segunda-feira, 18 de março de 2013

Fantasmas


Só quando saimos da nossa zona de conforto e somos testados percebemos como algumas coisas ainda são tão difíceis de aceitar. Aceitar que a mãe dele esta morrendo, aceitar que a família maluca dele me odeia (apesar de tudo que eu fiz para eles), que ele é um dependente químico (e sempre será), que nós não voltaremos a morar na nossa casinha na beira da praia e ter a vidinha que tinhamos, que o seu passado é um filme de terror, que aquela pessoa que eu amo talvez nem exista...

Final de semana com altos e baixos, sabia de antemão que seria assim...Saimos sábado de manhã sem muito atraso (um milagre, pois viajar com criança pequena é quase uma mudança), admirei mais uma vez a beleza exuberante da Mata Atlântica contrastando com essa obra colossal de engenharia que é a Imigrantes descendo a serra. Assim que chegamos passei na Dona N., desta vez não teve desculpa para não ficar lá, ela é madrinha do I. e ficaria chateada se eu recusasse novamente; peguei a chave e, confesso, conscientemente dei aquela enrolada básica tomando uma cerveja, jogando conversa fora sem a mínima pressa de levar o I. na casa da mão do Caiçara. Como bons britânicos que eles não são, recebo a ligação deles; tá bom estou indo (que saco). 

Milhares de recomendações para a babá, acho que estressei ela um pouco. Parei na porta, apenas sai na calçada a tia Vera, apresento a babá, ela será responsável pelo I. na minha ausência, daqui a uma hora eu volto  e ponto final. Fiquei impressionada comigo mesma, total indiferença. Uma hora depois, passo para pegá-los no portão, e dirijo me afastando daquela casa com a sensação que eu nunca mais vou precisar voltar lá...Também uma sensação de "missão"cumprida, fiz a minha parte. As vezes sinto pelo I., mas os mundos são muito diferentes e inevitavelmente ele vai acabar crescendo apenas com o amor, carinho e convivência da minha família. Alias, independente da problemática dependência química, os nossos mundos são muito diferentes...eu tentei traze-lo para o meu, não deu certo; eu viver no dele impossível e me questiono será possível um meio termo? 

Enquanto o I. visitava a avó, encontrei um amigo muito querido, conheci o S. através do Caiçara (alias eles são amigos de infância e cúmplices no crime). O S. não é nenhum santo, já fez muita merda também, conhece o submundo das biqueiras mas hoje cria seu filho sozinho e não se mete mais nisso. Não sei porque mais uma vez fiquei muito triste com algumas coisas que fiquei sabendo (não deveria mais me abalar), como por exemplo, no dia que ele foi internado estava fumando maconha...Poxa, o cara já tinha se comprometido com a internação e resolveu fazer uma "despedida"? No final, o S. me disse algo que, como amigo do Caiçara nunca pensei escutar, ele falou: vai viver sua vida, até quando você vai ficar esperando por ele? É queridos, até a babá do I. outro dia me deu um puxão de orelhas também! 

A noite sai com uns amigos para jantar e jogar conversa fora, eles ficaram tentando me convencer a ir numa "balada", não deu certo e antes da meia noite estava na minha caminha. Olha, eu sou de uma época que você saia a noite para se divertir, dançar, tomar uma cerveja e chegar em casa as 2 da manhã já era passar da conta. Hoje, você vira a noite, já sai mau intencionado, toma um porre e acaba transando com alguém que você nunca viu antes na vida. Outros tempos.

Dormi pessimamente, e não adianta nem culpar a colchão. Tive um pesadelo, a mãe dele aparecia do nada e falada "você não serve para cuidar do meu filho", super Freud né? Fiquei meio impressionada pelo que a babá descreveu, o estado físico de degradação dela, o quanto ela chorou quando viu o I., até parece que ela só estava esperando a visita dele mesmo para morrer...será que a mulher morreu naquela noite mesmo? Vixiiii. Honestamente, eu não tenho a mínima idéia se alguém deles se daria ao trabalho de ligar avisando do falecimento (claro que velório esta fora de questão). Mando entregar uma coroa de flores e encerrado o assunto.

O domingo amanheceu chuvoso e transformou-se num dilúvio! A estrada estava congestionada, perigosa (acabei subido pela Anchieta) contando cada kilometro. Chegamos exaustos e o I. com uma febre. Cuidei dele, a febre baixou e antes das 6 da tarde já estava dormindo. Eu capotei logo depois. Que final de semana...

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