quarta-feira, 29 de abril de 2015

E assim ele foi embora


Ola meus queridos(as)

Hoje perdi metade do meu dia numa excursão indesejada mas necessária ao centro de atendimento da receita federal na Praça Ramos porque algum idiota 30 anos atrás digitou minha data de nascimento errado e meu CPF ficou irregular agora, 30 anos depois (como acontece essas coisas neste país? É absurdo). Enfim, problema resolvido (depois de 2 horas de espera), mas fiquei, primeiro com medo de andar pelo centro, segundo triste em ver o estado de degradação que o centro histórico de São Paulo se encontra.  Fazia anos que não andava por lá... Cheiro de urina em cada esquina, um ser humano imundo enrolado num cobertor a cada marquise, uma "gangue" de menores de rua procurando alguma vítima para ser assaltada, um "nóia" em cada quarteirão.  Não pude deixar de ver o Caiçara em cada um deles. Choque de realidade, enquanto tentava chegar no metrô estava falando com meu pai no celular, ele perguntou porque parecia que eu estava nervosa, expliquei aonde estava e descrevi o que estava vendo... ele simplesmente falou: filha, acho que esta na hora de voltar para os USA ou nunca mais sair da Vila Madalena porque São Paulo é isso que você esta vendo! Foi péssimo. Me senti um alienígena aterrizando num planeta estranho, feio, sujo; tive um micro ataque de pânico. 

Minha babá tem razão quando diz que eu não vivo neste mundo; outro dia cheguei em casa mais cedo, o I. estava na sua sonequinha da tarde, ela já tinha terminado seu trabalho e estava assistindo um destes programas que passa a tarde na TV aberta, só tragédia; a favela que pegou fogo não sei aonde, bebês morrendo numa maternidade super lotada e contaminada não sei aonde, a mãe e o padrasto que mataram uma criança de 9 anos não sei aonde, um idoso que foi espancado não sei aonde e por ai vai. Foram no máximo 10 minutos assistindo essa realidade, coloquei no Discovery channel e assistimos um programa maravilhoso sobre a provável idade do universo (quem se interessar, algo em torno de 14 bilhões de anos). 

Bom, as últimas, o Caiçara ligou ONTEM (depois de 6 dias sumidos); desta vez não teve marmitex, favor, nada. Na verdade, consegui finalmente dizer, "eu não te amo mais". Essa frase, por um segundo, ecoou até as fronteiras do universo de 14 bilhões de anos na velocidade da luz. E depois liguei para praia avisando que ele estava vivo, o marido da irmã do Caiçara (que esteve internado junto com ele, e já trocou duas fichas pretas do NA) veio resgatá-lo digamos assim...  e ele foi embora para praia, e não mora mais nesta cidade. Conversamos hoje (eu e o marido da irmã, preciso arrumar um nome para ele, J.), ofereci minha ajuda, porém expliquei que estou me distanciando do Caiçara (e não deles); o J. como um adicto em recuperação sabe como a banda toca, vai tentar trazer o Caiçara pro grupo do NA, impor algumas regras (afinal de contas a casa é deles, a irmã é evangélica e ele um adicto em recuperação), resumindo; linha dura! Talvez seja disso que ele precise, e honestamente, espero que ele recomece, se levante e apreenda a viver.

Enquanto isso, conversando com a psicóloga do I. resolvemos fazer um pacotão (filho e mãe); e depois de anos, lá volto eu para a terapia! 

domingo, 26 de abril de 2015

Cheguei, finalmente cheguei "lá"!


Ola meus queridos(as)

Gostaria de agradecer um comentário feito por uma companheira (espero poder chamá-la assim); pois parei e refleti... é só uma fase, passa, força! Pode até ser mais cheguei lá, se for mais uma fase ou não, se ele for entrar em recuperação ou não, se ele resolver colocar a vida dele no lugar ou não... eu cheguei lá! Sabe aquele "lá"?!!!! É um "lá" que quase cheguei outras vezes mas nunca alcancei, quando eu estava chegando quase lá algo me segurava, me impedia, de simplesmente chegar "lá". Porque eu permitia, ou eu não me permitia.... Engraçado como a vida é quando deixamos ela seguir seu curso! Almejar, sonhar, correr atrás e de repente, chegar "lá". 

Cheguei (ou acho que cheguei) neste lugar, sem amarras, sem peso, sem culpa, totalmente desprendida dele... a última vez que me senti assim foi quando me divorciei do meu primeiro casamento (que alias foi maravilhoso, 15 anos muito bem guardados na caixinha das boas memórias). Simplesmente cheguei "lá" e descobri que tudo bem, era o momento de deixá-lo ir, eu me permitir ir, por mais inseguro que fosse esse caminho. Foi doído, passei pelo velório da separação e pela certeza que tomei a decisão certa... Acho que começarei outro velório.

Não guardo nada, nem mágoa, nem raiva, nem ressentimento... acho que chegar "lá" é bem isso, você simplesmente não carrega mais nada, e quando todos esses sentimentos somem, você procura o que ficou e, que surpresa, não sobrou nada porque o amor já se foi faz tempo, mas ficou mascarado por todos esses outros. Meu amor (como homem e mulher) pelo Caiçara foi morrendo ao longo dos anos, a cada quebra de confiança, a cada noite sozinha, a cada aniversário do I., a cada Natal, a cada dia que ele simplesmente não estava... e assim tudo morre, se não é alimentado, cultivado, cuidado. 

Estou cavando aqui, bem no fundo, e não acho mais o amor que tinha por ele; posso ter carinho, compaixão, amizade, e tesão MAS amor, não estou achando. Aquele amor cheio de cumplicidade, de apóio, de compreensão, de comprometimento... cadê? Não estou achando. O amor que constrói, o amor que conforta, o amor que une, o amor que não se explica... cadê?

Na verdade faz um bom tempo que venho me questionando sobre o que realmente eu sinto por ele, depois de anos alguns a gente se acomoda, mistura tudo, e o liqüidificador só complica decodificar o que é, e o que não é. O fato dele ser um dependente químico pode ter acelerado o processo, talvez, ou simplesmente eu não o ame mais, independente da sua doença (meu primeiro marido não era um DQ e um dia, simplesmente o amor acabou). Ou seja, o amor pode acabar independente!

É tão mais fácil dizer eu te amo, do que "eu não te amo mais"....



sábado, 25 de abril de 2015

"Codalândia"


Ola meus queridos(as)

Já não é mais uma recaída, é ativa total. Sei aonde essa estória termina, internação... a compulsão do Caiçara é enorme e ele acordou o gigante monstro dento dele chamado droga. Meu receio é que desta vez ele tenha desistido, se entregado de corpo e alma (ou o que sobrou dela) ao crack. A única coisa que eu poderia fazer, e fiz foi ligar para a sua família na praia informando a situação. 

Claro que estaria mentindo se disesse que não estou preocupada, estou sim, mas nada mudou na minha vida; ao longo dos anos apreendi a não depender dele para absolutamente nada (nem a chave do meu apartamento ele tem). Logo, hoje esta sendo mais um sábado que levamos o I. para brincar no parquinho e depois comer batata frita na sua lanchonete preferida aqui na Vila. E enquanto ele tira sua sonequinha da tarde, resolvi passar por aqui e escrever um pouco.

Claro que estaria mentindo se disesse que não estou triste,  mas no fundo estou triste por ele, talvez ele tenha perdido essa batalha e acabe virando um "nóia" como tantos outros que perambulam pelas ruas das cidades, uns fantasmas, literalmente umas almas penadas... uns mortos vivos aprisionados pelo vício da droga. Desculpe se alguém lendo esta se sentindo nauseado, mas a realidade é essa. Uns anos atrás fiz alguns trabalhos voluntários na cracolândia, e digo, não é a disneylândia! Quando se perde a esperança, quando não se vê mais a luz no fim do túnel é para lá que eles vão.

Da mesma forma que existe a "cracolândia" do adicto, existe a do codependente também; vou batizar de "codalândia". Nesta terra chamada "codalândia" as noites são infindáveis, escuras e frias; nessa terra chamada "codalândia" não existe esperança, luz, carinho... apenas desespero, sofrimento e culpa. Nesta terra chamada "codalândia" reina a insanidade e a dor; todos os dias são cinzentos, chuvosos e nublados. Eu já morei lá a muito tempo atrás, e com muito apóio, muito amor próprio, muito grupo e muita vontade de ver o sol nascer novamente, fiz as minhas malas com o que tinha sobrado de mim (que era quase nada) e me mudei. 

Desde então criei mecanismos, desenvolvi ferramentas que me permitam não voltar mais a morar em "codalândia" independente das escolhas do outro. Apreendi que posso ficar triste, pode doer um pouco, e tudo bem pois sou uma pessoa como qualquer outra; mas gosto onde eu moro hoje e não estou planejando me mudar tão cedo. Só se for para melhor, uma casa na beira da praia em Waimanalo por exemplo! 

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Psicóloga


Ola meus queridos(as)

Outra sexta feira como essa, socorro! Ainda bem que existe um anjo da guarda ao meu lado, e não é nada figurativo mas a super babá/pau para toda obra (que veio trabalhar hoje no seu dia de folga e só foi embora depois que o I. estava dormindo na cama). 

Depois de inúmeras conversas com a escola, e o comportamento do I. aqui em casa totalmente ter mudado (para pior) ultimamente decidi procurar uma psicóloga infantil. A mais ou menos um mês começamos as sessões e hoje, provavelmente, foi revelador o fato que meu pequeno de três anos de idade REALMENTE precisa de um acompanhamento; que suas habilidades "sociais" digamos assim são deficientes frente as outras crianças, apesar da sua inteligência acentuada para sua idade. Resumindo, vamos embarcar nesse processo na tentativa de acessar o "mundinho" do I.  e integrá-lo ao resto do mundo. Desmoronei... me senti um fracasso como mãe, alias resolvemos fazer um pacotão terapêutico, mãe e filho (semana que vêm sou eu).  Honestamente, aqui dentro, senti um gigante alívio pois ultimamente não sei o que fazer, estou sempre me questionando se estou fazendo o melhor para o I., se estou o educando da melhor forma, se estou sendo rígida demais, se estou sendo flexível demais... Enfim, saber que agora tenho uma profissional comigo, ao meu lado tirou um peso enorme das minhas costas; não a minha responsabilidade, afinal de contas o filho é meu, mas saber que agora além de mim, existe outra pessoa neste time com a qual eu posso contar para me ajudar nesse difícil (mas gratificante) caminho chamado "educar um filho"! Ser mãe, alias conversando um pouco na sessão, falei brincando: mãe não tem nome; mas é um pouco verdade, o I. nunca me chamou pelo meu nome (provavelmente ele nem sabe que eu tenho um nome além de "mãe").  A psicóloga simplesmente disse: precisamos resgatar esse nome.

Nestas últimas duas semanas o I. esta muito inquieto, birrento, agressivo (mordeu a babá hoje, tentou me morder, teve um chilique na rua daqueles homéricos, bateu a cabeça no chão porque estava frustrado, não quer comer, simplesmente não consegui lidar com o "não pode", etc...); não posso deixar de fazer uma associação entre esse comportamento e o "momento" do Caiçara (e o meu por extensão, pois por mais que eu esconda minha tristeza, o I. é uma criança muito sensível; hoje por exemplo, quando a babá foi pegá-lo na escola ele falou, a mamãe esta triste; isso porque o I. nunca me viu chorar). Resumindo, por mais que o I. não vivência isso, ele acaba sendo afetado indiretamente e ISSO não é justo!!! As vezes fico puta comigo, poderia ter escolhido um pai melhor né? Não estou colocando tudo na conta do adicto, mas que gera um desequilíbrio é fato; e chegou o momento de priorizar; e a prioridade é e sempre será o I. e seu bem estar. E se isso implica em excluir a presença do Caiçara das nossas vidas, que seja. 

Alguns resquícios "pre-conceituosos", ou vergonha mesmo ainda me impedem de abrir o jogo com a psicóloga sobre a realidade do pai do meu filho ser um dependente químico. Sei que essa informação será relevante para ela neste processo mas, simplesmente, ainda não consegui. Mas eu chego lá!

P.S: Como previsto pelo oráculo, o Caiçara esta sumido. 


quinta-feira, 23 de abril de 2015

Maré


Ola meus queridos(as)

Cheguei em mais uma encruzilhada, e aqui estou eu olhando para trás, olhando para frente... E aos poucos tomo lentamente a decisão de continuar sozinha nesta caminhada. Mais uma vez as velhas escolhas. Nestes últimos dias confesso que não estou bem, fiquei no meu canto, absorvendo, digerindo, regurgitando... aturando sua presença (é bem essa a palavra). Hoje, ele resolveu arrumar uma desculpa qualquer para encher o meu saco, jogando na minha cara a falta de coragem de "admitir" algo que eu nunca fiz (antes tivesse feito)... maluquices de adictos, insegurança, e um bom dinheiro que ele recebeu da rescisão do contrato (óbvio que ele foi demitido). Será que 2.500 reais serão o suficiente para ele ter uma overdose desta vez?!!! Sei lá. O que eu sei é que tenho meus limites, e alguns deles eu ultrapassei e não gostei de ter feito isso pois me fez mal. Alias estou chegando a conclusão que ELE esta me fazendo mal novamente. 

Trilhões de coisas na minha cabeça, concretas que precisam ser "resolvidas", e a pessoa que deveria ser meu porto seguro, meu alicerce é apenas uma das "trilhões" de coisas na minha cabeça (o que complica). Não procuro perfeição, longe disso, mas compreensão.... mais uma vez tive que gritar dentro de mim: SOU GENTE! Chega. E lá foi ele (provavelmente para alguma biqueira, ou não, mas enfim, foi). E o ar ficou mais leve, o I. dormiu melhor e eu resolvi olhar em volta de mim e mudar algumas coisas que estavam me incomodando, como a sua presença constante. 

Parece que fui afogada novamente pela maré cheia, e agora que a maré baixou e consegui sobreviver de novo,  dou mais valor a liberdade de respirar, de ser e foda-se! Odeio me sentir sufocada, e ele esta(va) me sufocando...  E opto por buscar a superfície, o sol, o mar do qual sinto tanta falta! As ondas quebrando na praia, a maresia inebriante, a areia nos pés, os abraços sinceros... paz! E assim busco refúgio no único lugar aonde tudo faz sentido! E por lá devo passar uns bons dias.

Não estou fugindo, nem tenho porque, mas voltando (nem que seja temporariamente) para o meu lugar e se o Caiçara for engolido pela selva de pedra, que seja! 



segunda-feira, 20 de abril de 2015

Shape of my heart


Ola meus queridos(as)

Eu o conheci anos atrás, ainda era uma estudante de mestrado querendo provar o quão inteligente eu era (ops, sou), e fui convidada para fazer parte da equipe científica que coletaria os dados num embarque oceanográfico, partindo de Miami (aonde eu morava na época) e desembarcando em Trinidad Tobago 25 dias depois...  Uma proposta única (vieram outras depois, bem mais legais como um embarque de 45 dias na África do Sul) mas lá fui eu, embarcar naquele navio oceanográfico, com todas as regalias de ser uma pesquisadora (tinha minha própria cabine!). A rotina era puxada, 12 horas trabalhando e 12 horas fora.... entende-se 12 horas trabalhando na frente de um computador conectado aos instrumentos descendo 2 mil metros de profundidade em tempo real, CTD/ADCP enfim, não vou entrar nos detalhes técnicos dos instrumentos mas, eu precisa estar em contato com a pessoa da tripulação que operava o guincho (que descia os instrumentos) o tempo todo... Depois de alguns dias começou a ficar monótono, e começamos a conversar pelo rádio... os casts (descidas dos instrumentos) eram longos, 6/8 horas. E aos poucos fomos expandindo nossas conversas, ele falava um pouco dele, eu um pouco de mim até que um final de tarde lindo aonde o por do sol no mar do Caribe foi desenhado a dedo (estava terminando minhas 12 horas graças a Deus, exausta), ele perguntou se eu precisava de uma massagem... Opa! Disse que SIM, mas até então eu não sabia quem ele era, apenas um voz que operava o guincho que descida nosso material de coleta que custava uma micro fortuna.... Ele apenas falou:  eu vejo você todo dia, a vários dias; só você não me vê! Se quiser a massagem deixe a porta aberta da sua cabine. 

Está parecendo até filme pornô né? Mas não, eu o amei e muito. Deixei a porta da cabine aberta, tomei banho (outro privilégio, meu banheiro particular na cabine) e quando entrei no quarto o vi pela primeira vez me esperando, simplesmente com um sorriso mágico, cabelos grisalhos rebeldes, uma "barriguinha" adorável (sim, ele era mais velho que eu, mais amável do que eu, mas sábio do que eu), e com seu inglês californiado pediu que eu deitasse no chão e até hoje estou procurando uma massagem como aquela! Ele foi um gentleman, quem não aguentou e atacou meu marinheiro fui eu... 
E assim foram todos os outros 20 dias.... até desembarcarmos em Trinidad Tobago, lá fui eu para o mega super resort pago pelo projeto, no dia seguinte eu voltaria para os USA e ele seguiria com a tripulação para a Patagônia.... e eu chorei, honestamente chorei enquanto aquele avião levantava vôo. Minha vontade era de simplesmente pular daquele avião, da mesma forma que ele queria pular daquele barco... E essa foi mais uma vez que eu chorei deixando alguém que eu amava para trás num aeroporto qualquer perdido no meio do nada.

Durante meses recebia cartões postais dele, África do Sul,  Índia, Islândia, Hawaii, Alaska, Japão... e a cada cartão postal meu coração aquecia, acreditava que poderia ser! Mas chegou o momento de voltar para o Brasil e defender a tese (e decidir o que faria com o P. também, que acabou sendo meu marido mais amado depois). E perdemos contato... Poucos anos depois, antes de eu voltar aos USA para meu doutorado (de casório marcado), fui convidada novamente para um embarque como pesquisadora (agora responsável pelo projeto) saindo das Guianas Francesas até Natal, 30 dias no máximo (era o programado). Como queria "sair" um pouco da universidade, do futuro marido, aceitei... e qual a minha surpresa?!!!!! 

Aterrisei em Cayenne (honestamente, no meio da selva Amazônia, nem sei como) mais uma vez me colocaram num resort chatérrimo com um monte de franceses por alguns dias até o navio estar pronto, mas como eu não gosto de comida de hotel, e queria conhecer um pouco a cidade lá fui jantar num restaurante local (talvez até demais, pois cérebro de macaco complica um pouco para o meu paladar), quando estava saindo do restaurante, e lembro disso como se fosse ontem, tropecei na calçada (se é que dar para classificar aquelas ruas como ruas e calçadas como calçadas, a situação lá é feia).... uma dor horrível, torci meu tornozelo e uma mão me ajudou a levantar, me abraçou e mesmo sem abrir os olhos eu sabia que era ele, meu marinheiro.  Inesperado, não sabia que ele estava na tripulação do embarque, ele olhou para mim e disse: como a nossa pesquisadora chefe esta no chão?!!! E rimos o caminho todo até o "pseudo" hospital.... E lá foram mais 30 dias embarcados, que eu o amei! Nos amamos.... shape of my heart, é a música do Sting do filme que gostámos de assistir depois de 15 horas no deck sem parar, The Professional.... eu apenas deitava minha cabeça no seu colo e o mundo encolhia, no por do sol no oceano Atlântico! E hoje eu sei, em qualquer oceano! 
Sinto falta do mar, de olhar em todas as direções e apenas ver o infinito mar e você!

James, como você disse tantas vezes.... Tha's not the shape of my heart! And I'm glad to know the real shape of your heart! I'm sorry, I didn't give us a change.



Fria


Ola meus queridos(as)

Claro que ele apareceu, estrupiado, destruído, MAS desta vez eu me dei o direito de não vivenciar isso.  Ele ligou, eu não atendi.... ele ligou, eu continuei não atendendo, até porque estou sem tempo para nada! Os dias foram passando, ele continuando ligando (que saco), acabei atendendo. Desta vez foi diferente, sem manipulações, joguinhos, nada... ele simplesmente disse que estava com fome, e EU ao invez de mandar um marmitex deixei ele vir para minha casa e devorar metade da geladeira. 

Fiquei puta comigo mesmo, pois estava fazendo algo que não queria MAS simplesmente depois de anos e anos, talvez fizesse o mesmo para qualquer um; existe algo dentro de mim que me impede de ignorar a dor do outro (qualquer outro que esse seja). Outro dia fiquei parada no farol olhando aquele ser fantasmagórico pedindo comida, imundo, ele cheirava tão mal que parecia o aterro sanitário.... mas não consegui ignorar a sua existência; dei o lanche do I. para ele. O quanto mais tempo passaremos nos preocupando com o que não tem importância? Quando o "mendigo" cheirando pior que esgoto esta ali, na sua frente, o que fazer? O que 99% das pessoas fazem, fechar a janela do carro e ignorar... eu não consigo mais fazer isso. Claro que não vou abrir uma ONG para ajudar esses espíritos que precisam de ajuda (quem sou eu), mas também não consigo mais simplesmente tropeçar neles como se não existissem... O lanche do I. que dei para o mendigo vai resolver alguma coisa? Claro que não, longe disso. Mas por um segundo "nós" nos vimos, ele olhou para mim e eu olhei para ele (por mais que fosse sofrido para ambos), e é isso mesmo queridos que esta faltando... nos olharmos! As pessoas não se olham mais, elas simplesmente passam enlouquecidas umas pelas outras focadas no que mesmo? E o tempo passa, e cobra a fatura... por termos negligenciado aquele "mendigo"na esquina. Os poucos  queridos que ainda seguem esse blog entenderam a metáfora!

As vezes ainda dói, as vezes não MAS quem recaiu foi ele, não eu. Engraçado, não falei nada, não perguntei nada (até porque é sempre a mesma estória) e de repente, do nada ELE sentiu uma enorme vontade de vomitar, tudo e mais um pouco...vou poupar vocês meus queridos dos detalhes, até porque hoje, para mim tanto faz quanto fez, se foram 50 pedras de crack ou 500. Desta vez, minha super babá/pau para todos obra que sabe de tudo (e tem um pezinho do lado de lá) "olhou" para mim e perguntou: e se desta vez ele morreu? Fiquei sem resposta... mas confesso que a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi, "bom a gente enterra". Será que estou ficando tão "fria"assim? 



sexta-feira, 10 de abril de 2015

Abacaxis para descascar


Ola meus queridos(as)

É com um certo pesar que escrevo este post, infelizmente o ciclo se perpetua... o Caiçara esta sumido a quase 48 horas, mais um celular perdido, mais 7 meses limpos jogados no lixo, talvez mais um bom emprego indo pras cucuias, e mais uma vez eu aqui, realmente me questionando se é esse tipo de relação que eu quero para minha vida; que a duras penas, eu consigo manter equilibrada e saudável. 

A única coisa que consigo sentir é compaixão, pois sei que quando o $ acabar junto do efeito da droga, ele estará sofrendo e MUITO mas eu não tenho como diminuir sua dor, mais uma vez ele terá que passar por ela sozinho. Com minha codependência adormecida, nada mudou, não perdi nem um minuto de sono, o I. continua na sua rotina e eu na minha, com uma exceção; me dei o direito de passar a manhã inteira no salão; voltei a ser loura!!!! 

Minha vida anda tão maluca ultimamente, tantas coisas "pseudo" urgentes para serem resolvidas, terminando a pós-graduação, gigantes projetos sustentáveis sobre minha supervisão, viajando a trabalho quase toda semana, o I. com problemas na escola (pois é, segundo a escola meu filho é o Hannibal the cannibal; qualquer coisa que se mexa na frente dele, incluindo os coleguinhas, ele morde)... enfim, inúmeros abacaxis para descascar; e agora mais um. 

Tudo nas nossas vidas se resumem a escolhas, e a pergunta de um milhão de dólares é: eu escolho continuar ao lado dele? Não sei, estou flertando seriamente com a opção de simplesmente ficar sozinha por um tempo. Eu acredito piamente na recuperação de qualquer pessoas, acredito que ele possa viver em recuperação e ser feliz; só não sei se quero esperar mais por isso; esperança eu tenho, mas o tempo passa, a idade esta chegando (não sou mais nenhuma menininha) e confesso, estou cansada. Não tenho mais a mesma energia e determinação de antes, será que quero continuar utilizando minha energia nesta relação? Será que não tenho outras prioridades nas quais essa energia seria melhor utilizada? Outros projetos, ou meu próprio filho que esteja precisando mais de mim e seria beneficiado com uma dose "extra" de energia?! Alguns de vocês meus queridos podem estar pensando: mas tem "energia" para tudo isso, cabe todo mundo... Olha, a verdade é que não! Nem na teoria relativista a energia é infinita ou o universo.