cara liga ou não liga, mas a paranóia já foi instaurada.

Mulherada acorda!!!

Você pode transar com quem você quiser sem ter que casar com o cara no dia seguinte!!! Você pode transar com quem você quiser sem se sentir culpada ou, pior, uma puta no dia seguinte (a não ser que você tenha cobrado...)!!! Você pode transar com quem você desejar, se esse alguém também te deseja (homem, mulher, travesti, transexual ou sei lá eu, preciso me atualizar)!!! Você pode transar uma vez só com essa pessoa, ou uma vez por semana, ou uma vez por mês, ou uma vez por ano, ou pelo resto da sua vida se assim vocês quiserem!!! Sexo não é prisão, é liberdade... é a maior entrega que você pode dar ao outro naquele momento, quando dois, por um segundo, ou um minuto, são um só! E aquele minúsculo segundo de completa união, se torna uma eternidade... e quando isso acontece, você sabe, que algo único e precioso merece ser guardado na caixinha das boas lembranças!

É o seu corpo, a sua sexualidade, MAS sempre se respeite; se proteja e bom sexo para todos vocês, entre quatro paredes vale tudo! (se de comum acordo)!!! Mas sugiro a todos seguir um dos nosso lemas: manter a mente aberta (você pode se surpreender)! 



sábado, 5 de setembro de 2015

As formigas e a morte


Ola meus queridos(as)

Não sou muito de acompanhar as notícias, muito menos a mídia em geral... até porque tudo é filtrado, e sensacionalista. Mas algumas coisas, por mais exagero e oba oba, são baseadas em fatos reais, concretos que acontecem, como a alta do dólar, a crise migratória na Europa e por ai vai. E você sente que o mundo não é justo quando uma criança morta aparece boiando na costa da Turquia. E não é... 

A natureza é justa e sábia, nossa sociedade homo sapiens burlou essas leis. Nós somos a única espécie desse planeta que, deliberadamente, exterminamos indivíduos da mesma espécie, contrariando milhares de anos de seleção natural. Você não observa formigas eliminando formigas, borboletas eliminando borboletas ou minhocas matando outras minhocas... Pode parecer simplista, mas é assim a natureza, a formiga come a minhoca, não a minhoca comendo outra minhoca. Somos meio canibais (não literalmente), mas nos devoramos, comemos uns aos outros, eliminamos uns aos outros... Nosso gigante individualismo não nos permite apreender com o coletivo que a natureza nos ensina.

Alguns teólogos podem justificar que nós somos a única espécie que compreende o conceito de indivíduo, o nascimento e contemplamos a morte eminente, ou seja sabemos que vamos morrer (a formiga não). Ou seja, a formiga simplesmente vive instintivamente, sem nenhum questionamento maior, pois o conceito da morte, da não mais existência, ou deixar de viver, para formiga não existe. 

Mas nós "evoluímos" e sabemos que vamos morrer, e isso mudou tudo! Quando o conceito da "morte" entrou no nossa espécie, inúmeros questionamentos surgiram, começando pelas religiões... depois o medo, a necessidade de fazer e SER o melhor agora (já que você vai morrer mesmo); toda uma revolução "filosófica" se deu quando começamos a nos perguntar o que é a morte, existe algo depois da morte, e outras questões existenciais decorrentes... a única certeza que temos é que todos vamos morrer, só não sabemos quando. Nós somos seres pensantes, temos consciência; a formiga não. Isso não quer dizer que a formiga não sinta, ela sente fome, sente frio, sente medo (não o medo da "morte", mas de um perigo eminente como um tamanduá invadindo seu formigueiro), e talvez, até sinta a perda de uma formiga "amiga" quando essa morre... como ela não tem a consciência da sua existência, também não questiona sobre "donde ela veio, para onde ela vai", não tem a identidade do SER (ser, existir como formiga), muito menos se existe uma força maior que a criou (Deus?)... se ela não tem consciência da sua existência, questionar a existência ou não de "Deus" menos ainda! O conceito de "Deus" em todas as suas formas, é uma abstração exclusiva do ser humano consciente da sua existência (pronto, agora a meia dúzia de pessoas queridas que lêem minhas melecas desistiram...).

E agora você deve estar se perguntando o que tudo isso tem haver com a criança síria morta? Ela morreu afogada pois estava num barquinho ilegal lotado de sírios fugindo da guerra civil, em busca de uma vida menos violenta, com menos fome, com menos perseguição política/religiosa, com menos pobreza... resumindo, em busca de uma vida melhor. Você acha que tem alguma formiga que se acha mais importante que outra, mais rica que outra formiga ou se sente ameaçada pelo estado islâmico? Não.

Pode parecer meio simplório, mas talvez esse seja o preço que pagamos por termos consciência da nossa existência, por SER(mos) e não apreender com o coletivo das formigas e a sabedoria da natureza. Precisamos apreender a SER(mos) indivíduos dentro do coletivo, dentro desse planeta! Senão, vamos nos extinguir e as formigas continuarão por ai... 

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Memória seletiva


Ola meus queridos(as)

As vezes penso dele, afinal de contas, por mais altos e baixos, foram uns bons anos de convivência. Em algum momento me arrependo da minha decisão? NÃO. Algo que ajuda muito nesse processo (pelo menos para mim), é saber que já passei por isso antes (claro que não dá mesma forma), doeu mas sobrevivi, reconstrui e, um belo dia, quando você menos percebeu, já era passado. Transformou-se em um pedacinho da sua estória de vida... alguém que você amou, e ficou em outro capítulo da sua vida. Precisamos escrever uma nova página a cada dia, e não reler a mesma página.

Outra coisa que me ajuda, e não estou incentivando ninguém a pensar dessa forma, pois devemos perdoar... é lembrar de tudo, e quando digo TUDO inclui todas as recaídas, minhas coisas (até a cadeirinha do I., iPad, bicicletas, dinheiro etc...) que ele desandou, as noites mal dormidas e por ai vai. Lembrar também das longas conversas, do carinho, do amor... Nosso grande problema, é a memória seletiva, queremos só lembrar das coisas boas, mas as ruins também fazem parte e não tem como serem apagadas. Não estou dizendo que devemos cultivá-las, apenas não jogar para baixo do tapete, pois também fazem parte da estória. 

Talvez seja algum mecanismo de sobrevivência, até para não revivermos a dor, mas nossa memória é seletiva, somos tendenciosos... e com o tempo as boas memórias se fortalecem, coloridas e as ruins se  diluem apagadas em tons cinzentos, como uma fotografia velha. Como dizem, brasileiro tem memória curta; ouso ir além, (independente da sua nacionalidade), temos uma memória seletiva, ela é curta para os eventos ruins que nos trouxeram tristeza mas é bem longa e duradoura para os eventos bons que nos trouxeram alegria. Por exemplo, tenho vagas memórias da separação dos meus pais, mais lembro vivamente todos os finais de semana (logo depois dele ter se mudado de casa) que meu pai vinha nos pegar (eu e minha irmã), e viajávamos para Angra do Reis, Monte Verde, Paraty, Ubatuba, Penedo etc... qualquer cidade num raio aceitável de SP (pensando bem hoje, acho que meu pai não sabia muito bem o que fazer com a gente, então VAMOS viajar). A separação e essas viagens semanais aconteceram na mesma época, qual a memória que eu guardo mais viva dentro de mim?

Isso é memória seletiva.





quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A leitura


Ola meus queridos(as)

Você lê para o seu filho? Melhor, você lê? Quando foi a última vez que você leu um livro? Você pega o metro e naquela meia hora você tira um livro da bolsa ou joga candy crush no celular?  O hábito da leitura esta desaparecendo...

Nesta nossa realidade acelerada, atropelada, tudo é fast; fast relacionamentos, fast internet, fast food... É tudo para ontem, e simplesmente parar tudo, pegar um livro e deixar sua imaginação fluir, não é fast. Ler é um ato reflexivo... Lembro que demorei quase um mês para ler Crime e Castigo do Dostoyevsky, a trilogia então O Tempo e o Vento do Érico Veríssimo me acompanhou por quase um trimestre. O gosto pela leitura sempre foi estimulado pelos meus pais, lembro desde pequena meus pais sempre com um livro na mão (até hoje meu pai tem uma pilha de livros do lado da cama, e lê três, quatro ao mesmo tempo, não sei como ele consegue!), a "biblioteca" era lugar de destaque na nossa casa! Quer o brinquedo novo da Estrela, espere o dia das crianças ou o Natal, quer um livro de ficção científica do Issac Asimov, claro, vamos na livraria hoje a tarde depois da sua aula... E assim eu passei horas e horas da minha infância no universo dos grandes escritores de ficção, acompanhada do próprio Asimov sua psicohistória e as três leis da robótica, Arthur Clark e sua odisséia no espaço, Aldous Huxley e seu admirável mundo novo, Júlio Verne e sua viagem ao centro da terra entre outros.

Enquanto estava me alfabetizando, e durante quase todo o meu ensino fundamental, não existia internet, muito menos o google... e meu maior tesouro era uma enciclopédia britânica Barsa, onde pesquisei os planetas do sistema solar, as eras glaciais, a vida as lulas gigantes e a hierarquia das formigas! Não estou aqui advogando que deveríamos voltar no tempo, a internet é uma importante ferramenta de pesquisa (quando bem utilizada); e toda a tecnologia disponível mudou um pouco a forma que educamos as crianças, mas não podemos deixar de ler para os nossos filhos. Já há algum tempo, começamos a bibliotequinha do I., ele fica fascinado toda vez que ganha um livro novo e pede para eu ler para ele antes de deitar. Suas estórias de pirata, de monstros, de robôs além dos clássicos, né? A escola do I. também dá muita importância a leitura, e olha que legal, no começo do semestre todas as crianças "doaram" um livro (no final do ano ele volta), e fizeram como um clube do livro, então toda semana ele traz um livro novo para casa, e devolvemos na outra semana quando um novo livro vêm.

Não podemos ser a última geração de seres humanos que cresceram com um livro na mão...


segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Meu professor de piano


Ola meus queridos(as)

Todos nós precisamos de novos projetos para nos reciclarmos, nos sentirmos vivos... Hoje, acordei determinada a volta a tocar piano! Faz séculos que não chego perto de um piano, o meu de calda (que ganhei num concurso décadas atrás esta empoeirando na casa da minha mãe; será difícil vendê-lo, vai partir meu coração MAS não tem como colocar um piano de calda aqui no nosso (aper)tamento, só se morar apenas o piano... e com o $ compro um, tão bom quanto, mais o que chamamos de piano de armário, talvez caiba).

Nunca fui uma pessoa muito artística, digamos que minha criatividade sempre foi limitada pela minha racionalidade, minhas piores notas no colégio sempre foram nas aulas de arte e educação física, é sério. Mas piano.... piano foi minha paixão por muitos anos, piano é dedicação, repetição, as partituras como equações, aonde as notas são variáveis, que gradualmente se unem numa melodia, contando uma estória.

Comecei como toda criança, lá pelos meus 8 anos com uma professora de bairro; lembro dela com carinho, seu sobrado cheirando a bolo de laranja (sempre tinha um bolinho para os alunos), as partituras amareladas espalhadas pela sala, o piano antigo, imponente ocupando seu lugar de destaque... e assim apreendi as notas musicais, a "ler" as partituras, as primeiras músicas, o romantismo dos prelúdios de Chopin, a erudição de Bach, a genialidade de Mozart, a chatice de Schubert (até hoje, não tem jeito, não gosto das suas composições), a intensidade de Rachmaninoff e seus concertos, a delicadeza de Debussy...  Minha mãe, percebeu meu genuíno interesse, e alugou um piano; e assim começaram horas e horas de prática diária. Quando eu estava de saco cheio, ia para o piano, quando estava contente, ia para o piano, quando estava com raiva, ia para o piano... ele era meu confidente, meu amigo, minha companhia de todos os momentos. E fui crescendo ao seu lado, as peças cada vez mais elaboradas e tecnicamente mais difíceis, até finalmente chegar na Marcha Turca de Mozart (é quase como escalar o Everest para uma pseudo pianista amadora como eu era)! Todo final de ano, a fofa da professora alugava um salão para o recital de final de ano dos alunos, todo mundo tocava alguma coisa, qualquer coisa (desde dos que não tocavam nada até os mais avançados); e aquele ano fui escolhida para fechar as apresentações com meus prelúdios de Chopin. E assim começou uma nova fase na minha vida, a professora fofa chamada Maria Lúcia me deu o telefone de um outro professor de piano, e disse que ela não tinha mais muito a me ensinar... E com lágrimas nos olhos me despedi dos seus bolos de laranja, e entrei no universo melancólico, dramático e esfumaçado do pianista aposentado A.

A. era velho, solteirão, dedos amarelos (era capaz de fumar 10 cigarros em menos de uma hora), um olhar triste mas INTENSO, tinha sido aluno da mais famosa pianista brasileira na época, Magda Tagliaferro, foi concertista, morou em Paris... E morava num apartamento entulhado de coisas velhas, as poltronas eram de um veludo desbotado, as paredes cobertas de posters antigos de recitais, um tapete que nunca viu a luz do sol, um cheiro de cigarro impregnante, e ocupando toda a sala, seu majestoso piano de calda Steinway! Tínhamos aula três vezes por semana, cada vez que entrava naquele elevador de manivela do seu prédio na Praça Rosevelt parecia que estava entrando numa cápsula do tempo. Ele era extremamente exigente, quando cheguei para uma aula com a mão enfaixada (pois tinha deslocado meu dedo jogando basquete) achei que ele iria me matar, foi categórico, largue o basquete ou o piano. Disse, teremos um concurso para pianistas amadores na biblioteca municipal, o prêmio, um piano de calda novíssimo Steinway e uma bolsa de estudos para ser aluna no conservatório brasileiro de música, já inscrevi você, temos três meses para preparar a peça, será Bach. Ah... para tudo!

Eu tinha 16/17 anos, estava me preparando para o vestibular, não conseguia mais passar 6 horas em cima de um piano, e muito menos me via uma concertista profissional (eu queria ser oceanógrafa)! Acho que ele projetava em mim o sucesso que ele teve no passado, e se alimentava disso; como se eu fosse algum aluno prodígio. Mas abracei o concurso com todo meu coração, foram inúmeras, infindáveis madrugadas praticando, praticando e praticando até meus dedos sangrarem. E durante meses eu apresentava a peça ao A. e ele com seu olhar enigmático repetia, falta alma, falta alma... técnica só não basta.

Chegou o dia da apresentação, entrei na biblioteca municipal tremendo, vestindo minha calça jeans e meu tesouro em baixo do braço, minha partitura Toca e Fuga em Ré menor de Bach que me acompanhou por meses (só por segurança, pois sabia de cor e salteado a peça). Ele me aguardava com duas caixas; são para você, se vista (porque, estou pelada por acaso?) e arrume esse cabelo; estarei na primeira fileira da platéia, boa sorte e não fique nervosa senão as mãos vão suar e escorregar no teclado. E assim ele foi, enquanto eu abria a primeira caixa e um sapato lindo de salto alto estava lá dentro, a segunda um vestido preto clássico, de magas longas, comprido de seda, com um decote bem sexy (para época) nas costas... Fiquei pasma!

Quando chamaram meu nome, subi naquele palco vestida como uma concertista, agradeci a platéia, tentei não olhar em direção nenhuma, sentei naquele piano lindíssimo e simplesmente toquei, quase em transe, mal escutei os aplausos quando enlouquecida, terminei de tocar a última nota. Levantei, e lá estava ele, em pé, aos prantos... Bravo, bravíssimo. E todo o auditório.

Ganhei, ganhamos; e no dia seguinte lá estava meu piano sendo entregue em casa! Toquei nele o dia inteiro, sem parar. Passei no vestibular, decidi ir para a federal no Rio Grande do Sul estudar oceanografia, e chegou o momento de dizer a ele que não aceitaria a bolsa no conservatório, e estaria me mudando para o sul...

Foi a última vez que o vi, não sei se quebrei seu coração, mas uns meses depois minha mãe me avisou que ele tinha infartado e morrido. Fiquei anos sem encostar num piano, mas chegou a hora de voltar a tocar, talvez, até para que ele me escute tocando novamente, sentado na sua poltrona surrada, com  seus olhos fechados, sendo transportando para outro universo enquanto a cinza do cigarro cai no tapete... meu professor, que me ensinou a ter alma!





domingo, 30 de agosto de 2015

Abuso


Ola meus queridos(as)

O Caiçara continua insistindo, querendo MAIS uma chance, sente a nossa falta, me ama, esta sofrendo e blablabla... Olha, daqui a pouco nem mais atendo suas ligações (e a cobrar), pois não tenho mais paciência para escutar a mesma estória e acabo sendo rude. Honestamente, acho que ele ainda não entendeu a dimensão da sua doença, e que EU não faço mais parte da sua vida e ponto final. Mas eu vou lutar por você e blablabla... tudo bem, vai nessa, faça o que você quiser, contando que seja BEM longe de mim neste momento (e se chegar perto eu chamo a polícia)! E só para lembrar, você não me ama, você ama a droga, e só esta falando comigo agora no telefone porque não tem um tostão furado no bolso senão eu saberia exatamente onde você estaria, e você também, na biqueira; então não enche o meu saco. Olha como fui, no mínimo, desagradável... 

Conversei com a única pessoa que eu escuto na minha vida, meu pai, ele sempre soube metade da estória (que ele é DQ, as internações porém nada mais detalhado, nunca achei necessário colocá-lo nesta situação, além da vergonha, né? A filhinha gênio dele metida num absurdo deste... não faz parte do nosso mundo). Ele foi categórico: ligar para nosso advogado amanhã; entrar com um "restraining order" (sei lá como chama isso em português, mas ele não pode chegar perto de mim ou do I.), pedido de guarda do I. sem direito a visitação (já que ele não paga nem nunca pagou pensão mesmo), testes toxicológicos e psicológicos atestando sua incapacidade parental e, finalmente, a longo prazo (pois o processo é complicado) perda dos seus direitos paternais (ou seja, ele deixa de ser pai do I.). Uh... achei meio radical essa última parte, mas as outras medidas judiciais, concordo plenamente e já estão sendo providenciadas... Meus queridos, a insanidade só escala e não diminui, senti medo, muito medo pela minha segurança física (péssimo dizer isso mas é verdade e não tenho o porque esconder nada de vocês). Acredito que ele não tomou nenhuma atitude mais drástica pois sabia que a segurança do prédio não deixaria ele entrar, fizesse chuva ou sol... É o que disse anteriormente, não menospreze uma pessoa desesperada com sei lá eu quantas pedras de crack na cabeça. 

E você, minha querida, se esta vivendo isso agora já, coloque um ponto final nisso. Não se permita sofrer esse abuso, que seja físico ou psicológico; se houver crianças envolvidas então, CORRA! Busque abrigo seguro, acredite, por mais escura que seja a noite, o sol sempre irá nascer amanhã! Mas você tem que se permitir, se dar o direito de ver o amanhecer e sair da eterna escuridão...

Gostaria de poder abraçar cada um de vocês, chacoalhar cada um de vocês e sussurrar gentilmente, se olhe no espelho, talvez o que você veja NÃO é quem você vê, esse trapo humano NÃO é você, esse ser sem esperança, NÃO é você... você é único, lindo, especial, e merece ser abraçado e amado! E de alguma forma muito especial, amo todos vocês que me ajudaram a olhar no espelho e ver além. 







iPad


Ola meus queridos(as)

Domingão tranquilo, encontro do clã no clube, meu pai, irmão (acho que nunca mencionei mas tenho um meio irmão na faculdade, é do segundo casamento do meu pai; um fofo mas não temos muito contato), minha irmã com o marido e os meus dois sobrinhos e o I. literalmente tocando fogo! As vezes é complicado, ele queria porque queria ir na piscina, não dá I. você esta com otite... senão vai piorar, e semana que vem não tem natação... ele entendeu? Claro que não, e quando ele se jogou no chão pela décima vez chamei um taxi, quis cavar um buraco (enquanto meus dois sobrinhos, um de três e outro de sete anos simplesmente sentadinhos, fixados nos seus respectivos iPads, comportados mas em outro mundo) e sai correndo! Deveria ter levado o iPad também? Que meleca... não sei. 

Por algum tempo controlamos a situação, eu e meu super pai revezando os turnos olhando ele no parquinho, enquanto eu terminava meu badejo ao molho de ervas, meu pai balançava o I.; enquanto meu pai devorava a rabada com agrião (não, meu pai não faz o gênero light MESMO) eu segurava o I. no trepa-trepa... e assim conseguimos sobreviver algumas horas, e até tomar umas cerveja.

Mas porque estou escrevendo tudo isso? É apenas uma reflexão, domingo no clube é dia das famílias; 80% das crianças que não estavam na piscina, ou estavam devidamente sentadas com seus iPads ou iPhones no restaurante, ou estavam dormindo num carrinho de bebê. Observei meu sobrinho mais velho, assim que terminou de comer, devidamente assessorado pela minha irmã, ligou o iPad e não soltou mais... não deu mais uma palavra, não interagiu com mais ninguém; poderia estar no sofá de casa ou no Tibet, não faria a mínima diferença. 

Sei que o I. esta fora da curva, senão não pagaríamos uma micro fortuna de psicóloga, né? Mas são nestes momentos que me questiono. Claro que o caminho mais fácil é levar o iPad, colocar num joguinho qualquer e tranquilamente almoçar, sem me preocupar se ele esta sentando ali do nosso lado ou em Marte. É o mais fácil... é o certo? 

Resumindo, o certo é sempre mais difícil... e precisamos estar preparadas para chamar um taxi e sair correndo a qualquer momento quando passar do limite, e você estiver beirando a insanidade pois sua paciência acabou!

P.S: Não tem fórmula mágica, mas ainda prefiro que o I. toque o puteiro, me tirando do sério e ESTAR presente do que ficar sentando como um robô, alienado, simplesmente interessado numa tela touch screen enquanto tanta VIDA acontece ao redor dele.