segunda-feira, 27 de julho de 2015

Nasce uma mãe


Ola meus queridos(as)

Fazem quatro anos que nasceu uma mãe dentro de mim, há exatamente 4 anos eu subia a serra com um barrigão de 38 semanas achando que ainda teria uns dias para terminar de resolver as últimas coisinhas para sua chegada, quando no meio da Imigrantes comecei a achar que o que estava sentindo não eram apenas gases (pois é queridos, mulher grávida peita e MUITO). Existem várias coisas, não tão fofas sobre gestação que ninguém conta, essa é uma delas, além de você fazer xixi em qualquer lugar a qualquer hora (inclusive nas calças mesmo)!

Quando chegamos na Av. Paulista não teve mais como me convencer do contrário, estava em trabalho de parto! E o Caiçara dando risada que nós seríamos notícia no Datena: Mulher dá a luz em plena Avenida Paulista presa no trânsito. Consegui chegar na casa da minha mãe aos trancos e barrancos (claro que EU estava dirigindo), liga para Deus e todo mundo, entre uma contração e outra levo um sermão da minha obstetra, eu falei para você subir para São Paulo duas semanas atrás e blablabla, corre pro hospital, estou avisando eles que você esta chegando e vou sair correndo para lá (ela estava do outro lado da cidade, isso era 6 da tarde)! Minha mãe assume a direção do carro e sai que nem uma louca, moramos na Vila Madalena e o hospital São Luis é em Santo Amaro, para quem conhece SP não é longe MAS as 6 da tarde qualquer coisa é longe, até a padaria da esquina... Calma, vamos contar o tempo entre as contrações, 1, 2, 3, 4, 5 aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Fiz xixi de novo, NÃO sua anta, sua bolsa rompeu. Calma, o hospital é duas quadras daqui.

Ufa, chegamos, me colocam numa cadeira de rodas, sai um monte de enfermeiros lá de dentro, me levam para a triagem, e assim que vi a cara de espanto de uma delas quando fazia o toque, ela gritou "sobe agora, 8 de dilatação, está NASCEEEEEENNNNNNNNNNDO" percebi que era sério, e não iria durar muito. Foi tudo muito rápido, minha médica chegou no último segundo, literalmente a tempo de pegá-lo saindo de dentro de mim, e como tinha tomado uma epidural, os momentos finais foram sem nenhuma dor. E enquanto eu discutia com o anestesista quais eram os melhores restaurantes japoneses em Sampa, escutei ele chorar. Nasceu! Parabéns mamãe, é um lindo saudável menino. Uh........ mas já? Não estou pronta, para tudo! Põe ele de volta ai dentro... 

Não tem como colocar ele de volta lá dentro, não tem como não sentir a responsabilidade de "virar" mãe de um minuto para o outro, não tem como não olhar aquele ser vivo que você gerou pela primeira vez e não se sentir perdida, assustada e feliz... Não tem como não o amá-lo instantaneamente! É o único e verdadeiro amor a primeira vista mesmo!

Feliz aniversário I.!!!! 


sábado, 25 de julho de 2015

O medo do mar


Ola meus queridos(as)

Sei que falo e pouco falo dele... meu primeiro marido o P. É difícil falar dele? Não, mas realmente nem sei por onde começar, foram longos e curtos 15 anos ou mais, ninguém contava. Vivemos tanta coisa, crescemos juntos, viajamos juntos, construímos juntos, brigamos juntos, nos amamos muito e MUITO e MUITO mesmo... Era para sempre, mas não foi. Foi para sempre enquanto durou. Acho que nunca realmente escrevi sobre isso porque não sei por onde começar, um post apenas não seria suficiente para fazer jus ao que realmente vivemos, ele merece um blog inteiro!!!! Então, hoje, senti vontade de falar dele sem nenhuma ordem cronológica.

Seus cabelos já eram grisalhos quando o conheci (apesar de ser alguns poucos anos mais velho que eu e estarmos começando a faculdade), e ao longo dos anos ficaram mais brancos e lindos, alto, esguio, e com toda essa postura, era um pouco inseguro, sensível e pela primeira vez (de muitas) o vi chorar, procurando meu colo numa madrugada de tempestade. Minha casa (quase nossa nessa época, pois gradualmente ele foi se mudando, uma cueca, uma escova de dente... até ficar com a cópia da chave), era próxima à praia, escutávamos as ondas quebrar a noite gentilmente na praia, até chegar o inverno; e o oceano inteiro se rebelou em enormes ressacas, invadindo a praia, ecoando em todos os cantos, mostrando sua força... e foi numa destas noites frias de tempestades que ele me segurou como se fossemos afundar, embaixo dos cobertores, e o fogão a lenha esquentando o quarto...mas lá dentro dele, tudo era frio. E ele chorou com uma criança, com medo e assim fiquei sabendo que o seu pai tinha morrido afogado alguns anos atrás.

Ele não estava (e se sentia culpado pois não foi), apenas a mãe e o irmão na praia, seu pai simplesmente entrou no mar e nunca mais voltou... e tudo mudou na sua vida depois que recebeu aquele telefonema. Ele tinha uma tristeza profunda dentro dele, que com os anos foi apreendendo a conviver, e amar novamente... viver de novo! E como! Não tinha churrasqueiro melhor que ele, não tinha amigo melhor que ele, não tinha companheiro melhor que ele, não tinha amante melhor que ele... não tinha amor melhor que o dele!!!! Porque ele não simplesmente te amava, ele profundamente TE AMAVA, se unia a você de uma forma inexplicável, ele olhava para dentro de você e sabia tudo!

Mas nas noites de tempestade, quando o mar crescia, enorme, barulhento... ele se agarrava a mim desesperado enquanto eu tentava o acalmar, e acalentar como uma criança assustada. Mas mesmo assim, ele foi ser oceanógrafo, e ama o mar tanto quanto eu! 

Shopping inferno


Ola meus queridos(as)

Talvez eu seja um ser estranho, e o meu filho vai pelo mesmo caminho mas nós, e digo NÓS odiamos shopping center. Perder horas procurando uma vaga no estacionamento, mais horas andando num lugar extremamente claustrofóbio, lotado de paulistas enlouquecidos, com direito a praça de alimentação barulhenta, crianças gritando para todos os lados (quem inventou isso? O que esta de errado em sentar tranquilamente num bom restaurante e comer COMIDA e não plástico?). Shopping para mim é algo parecido com o inferno. MAS a minha mãe insistiu, voltou de New York essa semana querendo ser vó do I. (que ela nunca foi), vamos almoçar no shopping, passar um tempo juntos! NÃO vai dar certo, quer passar um tempo junto vamos no aquário, ou vamos almoçar num restaurante gostosinho aqui na Vila... adiantou? Claro que não, e lá fomos nós e eu já sabendo que ia dar merda.

Dez horas depois, conseguimos estacionar (e era vaga de idoso, mas ela é idosa mesmo e digo MESMO de cabeça, porque o resto das suas funções fisiológicas funcionam muito bem obrigada), identifico um pseudo restaurante que o I. pseudo gosta, ótimo, 20 minutos de espera, ok... não para ela, vamos na praça de alimentação é mais rápido (quem esta com pressa?), tem um M. da felicidade lá... Para tudo, meu filho não come plástico, alias expliquei para minha mãe que nem fungo come Big Mac, é sério, para quem se interessar procure no youtube um experimento que fizeram, compraram um Big Mac com batatas fritas e um x-salada qualquer de uma lanchonete... seis meses depois o Big Mac estava do mesmo jeito e as batatas então intactas, enquanto o x-salada da lanchonete qualquer totalmente podre e decomposto... Ou seja, é tanto conservante que NEM os fungos comem aquilo. Resumindo, tinha um pseudo fast food que realmente FAZ o hambúrguer, caos, ela insistindo que ele comesse, o I. enlouquecido com aquele bombardeamento de estímulos, luz, barulho, multidão... Chega, vamos embora. Mas eu já pedi, não tem nem mesa nesse campo de batalha e eu não vou sair no braço com ninguém para conseguir sentar então foda-se, manda enfiar numa sacola, take out e VAMOS EMBORA! E o I. totalmente estressado... e ela totalmente perdida e eu, fazendo o que sei, manter o mínimo de equilíbrio.

Resumindo, catástrofe total! Puxa, é tão difícil assim de entender? Sei que ela estava com as melhores intenções da face da terra, dou um crédito por pelo menos querer passar um tempinho com o I. mas ela não tem a mínima idéia de quem somos, do que gostamos... nada, minha mãe não nos conhece, e ponto final. Mas toda criança gosta de shopping, os filhos da sua irmã adoram (tive que escutar mais essa, então dá próxima leva eles); pois é, talvez o I. não goste de shopping porque ele não vai, ele gosta de parquinho, ele gosta de praia, ele gosta de ar... sabe oxigênio! Árvore, bicho, água. E enquanto descia a escada rolante ainda tive que escutar uma pivete de, no máximo 10 anos, dizendo que se ela tivesse mil reais iria comprar a boneca não sei das quantas... quase vomite lá mesmo, no pé dos pais dela.

É isso que estávamos fazendo com nossas crianças? Olha, prefiro continuar me sentindo uma alienígena nessa terra estranha e deixar meu filho fantasiar que esta pescando na poça de água da calçada!!!! 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Como o conheci


Ola meus queridos(as)

Eu o conheci num final de tarde agradável, daqueles que você fica com vontade de estar ao ar livre tomando uma cerveja com os amigos.... e era bem isso que eu estava fazendo sentada no Pica Pau (alias se algum dia casarmos a festa será lá no boteco do Pica Pau) numa sexta feira de primavera à quase 5 anos atrás em Peruíbe. Tinha voltado recentemente dos USA, morando em Sampa e de saco cheio de tudo e todos (pensando em voltar para os USA ou morar no Vietnam), qualquer desculpa era desculpa para descer para praia; e assim comecei a passar meus finais de semana lá. Contando os minutos para chegar a sexta feira, enfiar meu chinelo de dedo no pé, e simplesmente descer a serra. Essa sexta não foi diferente, deixei minha mochila (bons tempos que era só eu e uma mochila) na nossa casa de praia, peguei a bicicleta, passei no supermercado e na volta encontrei uns amigos no Pica Pau e por lá fiquei. 

Não reparei nele sentado sozinho em outra mesa até que o M., músico maluco carioca, o convidou a sentar conosco. Ele sentou no outro extremo na nossa mesa, e eu continuei conversando com um amigo jornalista também maluco sobre as ocorrências de OVNIs no litoral sul paulista (pensando bem agora, que grupo de pessoas!), até que ele perguntou algo sobre aquecimento global tentando parecer "inteligente" e eu, finalmente tomei conhecimento da sua existência e total ignorância do assunto! E a professora baixou em mim, e ele provavelmente apreendeu mais sobre mudanças climáticas em 30 minutos do que na sua vida inteira. O tempo foi passando, as cervejas rolando, os amigos indo embora, a mesa diminuindo de tamanho; e comecei a achar que ele era, no mínimo, curioso... baixinho, cabelo escorrido tiguelinha (o I. herdou), caiçara, genuíno, inteligente, engraçado e assim resolvemos ir jogar sinuca juntos. Ele disse que precisava tomar um banho (tinha saído do trabalho na cozinha), emprestei minha bicicleta e fui andando até o São Nunca (nem existe mais) onde iríamos jogar sinuca. Não demorou muito ele voltou, e do nada, literalmente investiu todas as fichas e me deu um mega giga beijo na boca (anos depois ele me confessou que arriscou tudo, ou eu correspondia o beijo ou ele levava um tapa na cara, e estava pronto para qualquer um dos dois desfechos). Confesso também que fiquei surpresa, mas a química já estava instaurada, e assim que ele encostou em mim, peguei fogo e a sinuca ficou para outro dia! 

Chegamos na minha casa (que era perto), literalmente no cio, essa foi a noite que quebramos o sofá e vimos o dia amanhecer encharcados de suor... Quando amanheceu ele disse que precisava ir trabalhar e ligaria mais tarde, o levei até a porta, me joguei na cama e esqueci que ele existia de novo. Antes de capotar pensei, bom, não vou vê-lo mais MAS o cara é bom de cama... Até que antes do meio dia toca o maldito celular, era ele perguntando se eu não queria encontrá-lo mais tarde (pombas, não era para você ter ligado). Meio acordada, meio dormindo, e MUITO surpresa que ele ligou (pois o plano inicial na minha cabeça era começar e acabar naquela noite) disse que poderíamos jantar. 

Eu não estava interessada em me relacionar com ninguém, estava num momento da minha vida que simplesmente não queria nada, muito menos algo "sério" com alguém mas puxa, não custa nada repetir a dose né? Vou ficar na praia mais uns dias mesmos, e assim os dias viraram semanas, que viraram meses, que viraram anos... E foi assim que conheci o pai do meu filho!

Sem água, sem comida, 11 filhos e um jegue


Ola meus queridos(as)

E ai? O que fazer? Parece que a única coisa que faz um certo sentido nesta estória é o jegue...  Assisti um documentário do diretor José Padilha, para quem é péssimo de nomes, ele é o diretor dos dois filmes Tropa de Elite. O nome do documentário é Garapa, e o soco no estômago já começa pelo título, porque Garapa? Porque muitas vezes é o que se tem para dar as crianças, e nem é garapa de verdade, e simplesmente água misturada com açúcar. O documentário acompanha o cotidiano de três famílias, uma na periferia de Fortaleza, outra numa cidadezinha do interior do Ceará e outra perdida no meio do nada mesmo e suas dificuldades EM apenas sobreviver mais um dia. Eles tem algo em comum, passam fome e (sobre)vivem abaixo da linha de pobreza; sem futuro, sem perspectivas de melhoras, sem absolutamente nada. 

Fiquei extremamente deprimida sozinha em casa, o I. estava na natação e o Caiçara trabalhando... quando eles chegaram, acho que nunca os abracei tão forte! Pensei comigo, porque preciso assistir uma realidade dessas para dar valor a minha realidade? Porque preciso levar um tapa na cara desses para acordar? Será algo intrínseco ao ser humano nunca estar satisfeito? Mas estou divergindo da proposta inicial de escrever este post... voltando.

Se prega muito que no Brasil não existe mais fome e blablabla, que nossas desigualdades sociais diminuíram e blablabla, que o poder aquisitivo aumentou e blablabla... acho que esqueceram de avisar essas famílias então que eles não existem mais neste país! Pois é, no documentário eles me pareceram bem reais! E fico me perguntando, o que fazer? É tanta miséria, aquelas crianças esperneando de fome, correndo pela sujeira, imundas, totalmente privadas de qualquer tipo de infância, assistência médica, desnutridas; é no mínimo um quadro desesperador, por aonde começar? Parece meio óbvio, controle de natalidade. Um planejamento familiar OU em último caso, laqueadura!!! Você adulto passar fome é uma tragédia por si só MAS colocar 11 crianças no mundo para passar fome com você é cruel, é desumano.

Os números provam que a taxa de natalidade no Brasil vêm diminuindo ao longo das últimas décadas,  em 2000 a taxa bruta de natalidade (por mil habitantes) era de 20,86 e em em 2015 14,16 segundo o IBGE. Hoje, temos então um filho e meio por habitante. Precisamos entender que essa é a taxa BRUTA de natalidade, quando fazemos a mesma estatística AGORA separando por classes sociais ou mesmo unidades federativas, os números são bem outros. Resumindo, gente pobre em Roraima tem um filho atrás do outro, enquanto gente rica no Rio Grande do Sul tem um filho e olhe lá! Eureka, descobrimos o porque a taxa de natalidade do país vêm caindo e não é mais uma prioridade nas políticas públicas adotadas. E daí? Toda essa explicação teórica não ajuda em nada aquelas famílias... fica menos sofrido quando pensamos em números MAS o choro daquelas crianças passando fome ecoa nos meus ouvidos. 


segunda-feira, 20 de julho de 2015

Maldito Stalin


Ola meus queridos(as)

Sempre tive problemas com o autoritarismo, não que isso me tornou uma rebelde sem causa (ou com causa), protestando, sendo do eterno "contra", levantando a bandeira da anarquia e arrancando o sutiã em praça pública. Claro que já fui adolescente, numa época no mínimo interessante na história deste país, a primeira vez que votei para presidente (não só eu mais muita gente) tinha 16 anos, fui filiada ao PCB, acreditei piamente num socialismo, lia qualquer coisa marxista que caia na minha mão (dos clássicos O Capital e o Manifesto Comunista, aos escritos de Engles, a biografia de Trotsky e outras grandes cabeças da revolução bolchevique como Lenin e Zinoniev). Chorei quando estive no México e visitei a casa onde Trotsky foi assassinado no seu exílio a mando de Stalin enterrando qualquer possibilidade da revolução socialista dar certo, exterminando o único "herdeiro" de Lenin e seu sonho socialista (sério, eu acreditava piamente que a polarização mundial não teria existido se o filho da puta do Stalin não tivesse assassinado Trotsky e muito menos tivesse exilado meu avô durante a segunda guerra).

Meus pais, na época, nem estimulavam nem podavam esse meu interesse, até porque suas vivências da ditadura ainda eram muito recentes, e eles no fundo tinham um certo medo que o regime democrático não se instaura-se e a ditadura voltasse com força total. Quando as coisas apertaram lá pelo final dos anos 60, eles "sumiram" de circulação; e não porque meus pais eram grandes ativistas políticos, simplesmente porque eles eram médicos. E como médicos, quando os prisioneiros políticos torturados chegavam entre a vida e a morte no pronto socorro do hospital, com escolta militar e sei lá eu mais o que, eles não só atendiam como, anos depois, confessaram que fraudaram atestados de óbitos, e retiraram os pseudo defuntos pela porta dos fundos que conseguiram sair do país depois. Era uma rede, sem muita articulação ou liderança, mas como médico você não iria deixar a pessoa morrer, ou simplesmente manter ela viva para mais uma sessão de tortura e ponto final. E assim quando alguns outros médicos foram convidados a prestar depoimentos no DOI-CODI eles foram fazer um "estágio" no Chile por alguns anos... até hoje meus pais não acham que fizeram nada de mais, nada que qualquer outra pessoa teria feito, mas vários colegas médicos deles nunca mais voltaram dos seus depoimentos no DOI-CODI e eles optaram por "aceitar" uma bolsa de estudos no Chile (onde eu fui concebida). Até hoje, meus pais não falam muito sobre esse momento, imagino o porque e respeito... muitas pessoas morreram, as cicatrizes das torturas eram reais e o medo ditava a ditadura. 

Mas eu sonhava com uma sociedade sem capital, onde não havia propriedade privada, você fazia parte de uma grande família compartilhada, onde as pessoas eram iguais, e nada tinha valor material... e a união fazia a força! Linda ideologia, mas Marx passou muito longe! Ele esqueceu a coisa mais fundamental, gente é gente! Mas por muitos anos, deitava na minha cama lendo Che Guevara, com a bandeira da União Soviética estampada na minha parede e ingenuamente esperava "a mudança"; finalmente o fim da ditadura e o começo da revolução vermelha! Lembro o dia que conheci o Roberto Freire, estava na sede do PCB (que ficava na Av. Angélica, ajudando uns companheiros a separar uns panfletos para o tal comício da vitória na Candelária, no Rio de Janeiro.... eu que faço qualquer coisa hoje para não ter que ir para o Rio, fui de livre e espontânea vontade panfletar lá de ônibus, pode?). Roberto Freire, o presidente do PCB, candidato a presidência da república, exilado político anistiado, educador, filósofo... e o currículo dele ficava cada vez maior a cada panfleto que eu organizada suando frio! E ele simplesmente sentou do meu lado, curioso e tive a melhor aula sobre socialismo da minha vida. Mais, a melhor aula sobre cidadania da minha vida! O Freire era um fofo, até hoje sua carreira política impecável, honesto... pena que só na minha cabecinha ele iria ganhar as eleições (para quem não lembra, nem chegamos no segundo turno, deu Collor... pois é, do céu a terra MESMO!). Mas ele era uma pessoa muito íntegra, o convidei a dar uma palestra no colégio que estudava (o Santa Cruz), muito solicito não só ele foi, como aguentou um bando de adolescentes filhinhos de papai (na época os netos do Montoro estudavam lá e metade da nata paulistana e todo mundo era direita, menos os padres, os "maconheiros" e eu). E assim meu sonho de uma sociedade comunista foi por água a baixo, entrei na faculdade, virei "gente" mas cultivei alguns resquícios desta época, uma bolsa de couro surrada, minhas alpargatas, o livro O Castelo do Kafka que o Freire me deu de presente, minha crença num mundo melhor e que o Stalin FUDEU tudo!!!!

sexta-feira, 17 de julho de 2015

A parede


Ola meus queridos(as)

Porque é tão difícil ignorarmos a ignorância do outro? Porque acabamos argumentando, justificando... enfim, entrando na pilha do outro ao invés de simplesmente dar as costas e sair andando? Bom, na verdade para mim especificamente não é nada difícil, alias sou da filosofia que louco é quem fala com a parece! Parei de tentar argumentar com a parede faz tempo... O que é a parede? A parede não escuta (muito menos ouve), a parede é irredutível, impenetrável, estática, não vai para lugar nenhum...  a parede não quer troca, ela é soberana e absoluta na sua existência e verdade. Existem, infelizmente, uma categoria de pessoas paredes neste mundo. Quanto mais rápido as identificarmos mas fácil fica a nossa convivência com elas, pois elas estam por ai, em todo lugar.

Ontem o Caiçara chegou meio puto com um colega de trabalho, rapidamente pelo discurso percebi que esse faz parte da categoria parede, tanto faz quanto fez, ele não vai mudar uma unha, independente do que você fale ou faça. Então porque se desgastar? Ele disse que eu tenho sangue de barata... Não acho que seja isso, simplesmente não perco meu tempo falando com gente que não quer escutar, até pode parecer prepotência MAS também não é; apenas um mecanismo que desenvolvi ao longo do tempo, dar murro em ponta de faca só machuca, argumentar com a parede só causa estress.

É um exercício diário, mas com o tempo vamos nos monitorando, nos treinando e fica natural simplesmente aceitar a parede e tudo bem. Claro que nós queremos que a parede nos escute, que a parede mude, ou mesmo lá no fundindo, que a parede reconheça que é uma parede; perda de tempo. Todos nós temos algum amigo parede, familiar parede, colega de trabalho parede e cabe a nós, não paredes, apreender a lidar com eles. Aquele ditado: água mole em pedra dura, tanto bate até que fura; não se aplica a parede!


quarta-feira, 15 de julho de 2015

Levantar do sofá


Ola meus queridos(as)

Andei fazendo um passeio cibernético pelos blogs de algumas companheiras (alguns, confesso, não visitava a um bom tempo), algumas tive e tenho o prazer de conhecer outras não MAS todas temos algo em comum (e não é ter ou ter tido um adicto na sua vida), somos mulheres inteligentes, sensíveis  que apreendemos, cada uma a seu modo, a nos amar. Aos trancos e barrancos fomos crescendo, deixando a menininha medrosa e frágil para trás até nos tornamos mulheres determinadas e que sabem o que querem... Temos algo em comum, levantamos a bunda do sofá!

Cada uma de nós teve sua trajetória particular, a estória de cada uma é única MAS com muito trabalho (no meu caso, MUITO Nar-Anon), muito carinho, muitas lágrimas e muitas risadas também apreendemos o fundamental, nos amar; resgatar nosso amor próprio, nossa auto estima! Gradualmente, ano após ano, fomos fazendo as pazes com a gente mesmo, olhando aquele raiozinho de sol pela janela e lentamente tomámos a coragem e abri-lá e iluminar a casa, já meio mofada e escura. Fomos tirando o pó dos móveis (ou jogámos tudo fora e compramos novos), renovando o velho e surrado armário, até sairmos de casa e encarar o mundo lá fora, abraçar (e nos permitir ser abraçadas) a vida. Acordar de manhã e sair da cama já não era mais um martírio, pelo contrário, um novo dia, uma nova oportunidade, um novo recomeço... E as mudanças começaram, se multiplicaram como uma bola de neve desencadeando um apetite insaciável pela vida!

Algumas companheiras que ainda estam namorando aquele raiozinho de sol, tímido, frio entrando pela janela me perguntam como abrir a janela... Bom, parece meio óbvio mas não tem como abrir a janela se você não levantar sua bunda do sofá! Eu sei, parece assustar se mexer, afinal de contas tudo dói e você esta paralisada, petrificada naquele sofá... vai que eu levanto e caiu depois?!! Vai que eu levanto e acontece a terceira guerra mundial? Então como levantamos do sofá? Algumas simplesmente cansaram de ficar lá sentadas, outras levantaram e caíram inúmeras vezes, outras sem forças mas muita vontade de abrir a janela rastejaram até lá (mas chegaram), outras precisaram que alguém as arrancasse do sofá (quase nunca dá certo), outras precisaram jogar o sofá fora para não ficarem tentadas a voltar.... e eu como levantei do sofá? A cada reunião do Nar-Anon que eu ia, meu sofá se tornava cada vez mais desconfortável, começou a rasgar o pano até que uma mola saltou para fora cutucando minha bunda, me empurrando. E eu pensei comigo, bom já que estou de pé porque não aproveitar e abrir essa janela de uma vez por todas?! 

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Domingo no parque


Ola meus queridos(as)

Lembrei daquela música maravilhosa do Gil, de 1967, se não estou enganada ficou em segundo lugar no festival dos festivais da record (claro que eu ainda não era nem nascida), quem ganhou foi Ponteio (Edu Lobo, divino), alias que festival! Chico com Roda Vida, Caetano com Alegria, Alegria... 

Tivemos um domingo no parque ontem, não com o final trágico da música do Gil (se não estou enganada, ele cantou junto com os Mutantes); mas tranquilo, o I. brincou com outras crianças (o que é meio inédito pois normalmente ele não interage e fica na dele), conversei com outras mães sobre comportamentos, rotina, escola etc... (o que é bom, pois tirando uma super mega amiga da praia, todas as minhas outras amigas ou não tem filhos ou eles já são adolescentes ou estam na faculdade)! É a realidade das mulheres da minha faixa etária, claro que não estou generalizando; mas grande parte da minha geração foi estudar, faculdade, pós-graduação, até casaram (inclusive eu) mas filhos era algo "fora dos planos"... ou "eram parte dos planos"e foram concebidos antes da pós-graduação!

É no mínimo curioso, quase um experimento, observar o quanto o I. esta mudando ultimamente, nitidamente, de um dia para o outro com uma velocidade assustadora! Além de não caber em mais calça nenhuma no armário. Também sinto as mudanças em mim, o trabalho com a psicóloga esta sendo muito frutífero, como um farol... quando acho que estou me perdendo, lá esta o farol me direcionado novamente, sinalizando o caminho, e porque não dizer, me tranquilizado mesmo no meio das tempestades... É meus queridos, as tempestades ainda ocorrem, e provavelmente ocorrerão sempre. Antes, quando o céu começava a ficar escuro e cheio de nuvens eu entrava em pânico já antecipando a trovoada; hoje, eu não faço a previsão do tempo (mas se esta com uma "cara" meio suspeita, saiu de guarda chuva).

Sair com o I. era quase um tormento, é sério! Só de pensar que eu precisava ir no supermercado e ter que levá-lo comigo era stress, já via ele correndo pelos corredores enlouquecido, e eu desesperada atrás dele, enquanto perdia o carrinho de compras no setor hortifruti e o tênis dele nos congelados. Hoje é mais tranquilo, talvez uma combinação do fato dele estar maiorzinho e entendendo um pouco mais e eu menos ansiosa, mais firme, mais consistente e coerente na minha postura com ele. Um tempo atrás, também resolvi deixar meu "medinho" de lado e começar a sair com o I. sozinha, sem babá... gradualmente vamos "desmamando" da babá, hoje ela trabalha apenas alguns dias na semana e esta mais concentrada no serviço da casa e menos no I. Claro que antes de tomar essa decisão precisei levar uma chulapada de uma amiga (que também é mãe)...

Lá estávamos nós num preguiçoso almoço conversando sobre tudo e nada, e chegamos no assunto vacinas... Ela perguntou como era para o I. o dia da vacina, respondi, complicadíssimo ao ponto de eu sair da sala. Ela, mas quem segura ele? Eu, a babá. Mas mulher, num momento difícil no qual o I. precisa se sentir seguro, saber que você está lá você some e delega a responsabilidade para a babá? Pois é meus queridos, caiu como um raio na minha cabeça! A partir dessa conversa, tomei as rédeas da situação, assumi meu posto de "mãe" e não fujo mais. E o resultado de todo esse esforço resultou num tranquilo domingo no parque!


quinta-feira, 9 de julho de 2015

Leannán


Ola meus queridos(as)

Enquanto trabalhava em casa no computador algo me remeteu à um passado distante... uma música, um nome, um lugar, uma pessoa; mais uma pessoa que eu amei e deixei para trás num aeroporto qualquer. Fazia muitos anos que não pensava nela; minha amiga, minha companheira, meu grande amor, minha leannán... Ela não era simplesmente uma mulher, ela foi a mulher que amei na minha vida.... anos atrás.

Ela era determinada, conseguia beber mais pints de Guinness do que eu (como toda boa irlandesa) e acordar ilesa no dia seguinte, inteligente (estava terminando seu doutorado e eu mau começando meu mestrado), engraçada (aquele humor britânico que poucos entendem), dirigia como uma louca consciente pelas freeways da Flórida, independente, sincera, generosa e por mais anos que morasse nos USA nunca perdeu aquele sotaque irlandês, nem aquela pseudo arrogância de alguém nascida numa cidade que já tinha uma universidade quando o Brasil foi descoberto! 

Poucas semanas depois que cheguei na Universidade de Miami nos conhecemos e instantaneamente gostamos uma da outra, sabe aquela coisa de " bater o santo" ?!! Nos tornamos grandes amigas, viajamos juntas no seu Thunderbird vermelho queimando óleo de New Orleans até Key West, bebemos juntas em todos os pubs imundos que encontramos pelo caminho, estudamos juntas na sua qualificação e depois na minha, choramos juntas e demos muitas risadas juntas também... Planejamos libertar a pobre da baleia orca que morava num tanque minúsculo no Miami Seaquarium (que tínhamos acesso irrestrito pois nosso campus era do lado, e afinal de contas éramos respeitadas oceanógrafas pós-graduadas); acho que o nome da orca era Lolita, claro que não deu certo nosso plano de resgate, mas conseguimos soltar um pelicano (que nos seguia pelo campus depois disso e tivemos que adotá-lo temporariamente, até a J. convencer uma amiga dela que estudava biologia marinha a ficar com ele... afinal de contas somos oceanógrafas físicas, a gente só gostava dos bichinhos mas não entendia nada deles)!

Uma noite, depois de alguns pints de Hurricane Reef (é confesso... ela expandiu minha concepção de cerveja) no nosso pub favorito perto do meu apartamento em Coconut Grove, sugeri que ela dormisse em casa como tantas outras vezes. Não dessa vez, não sei quem beijou quem primeiro, inesperado, novo, desconhecido, e nos entregamos a algo que nem sabíamos estar lá dentro, queimando e acordamos abraçadas no chão da minha sala. Enquanto fazia um café e tentava digerir o que aconteceu, seu lado irlandês católico falou mais alto e ela saiu correndo porta a fora como se tivesse cometido um pecado capital! Nenhuma de nós duas nunca tinha tido uma relação com outra mulher, na época nós duas éramos comprometidas (eu já de casório marcado e ela numa relação séria com um inglês), confuso... muito confuso!

Logo depois, ela embarcou a trabalho num cruzeiro oceanográfico para São Diego, três longas semanas; ela prometeu escrever todos os dias, e eu hibernei dentro do meu laboratório escrevendo minha tese. Quando ela voltou, tínhamos 21 cartas, uma tese escrita e um enorme ponto de interrogação. Como simplesmente ignorar o que aconteceu entre nós? Tentamos guardar na gaveta aquela noite e continuar sendo o que sempre fomos, não durou muito... e foi na comemoração do 4th of July (Dia da Independência), churrasco no campus da universidade com Deus e todo mundo de platéia (inclusive nossos orientadores) que (des) engavetamos aquela noite. E inúmeras outras, as tardes ensolaradas no Venetian Pool que ela tanto amava, minha mão segurando a sua enquanto eu fazia minha primeira tatuagem (a primeira de várias, varias outras que ela não esteve presente), a feijoada que ela apreendeu a preparar com esmero, o shepherd's pie que eu nunca apreendi, as noites animadas em Little Havana (ela falava espanhol melhor que eu!), ela dançando num festival céltico maluco que fomos nem lembro onde, o final de semana em Key Largo onde comemos 36 ostras (eca!) e passamos mais tempo no banheiro que na praia, nossa tentativa frustrada de produzir cerveja artesanal na sua garagem (ficou com gosto de xixi de gato, perguntei como ela sabia se era xixi de gato ou de cachorro, e assim mais uma eterna piada entre nós se criou), suas tentativas de me ensinar Gaelic (só apreendi palavrão) e as profundas diferenças culturais entre irlandeses e escoceses (bom, os irlandeses produzem as melhores cervejas e os escoceses os melhores uísques, serve?), as descobertas diárias... e assim os meses foram passando. E chegou o momento de decidir o que fazer, como se as férias de verão tivessem acabado.

Ela me levou até o aeroporto, com lágrimas nos olhos ela pediu que eu ficasse, esperasse ela defender o doutorado e voltarmos juntas para Inglaterra; eu com lágrimas nos olhos disse que precisava ir... e mais uma vez virei as contas, embarquei naquele avião e simplesmente fui embora, destroçada por dentro. Mais uma vez deixei um pedaço meu para trás...

Hoje fico pensando, e se eu tivesse ficado? O quão diferente nossas vidas teriam sido, mas por medo, por egoísmo não fiz essa escolha. Perdemos contato e anos depois, já casada com o P. morando no Hawaii terminando meu doutorado, a encontrei num congresso de oceanografia. Ela viu meu nome na programação dos seminários do congresso; terminei minha palestra e já saindo da sala lá estava ela, na porta, com seu sorriso lindo (mais envelhecido mas lindo), seu cabelo ruivo emaranhado (ela nunca penteou aquele cabelo mesmo), seus olhos escuros como uma noite sem lua, com uma Guinness na mão!!!! Não pude deixar de rir! Não pude deixar de amá-la mais uma vez... Inventei uma desculpa qualquer e sumimos uma semana pela Na Pali coast e suas praias desertas (o que aconteceu nesta semana, faz parte da caixinha das lembranças que não divido com nada nem ninguém pois são apenas nossas... minha e dela).

E desta vez quem a levou ao aeroporto fui eu, com lágrimas nos olhos quem pediu que ela ficasse fui eu, esperasse eu defender meu doutorado e me divorciar do P. e iríamos para onde ela quisesse; ela com lágrimas nos olhos disse que precisava ir... Eu sabia, ela sabia... nosso tempo tinha ficado para trás, nossa chance de ficarmos juntas desperdiçada mas não nossa amizade, nosso respeito mútuo e nosso amor. Nunca mais nos procuramos, mas algo dentro de mim diz que ainda vamos nos encontrar, nesta vida ou em outra!

P.S: leannán: sweetheart, lover in Gaelic.



domingo, 5 de julho de 2015

O urso


Ola meus queridos(as)

Nesta época de inverno sempre penso nas pessoas que moram na rua, se aqui em casa com direito a aquecedor ligado no máximo, cobertor e chocolate quente estou congelando fico imaginando a dor física que essas pessoas pseudo vestidas com chinelo de dedo em baixo de uma ponte qualquer cobertas com papelão não estam sentindo. É muito triste... Claro que elas estam lá o ano todo, pode até parecer meio hipócrita da minha parte só lembrar que elas existem quando a temperatura cai abaixo dos 15 graus, mas desde criança sou assim. Outro dia, numa esquina na Av. Paulista, uma dessas pessoas pediu dinheiro para comprar um cobertor... escondi aquela lágrima que teimava em escorrer pelo meu rosto, acelerei o passo e cheguei sã e salva no escritório. 

Não teve jeito, aquilo ficou martelando na minha cabeça o dia inteiro; a noite, quando a temperatura caiu mais ainda e veio aquela chuva gelada, passei pela mesma esquina na esperança de encontrá-lo mas não havia ninguém. Deitada na minha cama quentinha, dormindo de conchinha com o Caiçara em baixo de uma tonelada de cobertas, fiquei me convencendo que, provavelmente, aquela pessoa  foi recolhida à um abrigo. Tive sonhos, não, sonhos não e sim pesadelos; eu perdida no meio de uma nevasca, um mundo branco e gelado, um urso assustador, enorme se aproximando de mim... eu paralisada, presa na neve espessa, queria gritar, sair correndo... pensei, bom é o fim, o urso vai me devorar. De repente senti um calor me envolvendo, seu corpo peludo e quente; o urso me salvou com o seu abraço e eu acordei ensopada de suor! Alguém sabe se tem urso no jogo do bicho? Depois dessa, vou ter que fazer uma fezinha... 

Não sou muito fã de Freud mas até eu consigo interpretar esse sonho tão óbvio. Ou eu morreria congelada ou devorada pelo urso, e no final, meu maior medo, não só não me devorou como me protegeu do frio e me salvou. Desculpe se decepcionei alguém, mas acho que não tem como elaborar mais do que isso... 

Independente do sonho/pesadelo, já tinha decidido levar um cobertor para aquela pessoa. No dia seguinte, sai mais cedo com o I. a tira colo (um daqueles dias que não tinha com quem deixá-lo, além de que ele adora andar de metrô e sabe todas as estações de cor e salteado), compramos um cobertor bem quentinho, e fomos procurar a pessoa. Ao nos aproximarmos da tal esquina fiquei pensando, e se a pessoa não estiver mais lá, e se ela morreu de frio  na noite passada (maluquices da minha cabeça); comecei a ficar com raiva de mim, e se uma merda de um cobertor que você não deu pudesse ter evitado isso... comecei a me sentir culpada, por favor, esteja ai na esquina, por favor, esteja ai na esquina fiquei repetindo em silêncio, implorando e aquela lágrima reprimida escorreu, e várias outras depois enquanto o I. entregada o cobertor para a pessoa (ufa, ele estava lá). Em retribuição, seus olhos tristes e mareados, seu sorriso desdentado e honesto, e ele nos deu, provavelmente a única que ele tinha, seu abraço; um abraço forte, um abraço de urso! Um abraço de urso que me salvou da indiferença... um abraço de urso que nos uniu no medo e no frio que todos sentimos, um abraço de urso que aqueceu meu coração.

Um abraço de urso que resgatou minha humanidade. 





sábado, 4 de julho de 2015

Paz


Ola meus queridos(as)

E de repente estamos em Julho e chegou as férias!!!! Bom, entenda-se o I. de férias e eu me desdobrando em horários malucos para atender ele e meus compromissos profissionais... Semana que vem ele começa um curso de férias de duas semanas e espero conseguir me organizar melhor; mas que esta sendo gostoso acordar de manhã nesse friozinho e tê-lo sorrateiramente invadindo minhas cobertas, não posso negar! Que esta sendo gostoso tê-lo pedindo para eu contar (pela décima vez) a estória dos três porquinhos, não posso negar! Que esta sendo gostoso simplesmente desacelerar e passar a manhã preguiçosamente brincando de índio na nossa sala que virou uma oca, não posso negar!

Muitas mudanças também, finalmente tirei o I. daquela "escolinha" aonde metade das crianças tomam ritalina e parecem uns robozinhos (me lembrava um pouco aquele video do Pink Floyd, The Wall) e consegui a tão desejada vaga num colégio mais "alternativo" digamos assim, com uma proposta pedagógica que se alinha melhor com minhas convicções e que acolha meu filho como um ser único que merece ser respeitado e estimulado, e não podado e repreendido como vinha sendo na outra escola. E com o tão necessário apóio da psicóloga, alias percebo que meu diálogo interno cada vez menos se externa; o que ajuda o I. a ter mais segurança e olhar para mim como uma referência... e assim vão se criando os laços eternos entre mãe e filho.

Outra mudança, o Caiçara subiu a serra e esta de volta a terra da garoa. Eu sabia que ele não iria durar muito naquele esquema morando com a irmã evangélica no manicômio e SEM trabalho. Quando estivemos na praia no começo do mês passado conversamos, pesamos os prós e contras; não sei se os dias ensolarados, meu bom humor ou simplesmente nossa amizade me fez abrir as portas e ele veio conosco. Como Deus ajuda as crianças e os adictos, nessa crise econômica brava, todo mundo sendo demitido, não só ele foi contratado como RE-CONTRATADO pelo mesmo restaurante que trabalha antes. Sério, vai ter um cú virado para Lua assim não sei aonde!!!! Enfim, ele esta de volta. 

E eu? Enquanto observo essa chuvinha fina caindo pela janela do meu quarto do 18 andar nesse tranquilo sábado a tarde escrevendo essas palavras, só posso me sentir em paz. É uma paz quase melancólica, é uma paz reflexiva, uma paz meditativa. Porque não ousar e dizer uma paz plena (mesmo que dure só esse minuto)!