segunda-feira, 11 de março de 2013

A codependência atravessa o Pacífico


Honolulu, 17 de Fevereiro de 2013

Caiçara,

Chegamos aqui cedíssimo, depois de um vôo longo e cansativo, e ao invés de eu descansar não, recebi seu email (as 6 da manhã) e fiquei preocupada pois você não tinha compreendido nada. De acordo com suas palavras, estava triste e pensativo (e me senti culpada, olha a codependência ai gente!). Tentei ligar várias vezes, e quando finalmente consigo falar com você mais um desastre...estou chegando a conclusão que estamos voltado a estaca zero, comunicação zero, compreensão zero, cobrança mil, paranóia mil. Não são números muito animadores...

Esta na hora de você começar a me dar um pouco mais de valor e, acima de tudo, respeito! Se você acha que por um passeio de barco, meia duzia de cervejas e carência eu iria para cama com outra pessoa (mais ainda um ex-marido, se eu quisesse continuar indo para a cama com ele, ele não seria meu ex-marido e sim marido, faz sentido nesta sua cabeça?) você realmente não me conhece! Pior, sinto-me extremamente ofendida e desvalorizada nos meus sentimentos por você. Se você não confia em mim, no amor que eu tenho por você eu estou fazendo exatamente o que nesta estória? Só me avise pois, honestamente, fazer parte desta estória não é fácil. Analisando racionalmente, em algum momento no nosso relacionamento eu dei motivo para você não confiar em mim? Mesmo quando as coisas estavam uma gigante merda? Mesmo quando você simplesmente sumia com meu dinheiro, meu carro etc...? Eu estava aonde? Tomando cerveja no motel com meia dúzia de homens? Não! Eu estava em casa, me descabelando, esperando você voltar e depois reparar os danos que você causou. Ou seja, eu tive e tenho todas as razões e oportunidades de dar um enorme pé na sua bunda...mas uma coisa que eu não tenho controle me impede (e não é o I.), é o amor que sinto por você, então dê mais valor a isso e me respeite!

Cresça Caiçara, depois desse seu momento ciumento/machista/inseguro/medo/possessivo e sei lá eu mais o quê sinto que ainda esta faltando e muito! Você esta apreendendo (espero) que suas ações têm consequências, e a consequência dessa sua atitude é esta, fiquei muito magoada mais uma vez com a sua desconfiança (mesmo eu tentando esclarecer as coisas no telefone pois achei que teria sido apenas um mal entendido) e acabo me afastando emocionamente mais uma vez. Pare de sabotar o amor que tenho por você...tudo tem limite.

Também achei um absurdo você questionar a segurança do I., quem você pensa que eu sou? Alias quem é você (pai do ano) para imaginar que eu colocaria o I. em alguma situação de risco?
O barco (na verdade é um iate), é novíssimo com toda a tecnologia disponível hoje, eles navegaram com ele mês passado da Nova Zelândia até aqui, com toda a documentação necessária (e aqui nos USA não tem rolo não), super confortável e seguro...Que tipo de mãe você acha que eu sou? Ah, é que você deve estar acostumado com umas e outras por ai (sem nomes né?). Não confunda...eu sou a Dona Barriga, mãe do I., não esqueça! E nunca mais se esqueça disso, estamos entendidos?! Alias, a pergunta é, que tipo de pai você é? Não questione minhas decisões como mãe enquanto você não for um pai responsável, pois desde que o I. nasceu quem é responsável por ele sou eu (não que esse tenha sido o plano original, a idéia é que fossemos nós dois juntos...mas você nunca se responsabilizou por nada, e sim sobrou para mim!). Enfim, não toque mais neste assunto porque ai sim, teremos a briga do século!

E sabe o que me irrita mais? Eu comigo mesmo. Do outro lado do mundo, exausta, recebo seu email e pronto...fico preocupada, querendo tentar ajudar e olha que beleza! Só acabo me complicando mesmo e me machucando, antes tivesse deixado você fantasiar suas inseguranças o quanto você quisesse. Codependência me pega as vezes, qualquer outra pessoa simplesmente leria seu email e pensaria, que pena, ele não entendeu nada...bom fazer o que, vou dormir porque viajei 12 horas + 4. Mas estou aprendendo, um dai eu chego lá!

Mas algumas poucas coisas já apreendi, e não vou deixar esse momento Caiçara estragar minha chegada na minha tão amanda ilha! Nunca esqueci o azul turquesa deste mar, a sensação de olhar pela janela depois de inúmeras horas de vôo e avistar as ilhas pela primeira vez, como um oásis no meio deste enorme oceano, descer do avião e sentir o calor aconchegante, o aroma das plumérias...e os amigos esperando no desembarque com as leis (colares de flores) dizendo Aloha!

O I. esta meio “sem horários”por causa do fuso, depois que chegamos ele dormiu quase a manhã toda, acordou depois do almoço (comeu super bem, a Ro – que cozinha muito- fez um feijão com uma carne seca que eu trouxe) e ficou pilhado...consegui colocar ele para dormir eram quase 10 da noite. Daqui uns dois/três dias ele entra no ritmo, até eu fico meio zumbi nos primeiros dias. Depois que consegui fazer o Iago dormir, a S. (filha da Ro) ficou de baby sitter (alias levei um choque quado vi a menina, moça! Já esta na faculdade e tudo...conheci ela tão pequenininha, como o tempo passou mesmo...), pois combinaram um jantar no meu restaurante favorito (nem acredito que a Ro lembrou disso, é um tailandês perto de Waikiki!). Quando chegamos fiquei imensamente feliz, muitos amigos queridos de longa data, pessoas que estudaram comigo na universidade, americanos, brasileiros! Fiquei profundamente emocionada...reencontrar tantas pessoas que, nem sei as vezes, porque deixei para trás...ou faz parte da vida mesmo, as despedidas e os encontros, os encontros e as despedidas...um ciclo.

Hoje acordei e prometi para mim que, faça o que você fizer, diga o que você dizer, escreva o que você escrever...sinta o que você sentir são todos atos seus e eu não vou mais tentar resolver nada (pois eu não tenho este poder mesmo), não vou mais me abalar (pois acabo sempre me machucando), não vou mais interferir (porque ninguém me escuta mesmo, começando por você)...não vou mais nada! Quem tem que me reconquistar, quem tem que me respeitar, quem tem que me amar, quem tem que provar que vale a pena é você! Sabe quando você vai no cinema assistir um filme e espera um final feliz? Sou eu sentada naquela primeira fila aguardando o final feliz comendo pipoca.

E assim vou para Kaimana beach, passar o resto do dia com o pequeno. Precisei viajar até o outro lado no mundo para me lembrar que viver é bom, a vida é uma benção e que eu passei tempo demais sem viver...a minha vida. A minha vida, que teve, tem e sempre terá suas ondulações, altos e baixos mas, agradeço ao Poder Superior (que sempre esteve do meu lado, mesmo eu não sabendo) pois é uma vida maravilhosa! Uma família amorosa e compreensiva (com nossos problemas claro), amigos queridos, experiências únicas (já vi e fiz muita coisa), um filho simplesmente lindo que é tudo para mim, e um amor sem tamanho por você (espero que correspondido a altura).

Então só tenho a agredecer, hoje e sempre!

Mas eu confesso, estou cansando dos nossos atritos. Talvez este tempo seja mais do que necessário, quem sabe você apreenda a dar valor ao que você ainda têm e comece a me tratar com mais amor, carinho, compreensão e, acima de tudo, o respeito que eu mereço. Não vou me contentar com nada mesmo do que isso. Desculpe, mas estou deixando meus limites muito claros. Sei que facilitei demais para você, deixei você me manipular, você me desvalorizar, você me tratar como um lixo as vezes...mas a realidade hoje é outra.

Também estou olhando com cuidado o que posso contribuir para mudar a dinâmica da nossa relação, pois nem sempre o respeitei (ficava meio impossível né?), acabei assumindo papéis que não são meus e sim, inúmeras vezes não levei você a sério por tratá-lo como um adolescente mau resolvido e rebelde (você também se comportava como um). E acabei me sobrecarregando, pois não tinha como dividir as responsabilidades com você. E acabei me fechando, pois não tinha como me abrir...meu companheiro não era um companheiro para “todas as horas” eu não podia contar com ele, então fui me fechando e resolvendo (ou não) mas tomando decisões independente dele, das opiniões dele, dos sentimentos dele. E acabei virando uma ditadora por falta de opção mesmo! Então eu também preciso reapreender a como me relacionar com esse “novo”companheiro, mais adulto, saber que eu posso confiar nele, pedir ajuda, apoio, colo...e que as decisões que dizem respeito a nossa relação e ao nosso filho possam ser tomadas em conjunto levando em conta os meus sentimentos e os dele. Criando este espaço de cooperação que até então, não existia. Resumindo, eu também preciso olhar você com mais respeito e consideração (mas como você mesmo disse, o processo é lento). Enfim, aguardo carinhosamente este “novo”companheiro porque, honestamente, estou meio de saco cheio do “velho”companheiro.

Beijos,
Dona Barriga

P.S: O Hawaii continua lindo!

P.P.S: Na sexta voamos para a Big Island (meia horinha de vôo, rapidinho) e no sábado estaremos embarcando. O C. tem um celular que funciona via satélite geostacionário (tipo exército), mas fico sem graça de pedir emprestado pois as ligações são caras e é mais para uma situação de emergência mesmo se o rádio não funcionar, por exemplo. O meu, em alto mar não vai ter sinal. Enfim, poderia tentar ligar na sexta mas depende de vocês conversarem ai. Só me avise.

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