quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O balão esvaziou (um pouquinho)


Ola meus queridos(as)

Ontem percebi o quanto ainda sou intolerante com algumas pessoas, e não consigo sentir compaixão. Pelo contrário, acabo me incomodando ao ponto de ficar olhando no relógio a cada 5 segundos e maquinando desculpas para simplesmente sair correndo. Como toda quarta, lá fui eu para o tal do ambulatório com os familiares, desta vez o Ale não estava, apenas os dois terapeutas (uh..vou ter que arrumar uns nomes para eles também, ela, 18 anos limpa será a Dani e o que eu acho um fofo, Santos (já que ele é de Santos...eu e os caiçaras...deve ser patológico mesmo! Caiçara adicto então, NÃO me apresentem...). A senhora dos outros dias não estava, mas foi bem substituída por outra dez vezes pior! 

Logo quando cheguei a Dani disse que ficou sabendo que eu queria falar com ela, relatei as impressões que tive do Caiçara na ligação uns dias atrás, ela olhou para mim com aquela cara de esfinge e falou, você percebeu tudo isso em 20 minutos de ligação? Bom, 20 minutos de ligação e uns anos de adição nas costas...Eita, a abstinência bateu feito, segundo ela, oscilando muito, abandonou a cozinha (seu xodó), agressividade e se indispôs com alguns outros internos. Estratégia, passar num psiquiatra, fazer uma avaliação e, segundo sua experiência, medicar neste momento. Por mim, o que for necessário, discussão importante como abordar isso com o Caiçara (ele relutou muito no passado a fazer uma consulta num psiquiatra) e primeira intromissão externa da "menina" (que eu nunca tinha visto mais gorda até então, alias socorro, piriquete é pouco para ela). Ignorei, continuamos conversando qual a melhor estratégia, mais outro comentário infeliz da "infeliz"; outros familiares já se constrangendo, encerrei a conversa com a Dani, depois eu te ligo. 

E ai meus queridos, meu ouvido foi feito de penico por quase 2 horas... Resumo da ópera, mãe (do Nar-Anon, graças a Deus alias companheira de serviço, conheço ela de outros "carnavais"), avó e a menina "namorada", internou o filho semana passada. Avó estátua, mãe querendo maiores detalhes práticos da internação e namorada surtando. No intervalo, a mãe e a avó foram embora, ai a coisa ficou feia! Foi tão constrangedor, a Dani e o Santos tentando contornar a situação da melhor forma, mas não deu... só ela falava e falava, até que surpresa, ela é adicta dos pés a cabeça. Parecia que eu estava no NA (não mentira, no NA os companheiros se respeitam e MUITO), ela atropelava mesmo, três/quarto dias na ativa total com ele, era contra ele se internar, relação mega tóxica com direito a ligações no meio da madrugada...Olha, desculpe mas nós, os familiares não estavamos lá para isso. As outras duas pessoas que simplesmente não conseguiram expressar nada, aguentaram bravamente, até que eram quase 10 da noite, me desculpei pois precisava ir embora; rapidamente elas embarcaram também e fomos embora, deixando a Dani e o Santos com a "menina" em surto psicótico! 

Confesso que sai carregadíssima, arrastando meus pés, como se eu pesasse 100 kilos... e me questionando o porque estava me sentindo tão mal? Porque deixei essa situação me afetar tanto? Não sei, nestes últimos dias estava tão transbordando de esperança, fé e amor. Acredito piamente na recuperacão mas ai... presencio esses comportamentos insanos, e meu balão dá uma murchada sabe? 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Troca de fita


Ola meus queridos(as)

Primeira mudança, aceitar que meu filho não é mais um bebê e esta crescendo! Já fazia um bom tempo que sabia das suas excursões noturnas, ele entra e saia do berço ao seu bel prazer... mas minha teimosia em continuar olhando para ele como um bebê, impedia que eu tomasse a decisão e encarar o fato de que o berço não tinha mas razão de existir, cumpriu sua função. E chegou o momento de aposentá-lo, e lá fomos nós comprar sua primeira caminha! E hoje, espero eu, será sua estréia! Minha babá também anda boicotando os bodys e mijões, diz que ele já é um "hominho"... Eita, o bicho esta crescendo, preciso apreender a lidar com isso, ele não é mais um bebê. Estava com a ilusão de segurar ele no berço até uns três anos pelo menos, doce ilusão. Vamos lidar com a realidade, vamos nos modificar a "nova" realidade e respeitar a evolução, que eu não posso controlar (e instintivamente vinha tentando, em vão). Absurdo insano meu, controlar a evolução inevitável (não só do I. mas...) de tudo! 

Segunda mudança, chega de ficar insatisfeita porque moro em Sampa, ou me adapto de uma vez ou coloco em andamento uma estratégia para mudar de cidade. Ficar reclamando não é ação, não impulsiona nada, então que comece por mim! 

E sala... hoje virei tesoureira temporária também (nossa super companheira esta meio impossibilitada de exercer seu cargo, digamos assim, e aqui estou eu fazendo o balanço do mês, contando os centavos para a contribuição da sacola quadrimestral ao ESNAR depois da reunião). Sem problemas, honestamente, essa irmandade é uma rede de segurança... quando caiu do trapézio, o que acontece com frequência, ela esta lá para que eu não me espatife no chão! Quanta gratidão, eu amo nosso grupo! Minúsculo (hoje éramos, contando comigo coordenando, 7 pessoas), mas 7 companheiros(as) maravilhosos,  e fizemos minha troca de fita de um ano (nem todos os grupos fazem mais isso, coisa antiga). É simbólico mas me senti a mulher maravilha com minha fitinha verde clara! É uma tradição meio esquecida, mas da mesma forma que o NA troca suas fichas nós, no Nar-Anon, também temos nossos rituais de troca de fitas... fiquei emocionada, tá bom, confesso, chorei! Nunca tinha visto minha madrinha usar a dela até hoje, dourada...vixiiiiii.... 10 anos! Eles me pegaram de surpresa, teve até bolinho... ai chorei mais um pouco né? 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

0 leite secou


Ola meus queridos(as)

De concreto, tudo tranquilo, o I. já esta mais do que o seu normal, e entenda-se botando fogo na casa (impressionante a recuperação das crianças, três dias atrás internado com um soro no braço e agora, desculpem, tocando o puteiro)! Só tenho que agradecer, por esse filho maravilhoso que tenho (mas que toca o puteiro MESMO)! 

Hoje, sei lá eu porque, fui fazer um micro inventário da minha vida...talvez essas noites sem dormir direito, talvez o final de ano chegando, talvez eu não tão alegre e saltitante. Mas quem é eternamente alegre e saltitante? Só o Papai Noel... momento meio introspectivo, andei pensando no que eu quero mudar, e como mudar. E, desta vez, não tem absolutamente nada haver com o Caiçara. Eu, um pouco insatisfeita comigo... minhas escolhas, que as vezes nem são escolhas, simplesmente você vai indo, levando um dia atrás do outro!  O que eu sei é que não quero mais morar em São Paulo. E sempre fico adiando, e empurrando com a barriga... voltei um tempo atrás e lembrei, puxa, não fazia metade do dinheiro, mas era mais feliz (não que hoje não seja, mas que dilema)! Por um lado, sou eu e Deus (não conto com nada nem ninguém para criar meu filho), por outro ainda sonho com a nossa casinha na beira da praia... eita recaída! Madrinha, não ajudou hoje...pois não tem nada haver com o Nar-Anon neste momento, apenas eu, passando dos 40 anos e minha crise existencial! É isso...simples assim!

Será que dá para ter de volta minha casinha na beira da praia e o trabalho que tenho aqui ao mesmo tempo? Não.... dilemas, vários dilemas! E meu leite secou... do nada, já tinha tomado remédio, depois da consulta com a ginecologista (quase um ano atrás, doando três/quatro vezes por semana no banco de leite) ...e hoje secou! Voltando um pouco atrás, bem atrás... Quando o I. completou um ano de idade, comecei a pensar em desmamar, mas como sempre, ele toma as rédeas e simplesmente do dia para noite, não quis mais peito! Então foi uma transição muito tranquila, para ele e para mim...MAS nunca deixei de produzir leite, até hoje. E hoje, secou... 

Talvez seja o começo de um novo ciclo (sem leite, desculpe o banco de leite e outras crianças que precisem) mas eu não tenho mais para dar! 





Dodói


Ola meus queridos(as)

Final de semana não dos melhores... o I. ficou doente. Fazia uns dias que ele estava vomitando e sem apetite, na sexta só falava "mamãe dodói"e estava super caidinho; liguei para pediatra. Descrevi os sintomas blablabla, até que mencionei o episódio com o Wally, ela simplesmente falou, estou de plantão no PS aqui do HC, estou te esperando AGORA! Sai correndo que nem uma maluca, acho que bati o recorde, nunca cheguei tão rápido em algum lugar. Resumindo, o I. estava com um parasita que pegou do peixe... Olha depois desta, vou pensar duas vezes antes de comer sashimi (que eu adoro)!

Mas entre mortos e feridos salvaram-se todos, e ele já esta 100% ligado no 220, até foi para escolinha hoje. É cada uma que me acontece, viu? Bom, passado o susto, desativei o aquário; espero que ele não faça um escândalo quando chegar da escola e não ver o "peixe"... quem sabe quando ele for um pouco maior, e tiver uma compreensão melhor das coisas a gente re-avalia a idéia. 

Não sei se por causa dessa situação toda, voltei a dormir meio mau esses dias... vou dar um desconto e não tirar nenhuma conclusão precipitada. Nessa correria toda simplesmente esqueci que domingo era o dia da ligação, o pessoal do sítio acabou me ligando pois o Caiçara estava ansioso aguardando meu telefonema até então. Conversamos tranquilamente, optei por não falar nada, o I. já estava bem e porque preocupá-lo né? Na visita, semana que vem, comento com ele o que o filho dele aprontou! Percebi algumas coisas que sinalizaram uma luzinha amarela (não vermelha ainda), ele esta se envolvendo com problemas que não são dele, ele não esta lá para ser terapeuta dos outros internos muito menos para elaborar um novo plano de gestão para a cozinha. Ele esta lá para focar nele! Três meses, se você for pensar bem, é um tempo relativamente curto, e o ideal é que ele utilize esse tempo focando nele e no seu tratamento, não no tratamento dos outros... É sempre mais fácil a gente querer resolver o problema do outro do que os nossos próprios. Também senti ele meio tristinho, bom, esperar que ele estivesse dando pulos de alegria seria muita ingenuidade da minha parte, chegando ai nos 20 dias de internação começa a bater a saudade das coisas que ficaram aqui fora. Mas guardei para mim, esse não é o meu papel, ser sua terapeuta! 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Falando grego


Ola meus queridos(as)

O PS deve estar me testando mesmo... mas acho que me sai, relativamente, bem. Ontem foi o tal do ambulatório para os familiares na ONG que gerencia o sítio e as moradias assistidas. Como combinado previamente com o Ale, eu daria uma palestra explicando o que é o Nar-Anon. Sempre fico feliz em poder ajudar, mas confesso que grande parte do serviço que presto é dentro da irmandade, dificilmente faço um IP por exemplo. Logo estou (mau) acostumada com aquele público "companheiros", que Só por hoje já virou o mesmo que "oi"... Fazendo um parênteses aqui, interessante como cada nicho tem seu vocabulário próprio né? Quando me mudei para baixada e conheci alguns manos caiçaras, não entendia nada do que eles falavam: o bagulho vai ficar louco, a chapa esquentou ou até canta para subir (depois assistindo, acho que foi Tropa de Elite entendi o real significado... são todas expressões comumente utilizadas no tráfico, péssimo). 

Enfim, desligamento com amor, viva e deixe viver, oração da serenidade etc... não faziam parte do vocabulário da maioria das pessoas que ali estavam me escutando. Era como se eu estivesse falando grego, boba eu, como querer que eles entendessem o que é desligamento com amor se eu mesma levei muito tempo (dá-lhe sala) para começar a entender e praticar! Tive que mudar a estratégia. Ao invés de ficar, em vão, explicando o programa, os passos, as tradições resolvi falar de como o programa me ajudou, ajuda na minha recuperação; a importância que o Nar-Anon hoje tem na minha vida, a (pouca) serenidade que conquistei ao longo dessa caminhada e como posso ajudar o dependente químico de uma forma assertiva sem ultrapassar os meus limites. Confesso que me senti um pouco despida falando das minhas experiências pessoais, sai da minha zona de conforto, e foi bom! Não é vergonha, eu simplesmente não falo muito de mim. No final várias pessoas se emocionaram, pois é, fiz uma meia dúzia chorar, vieram falar comigo, que não tinham percebido o quanto doentes eles também estavam, que estavam sofrendo, que não aguentavam mais e blablaba (aquele turbilhão de sentimentos que conhecemos bem, aquele caos emocional). Distribui vários panfletos e endereços de grupos aquela noite!

Mas, nem tudo são flores...lembram da senhora da quarta passada? Pois é, estava lá, mais uma vez sendo inconveniente, me interrompendo a cada 5 segundos, sempre chamando a atenção e falando do filho sem parar... numa ansiedade e desespero gigantes. Cada vez que ela grosseiramente me interrompia, perguntava ao PS como agir, e assim foi até que minha paciência esgotou! Pedi a ela que não me interrompesse mais, teríamos tempo de sobra depois para perguntas, que HOJE a palestra é sobre o Nar-Anon e não sobre o filho adicto dela e muito menos sobre ela e sua carência emocional. Queridos, a mulher ficou vermelha de raiva, tentou abrir a boca para dizer algo até que saiu, meio que um grunido: você não sabe o que eu passo! Respondi, não, talvez o grupo possa ajudá-la a entender o que esta passando...e continue a palestra.


terça-feira, 22 de outubro de 2013

Where's Wally?


Ola meus queridos(as)

Um mistério... Onde está o Wally? O I. ganhou, de dia das crianças, um aquário, e demos o nome de Wally a um dos peixes. Wally era um acará disco, meio alaranjado, com uns 10 cm, muito faceiro; o favorito do meu pequeno, e hoje de manhã ele sumiu! 

O aquário fica no quarto dele (talvez tenha sido um erro deixar o aquário lá, mas é dele...), a algum tempo descobrimos que ele entra e sai do berço a hora que ele quer. Pois é, estava na ilusão de fazer a transição para a caminha só ano que vem MAS, não vai dar para segurar mais. Hoje de manhã, escutei ele acordando, entrei no quarto, ele com aquele sorriso Colgate em pé no berço (acorda super bem humorado, ao contrário da mãe)... Comecei o ritual troca fralda, arruma ele para escola quando reparei que o Wally não estava no aquário! Será que ele pulou para fora do aquário? Tinha uma gigante poça de água perto do aquário, olhei no chão, em baixo dos móveis esperando encontrar o "defunto"e nada! 

Como pode? O peixe simplesmente evaporou? Olhei para o I. e perguntei onde estava o Wally. Apesar dele ter feito dois aninhos, o vocabulário do I. é bem restrito, só ele entende o que ele fala... fomos na fonoaudióloga umas semanas atrás, tudo certo com ele, pessoal da escolinha, tudo certo no seu desenvolvimento, fui na pediatra, tudo certo com ele... talvez o fato de ser bilíngue atrase um pouco  (eu falo muito em inglês com ele, desenho, filme é tudo em inglês aqui em casa), é a teoria da psicóloga. Então quando perguntei Where's Wally, ele simplesmente apontou para barriga dele! 

Queridos, será que meu filho comeu o Wally? Fala sério... que maluquice! Mas é a única explicação racional (a não ser que o Wally tenha sido abduzido por ETs). Fiquei pensando, com meus botões porque o I. comeria o Wally? Fome não é (descartada essa possibilidade, ainda mais com o peixe vivo...eca!). Ele também não tem a compreensão que o Wally morreu, desta vez não liguei para a minha madrinha, mais para a psicóloga infantil. Segundo ela, o I. queria que o Wally morasse dentro dele, fizesse parte dele...uh....Fala sério de novo!

Mas parei para pensar neste comportamento e percebi que muitas vezes fazemos a mesma coisa (claro que não tão literal assim), não saimos por ai como canibais comendo as pessoas que amamos... mas queremos que elas façam parte de nós! 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Dois palhaços


Ola meus queridos(as)

Agora focando em mim, eu... pensei muito se EU queria ir ou não na visita de última hora. Como postei anteriormente, passei por alguns estágios, da surpresa, ao momento nem a pau Juvenal, a clareza e no final o silêncio, para que pudesse escutar o PS (mesmo que fosse através de outras pessoas). E, honestamente, foi tão bom... ( a psicóloga, minha madrinha e o PS tinham razão).

Quem leu alguns dos meus postes anteriores (bem antigos, quando ele estava internado naquela pocilga), talvez entendam minhas restrições e resguardas, mas que diferença! Não sei se o lugar em sim, ou o momento que nos encontramos (a um ano atrás eu era insana, confesso, ainda sou mais sobre controle), e entreguei de coração... não carreguei nenhuma bagagem, só uma ansiedadezinha básica, não fui carregada de mágoas, querer tirar satisfação, meter o dedo na cara... Fui porque estava com saudades, só queria ver o pai do meu filho, dar um abraço... e assim foi! Ninguém armado... ninguém culpando nada, ninguém deixando aquele momento passar sem ser valorizado! Guardarei comigo as horas que passamos juntos, sentados na beira do lago... apenas sendo o que sempre fomos juntos,  dois palhaços... rindo de tudo! 

Ele ainda esta naquele momento casulo, mas fala para caramba (nunca vi um homem que gosta tanto de falar!), sim, esta no momento " sou um fracasso",  que merda, alias na sua cabeça insana de adicto, achou que eu apenas o estava ajudando porque não quero ver o pai do meu filho morando em baixo da ponte... (Confesso que não gostaria desta imagem mas ajudei porque ele, antes de tudo é um ser humano que pediu ajuda, e independente de amá-lo, é meu semelhante e, agora eu, pude ajudar, dentro dos meus limites sem me machucar). Fiz por mim.... 

Mente aberta, dos dois... rindo de nós mesmos! E ele todo orgulhoso da sua mulher Miss Nar-Anon (é assim que ele me chama carinhosamente). Espero que um dia ele seja o Mister-NA também! 

A vida as vezes se apresenta como um circo, não vou lamentar, me fazer de vítima ou dar aula, vou ser o palhaço e sorrir, e fazer os outros sorrirem comigo também! Só por hoje, sou o palhaço! 

O sítio


Ola meus queridos(as)

Lá estou eu programada para ir no domingo de recuperação de área quando recebo a ligação do Roberto (coordenador do CT, que a partir de agora será chamado de sítio, pois é um sítio MESMO) na sexta avisando que, a equipe terapéutica havia se reunido, e liberaram a visita do Caiçara no domingo, se eu quisesse e pudesse ir seria ótimo. Primeira reação, poxa, 48 horas atrás decidimos que seria um pouco cedo, com apenas 10 dias de internação e mudaram de idéia? Segunda reação, não vou, assim em cima da hora não vou mudar os meus planos...Terceira reação, mas o Joel não precisa ser "penalizado" por algo que DESTA vez ele não tem controle nenhum... Quarta e última reação, meu fofo PS dizendo se vira nos trinta! Eita! Tudo isso passou em três segundos na minha cabeça, respondi que iria pensar, ele respondeu que o Caiçara não foi avisado que a visita foi liberada ainda, eu apenas disso, então deixa assim (sem criar expectativas). 

Conversei com a psicóloga do porque a mudança de planos, fiquei contente com o que escutei, resumindo, ele esta tranquilo e preparado para receber minha visita, só será produtivo! Ela tinha razão, FOI (pronto já entreguei o ouro né?). Depois liguei para minha madrinha, acho que ela estava num dia muito só love, e no final disse, quem sabe indo na visita você não estará trabalhando a sua recuperação e ajudando a recuperação de outros também (ela deve ter bola de cristal, pois foi o que aconteceu). Durante a visita conversei com vários familiares sobre o Nar-Anon (alguns, mais uma vez, nunca nem tinham ouvido, expliquei nosso programa meio por cima), no começo uma meia dúzia de familiares, de repente, foi crescendo e éramos uma roda de umas 30 pessoas (quase todos os familiares MENOS aquela senhora da quarta feira, lembram?). O Roberto cedeu a sala de reunião deles, e lá fomos nós, falei por uma horinha, respondendo perguntas, escutando "partilhas"... e os internos um pouco ansiosos esperando do lado de fora, escutei a voz do Caiçara falando, calma gente, vocês vão ver como vai ajudar; minha mulher não morde não! Um dos internos falou, se minha mãe for pro Nar-Anon estou fudido! Como o dia era deles, e, confesso, queria um tempinho com o Caiçara, convidei a todos que nos procurasse, nossas salinhas estam por ai... trocamos telefones e vamos aproveitar esse dia na companhia das pessoas que amamos. E quarta agora, no ambulatório, levarei nosso material (gente, eu não tinha nem um panfleto na bolsa!) para uma palestra mais "formal" digamos assim.

O sítio, como eles chamam, é lindo! Fica num vale, muito verde, um lago (natural) aonde eles podem pescar, uma curta trilha leva a uma cachoeira, super rural, estrada de terra com direito a congestionamento de vaquinhas cruzando o caminho. Bucólico, mas lúdico! Paz, não sei se eu e ele estavamos em paz ou se a paz reina naquele vale mesmo! O sítio tem um casarão em estilo colonial, antigo mas bem conservado, sabe daqueles que o banheiro é do tamanho de um apartamento de 2 quartos aqui em Sampa? Não se fazem mais banheiros como antigamente... os quartos amplos, varandão rodeando a casa, e pasme, fogão a lenha e forno de barro!!!! O almoço foi feito no fogão a lenha meus queridos... não preciso falar mais nada né? O Caiçara esta esbanjando seus dotes culinários, e chegou no nirvana com a galinha caipira ao molho (sem contar a noite da pizza, tiraram até foto, ele fez uma decoração de catupiri com o símbolo do NA).

Quando cheguei e ele me viu parecia uma criança vendo o Papai Noel! Nos abraçamos (sem choro) emocionados, e ele falou:"não faz mais isso comigo senão eu enfarto"! E lá ficamos, que nem dois palhaços rindo...  passeamos pelo sítio, sentamos a beira do lago, namoramos um pouquinho (não tem essa de monitor atrás, vigiando, escutando conversa, é tudo muito a vontade, pois a priori, o que dita é o bom senso). Houve só um incidente (micro) que o terapeuta (que eu super identifico) interviu, pois o interno estava chorando levando uma chulapada da familia (fiquei sabendo depois que o rapaz estava para completar o tratamento e simplesmente saindo andando, chegou na via Dutra, arrumou uma carona e foi encontrado na ativa total no Rio de Janeiro... desculpa, mas qualquer um ficaria puto né?). 

Resumindo, até eu quero me internar lá no sítio! Depois eu termino senão este post vai ficar gigante... 


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Eu e o CT


Ola meus queridos(as)

As coisas vão entrando no eixo novamente, trabalho, pós-graduação, filho, amigos, sala... e sono! Ontem dormi bem melhor (mas não vou me animar ainda). Também diminui o ritmo dos projetos, conversei na consultoria que até o final do próximo mês, a não ser que seja o projeto sustentável mais interessante da face da Terra, não pego mais nenhum. É menos dinheiro que entra, certamente, mas é o mais sábio a se fazer, plano reduzir stress. Dentro deste plano, vou incluir umas semanas de férias, a escolinha do I. entra em recesso em Dezembro, vou aproveitar e fechar um pacote "dondoca" num resort qualquer no nordeste, destes all included com programação infantil. Olha que beleza, enquanto o I. fica pintando o sete com os monitores, eu fico tomando sol e cerveja na beira da praia!

Como tinha mencionado, ontem fui na palestra do monstro do NA, grande parte da equipe terapéutica do CT também estava presente. Confesso que durante a apresentação em si fiquei meio que pensando na morte da bezerra, na verdade, ele estava explicando o porque a dependência química é considerada uma doença, física, emocional e espiritual, o papel do tratamento no CT (basicamente a desintoxicação física), a importancia de trabalhar o emocional e espiritual, a necessidade do adicto e DA família terem uma PPR a médio/longo prazo...enfim, digamos que o público alvo eram os familiares dos adictos que estam internados e não tem a mínima idéia do que esta acontecendo (ou estam esperando um milagre). No intervalo, conversando com alguns deles, eles nunca tinham ouvido falar do Nar-Anon! E olha que para vários não era a primeira internação. Tinha uma senhora, que simplesmente interrompia a cada 10 segundos, só falando do filho (que esta no CT, coitado do Caiçara se ele for companheiro de quarto e tão doente quanto a mãe mega codependente), chegou ao cúmulo de perguntar o que eu achava melhor NA ou psiquiatra... totalmente perdida. No começo fiquei um pouco incomodada com ela, mas fui me solidarizando com seu total desespero e despreparo para lidar com essa dinâmica. Estava quase sentindo compaixão, quando fomos pegar o metro juntos e sugeri que ela fosse fazer uma visita a nossa sala do Nar-Anon. Qual minha surpresa quando ela disse que tinha ido numa reunião mas não gostou, pois as estórias eram muito tristes e seu filho não era como os "outros"nem ela... oração da serenidade, e apenas a lembrei que essa é a doença do SE. Eita... não tem jeito queridos, mente fechada!

Bom, teremos reuniões todas as quartas (o que eles chama de ambulatório) e SURPRESA, o monstro do NA (preciso arrumar um nome, vou chamá-lo de Ale), o Ale pediu para que eu falasse da importancia dos grupos de apoio aos familiares, claro, do Nar-Anon. Então semana que vem sou eu. Também pediu minha colaboração para divulgar a ONG e um trabalho que esta fazendo na cracolândia, me convidou a fazer parte... pois é, cracolância é meio pesado para mim ainda. Vamos ver o que minha madrinha acha. Conversei com a psicóloga e um dos terapeutas, o Caiçara esta bem mas muito calado, introspectivo... no casulo mesmo. Amanhã faz uma semana que esta lá, muito pouco tempo mas, aos poucos, ele vai se abrindo. Chegamos a conclusão também que, na próxima visita, este domingo, não vou. É muito cedo. E assim, em conjunto, vamos traçando algumas metas e planos para daqui três meses quando realmente o plano de prevenção a recaída entrar em ação.

Mas confesso, que no meio daquela platéia me senti um peixe fora d'água, era tanta codependencia e insanidade que dava para encher uma piscina olímpica. Voltei para casa lendo o CEFE no metro, ainda bem que ele estava na minha bolsa... 



quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Sono (ou falta dele)


Ola meus queridos(as)

Estou começando a me preocupar com meu sono, já fazem alguns dias que estou com muita dificuldade em dormir, e quando adormeço é um sono agitado, acordo no meio da madrugada com uma sensação angustiante horrível e não consigo voltar a dormir. Claro que acordo um trapo no dia seguinte...

Racionalmente tento convencer a mim mesma que esta tudo bem, mas aquela mistura de ansiedade com angústia demora a passar. Ao longo do dia, vou esquecendo dela digamos assim; mas a noite/madrugada ela volta com força total. Parece que quando meu consciente vai adormecendo, esse sentimento irracional aflora. A noite passada foi assim novamente, tomei umas cervejinhas com minha madrinha depois da sala, estou tranquila e mais leve depois da partilha, já era tarde, estou cansada; deito na cama e pronto, fico fritando; demoro muito a finalmente adormecer... no meio da madrugada desperto do nada com essa sensação horrível, como se eu estivesse morrendo afogada! Meio pânico mesmo, batimentos cardíacos acelerados, suando frio... tento me convencer que esta tudo bem, vou até o quarto do I., vejo ele dormindo tranquilo (viu dona barriga? esta tudo bem), aos poucos vou me acalmando... será que estou a caminho da insanidade, ou um colapso mental? 

Ou será que esta na hora de procurar uma ajuda profissional? Eu já fiz tanta psicoanálise na minha vida, não sei se tenho mais saco para isso... também estou um pouco relutante em tomar remédio para dormir (pois já tomei demais também). Pensei em meditação (segundo minha madrinha, a ajuda muito), mas os benefícios são a longo prazo e não posso me dar ao luxo de passar meses sem dormir.

Como convencer o meu subconsciente que esta tudo bem? Bom, dentro do possível esta, né? Olha, as vezes quem tem vontade de se internar sou eu! Como disse um companheiro na sala ontem, que vontade de pegar minha malinha e sumir! 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Pescaria


Ola meus queridos(as)

Nada como uns dias na praia para colocar as coisas nos eixos! Cada vez que desço a serra eu me questiono, o que eu estou fazendo em Sampa? Ah lembrei, trabalhando, ganhando dinheiro para sustentar meu filho... Preciso começar a colocar em açao algum plano que me leve profissionalmente a morar na praia, plantar sementinhas, traçar metas; mas confesso que neste momento ainda não dá. Até já cogitei morar em Santos, por exemplo, e subir a serra unas três vezes por semana. Idéias, idéias... 

Enfim, sempre bom demais rever meus amigos queridos, ficar horas observando as ondas quebrando na praia, o I. totalmente enlouquecido correndo na areia (peixe, peixe, peixe, mamãe PEIXE!!!!!!! Tá filho, já entendi...), muita cerva, camarão, lula e, pasme, peixe (é, só subo na balança semana que vem depois de fechar a boca uns dias). Porém, não foi fácil ver a dor da madrinha do I. quando falei que o Caiçara precisou ser internado novamente, a cara de tristeza da minha amiga pau para toda obra D., a decepção do vovô (adotado) seu E. e várias outras pessoas que sempre torceram por ele e sua recuperação e amam meu filho, acompanharam minha gravidez, comemoraram seu nascimento, e viram ele crescer durante seu primeiro aninho de vida bem de perto! Todos eles são pessoas muito simples, mas cada um do seu jeito, me ajudaram e apoiaram. Dona N. fez promessa para Nossa Senhora e uma moqueca deliciosa, vovô E. fez um baita churrasco para mim, minha amiga D. ficou com o I. e seus filhos uma tarde para que eu pudesse fazer a unha e uma massagem (ui...), a ex-babá do I. ficou com ele a noite assim consegui sair com uns amigos e distrair... Como sempre, me senti amanda e acolhida por todos! Mas a presença do Caiçara esta em cada esquina daquela cidade, cada onda que quebra na praia, cada estrela que brilha naquele céu, cada por do sol... a essência do litoral sul vive dentro dele. Um final de tarde, dois caiçaras passavam o picaré na beira da praia, foi como se o Caiçara estivesse lá, fazendo o que ele mais gostava, pescar (sempre de rede; picaré, caceio, estaquear sua amada feiticeira... alias que fim tiveram suas redes?). Quantas madrugadas, na época da tainha, ele me acordava todo feliz, molhado, tremendo de frio chegando da praia (invernão, a tainha é um peixe migratório, que passa pelo litoral sudeste no inverno vindo do sul), tinha acabado de "visitar" a rede com um saco cheio de tainhas... na manhã seguinte, segurando seu tesouro precioso, limpava uma por uma com a maior paciência da terra, enquanto eu já separava uma para o almoço. Quantas lembranças boas... isso é ele na sua essência, aonde ele se perdeu? Eu não sei, apenas tenho esperanças que ele se acha novamente.

Tive a infelicidade de esbarrar literalmente com a irmã dele, cidade minúscula... fiz que não vi e continuei meu caminho MAS uma questão de ordem prática ocorreu na minha cabeça. Será mais um Natal, mas um Ano Novo que ele estará internado, e em algum momento, mesmo sendo uma maluca, vai achar estranho a falta de notícias do Caiçara. Conversando brevemente com o M., responsável pela parte administrativa e financeira do CT aonde ele está, dei uma pincelada no histórico familiar, mãe faleceu na reso, pai a vários anos, tem uma irmã maluca que nunca colocou o pé numa sala e um irmão ausente (para o Caiçara, não para os outros "irmãos" da igreja, não duvido nada que ele vire pastor daqui uns anos)... o básico. Ele me perguntou se a família sabia que tinha sido internado, xiiii......caiu a ficha, não. Ele, bom mais eles vão precisar saber... Vão mesmo? Será? Para quê? Atrapalhar o tratamento, encher o meu saco? Uh..... bom, mais para frente, quem decide isso é o Caiçara; se ele quiser ligar no Natal, tenho certeza que o CT vai liberar.

Alias, sem criar expectativas, que diferença! Ótimo canal de comunicação com eles, só fui ligar hoje (questões de ordem prática também), conversei com o coordenador, os terapeutas, a psicóloga e já percebo um discurso muito profissional, mas amoroso. Amanhã, aqui em Sampa, haverá uma palestra com o monstro do NA que coordena a ONG, fui convidada estarei lá e conhecerei alguns deles em carne e osso! 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

22 anos


Ola meus queridos(as)

Finamente um tempinho para mim... ufa! Confesso que estou exausta, mas amanhã vou descer a serra e dar um TEMPO, feriadão, fui né? Estou precisando recarregar as baterias, simplesmente fazer nada, não pensar em nada, ouvir as ondas quebrando na praia, tomar cerveja, me entupir de petiscos maravilhosos no quiosque da madrinha do I. e desligar da tomada (desta vez nem celular vou levar, se alguém morrer só descubro na terça feira).

Esses últimos dias foram uma maratona, o importante é que cruzamos a linha de chegada, meio aos trancos e barrancos mas chegamos. Sem essa irmandade, acho que não teria chego nem na metade da corrida... mas juntos somos mais fortes, muitas companheiras, madrinha, sala e EU! Agradeço muito esse companheiro do NA, que é o fundador desta fundação (alias já tinha ido numa temática dele uns meses atrás), e abraçou o Caiçara no seu tratamento, estreitando os lanços Nar-Anon/NA, como deve ser! Não sou adicta, poderia até ter sido, mas nunca foi a minha "praia" digamos assim, chances não me faltaram. Não sou santa, mas engraçado, nada me preendeu... já fiz faculdade também tá queridos?! E num lugar, e num momento aonde andar com bata indiana era uniforme, bolsa de couro, e Castaneda era livro de cabeceira... tinha tanta ponta escondida atrás da lousa que daria para a classe inteira. Quando chovia e esfriava a noite, e amanhecia aquele mormaço, esquece... estava todo mundo colhendo cogumelos nos pastos com direito a cestinha chapeuzinho vermelho! Não, não sou santa... nunca fui. Mas era outra época, éramos mais inocentes (acho eu), cocaína era algo de outro mundo (tinha que ser rico, com conexões mirabolantes), crack não existia, no máximo alguém que veio da Europa e trouxe um ácido... lembro de um colega de faculdade que foi para a região da Indochina (atual Camboja) e voltou dizendo que tinha fumado ópio...Uau! Que louco! Anos depois estive no Camboja, e fiquei triste em ver o quanto a guerra do ópio destruiu aquele país e suas riquezas culturais... e o Kramer vermelho também.  Mas outro dia escrevo sobre isso.

Hoje, apenas estou grata, por poder estreitar os laços das irmandades (Nar-Anon/NA), e poder contar com os companheiros do NA, e prestar serviço aqui (na minha) e ajudar e ser ajudava lá! 

22 anos limpo e sereno não é pouco não... como dizem nas salas do NA, MONSTRO! Sem palavras para agradecer! 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Aquário


Ola meus queridos(as)

Os últimos dias realmente foram "tumultuados" e estou em débito com vocês... Não, ele não foi para o sul MAS esta internado num CT aqui no interior. Optamos por um meio termo, serão apenas três meses, o suficiente para quebrar a compulsão neste momento, desintoxicar, re-equilibrar e depois, como continuação do processo será reavaliado, e se apto, transferido para uma moradia assistida aonde poderá voltar ao convívio social sobre a supervisão de terapeutas, psicólogos, com horário e regras rígidas por tempo indeterminado (cada mês será avaliado novamente). Achei muito interessante essa abordagem, alias nos USA grande parte dos tratamentos de DQs são assim (apesar dos problemas serem outros, muita heroína e crystal meth), intervenção curta para desintoxicar e depois encaminhamento para o que eles chamam  de haf way house ou rehab. No fundo o indivíduo, que já passou por uma internação longa previamente, possa se beneficiar mais desta metodologia, pois as ferramentas, os passos todos ele conhece SÓ não consegue ficar limpo aqui fora, e essa é a chave. Uma re-inserção gradual, nada de 5 dias de reso, mais um mês e um diploma até logo... 

Bom, pelo menos desta vez esta dentro do que eu gostaria (não aquele bando de incapacitados mau formados... nem isso, formados em quê?). Pouquíssimo tempo, mas já percebo enormes diferenças em como este CT trabalha, e já conectada com eles de uma forma muito positiva (alias quando souberam, fácil só me escutar falar, que sou do Nar-Anon pediram para que eu desse uma palestra para os internos sobre nossa irmandade talvez no próximo mês). O lugar é pequeno, 15 internos, muito bonito (eles chamam de sítio), sem frescuras, conforto necessário básico, equipe (até então) muito capacitada... Permitiram que ele me ligasse hoje, só para ficar mais em "paz" e fui assertiva como não vinha sendo a dias. O enorme barulho dentro de mim silenciou, e voltei a escutar o PS, e com ele trouxe a serenidade, a calma, e, neste momento, assertividade que tinha se perdido por ai! Assim posso ajudar e ME ajudar. 

Os momentos de crises, se bem administrados podem virar gigantes alavancas! Mas sendo honesta comigo mesmo, estou exausta, precisando urgentemente ir para praia, olhar aquele mar, deixar a maresia tomar conta de mim... comer lula a doré no quioske da madrinha do I., sentir o carinho dos meus sempre velhos amigos, e curtir o I. correndo que nem um louco pela areia, pulando as ondas e falando: peixe! A palavra que mais sai da sua boca é peixe! Advinha o que comprei de presente de dia das crianças para ele? Um aquário! Ele vai enlouquecer! 

Enfim meus queridos, nunca é fácil se despedir (de ninguém) mas entendo e respeito a importância deste momento, pelos próximos 15 dias é comunicação zero (por mim tudo bem... quem esta codependente agora é ele, engraçado né?), ele precisa sentir a sua dor, em toda sua intensidade. Abraçar o velório, pois (teoricamente) a droga morreu... e sempre dizemos, não existe dor maior ou menos do que a que você sente! Essa é a maior dor, a que você sente! Fico tranquila sabendo que ele estará passando por isso com o apóio necessário, supervisionado e direcionado no caminho da recuperação! 

Quase como se ele estivesse nadando num aquário também! 





segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Chimarrão e internação


Ola meus queridos(as)

Chegou ou não chegou no fundo do poço? Últimas notícias... quer ser internado, ok, boa viagem, encontro você no terminal do Tietê (não... vai de ônibus mesmo) amanhã, o pessoal da clinica já esta de sobreaviso e vejo você quando der (os três primeiros meses, visita zero!). O tratamento são 9 meses, mas ninguém sai antes de um ano... Pior, ele realmente chegou no fundo do poço, roubou na pensão que estava morando, me ligou querendo que eu tirasse ele de lá hoje a noite, tá fofo...  não tenho nada haver com isso, e minha garganta voltou a dor então, mais ibuprofeno. 

E eu nisso tudo? Acho que estou anestesiada, simplesmente não sinto mais nada... quer se internar, tudo bem, aqui esta a sua passagem, boa viagem, seja feliz. Acredito que será a salvação da lavoura? Não. Mas tenho muito respeito e consideração por esse CT, MAS...... recuperação é para quem quer, não quem precisa. Desta vez, estou tranquila com a logística, e é a clínica que eu escolhi, e confio de olhos vendados. Minha madrinha disse algo que esta reverberando nos meus ouvidos, você mandou ele lá pro sul... São Borja, se Porto Alegre já é longe, bota mais 500Km. Porque? Temos clínicas ótimas aqui em SP....... É........... respondi é...............pois é....................não é...............................

Como manipular minha madrinha? Impossível! Conheço várias clínicas aqui no estado também, que recomendaria MAS ela matou a charada em três segundos. Eu quero ele bem longe de mim, simples assim! E os ares sulistas vão fazer bem a ele, quem sabe ele até apreende a tomar chimarrão?! Que saudades, final de tarde, o povo ia chegando no meu varandão, e dá-lhe chimarrão (depois a gente mudava para cerveja mesmo)! 

Espero que ele apareça amanhã na rodoviária...mas só o PS sabe!

Chegando lá...será?


Ola meus queridos(as)

E se ele morrer (ou morreu)? Maluquices de uma febre de 39 graus que não abaixa, mais um indivíduo na ativa total sumido... Será que ele faria essa gentileza de simplesmente deixar de existir assim, do nada? Como disse minha sábia babá, se morreu a gente enterra! É de uma sabedoria crua e nua impressionante! 

As vezes penso que seria mais fácil para todo mundo, mas ai lembro do programa, opa! Ele não precisa morrer, ser exterminado, sumir da face da terra para que eu tenha paz... ele pode continuar vivendo como um zumbi, meio morto vivo, e eu ter paz também pois ela é exclusiva minha. Eu tenho as ferramentas, só utilizá-las, colocar em prática mais uma vez o meu desligamento, eliminar qualquer expectativa, emocionalmente "chutar" o balde e vê-lo como mais um na multidão, só mais alguém sem nada de especial para ser notado. Uma pessoa doente que não quer se tratar. 

A cabeça já sabe o que fazer, o coração (que não encontra-se em condições de opinar, pois esta na UTI) ainda não... Não estou abandonando ninguém, abandonamos quando deixamos alguém na estrada, ele não estava nem na mesma viagem que eu, menos ainda na mesma estrada. 

E hoje, por mais que doa, tomei uma decisão, chega. Ah, desculpe, ele ligou (pois é, ele não morreu, vaso ruim não quebra) .... pediu para ser internado novamente totalmente louco de pedra (literalmente), sinto muito, não movo uma palha. Não é sincero, é a gigante ressaca da droga falando...e eu não escuto mais. 

Talvez o fundo do poço esteja próximo, bem próximo!


48 horas


Ola meus queridos(as)

Comigo tudo certo, tirando uma faringite dolorosa, muita febre a noite e vivendo de sopinha (não consigo engolir nada). Cancelei todos os compromissos hoje, vou tentar fazer o básico aqui de casa mesmo, e dá-lhe ibruprofeno.

No sábado a tarde nos encontramos, combinamos de levar o I. para se entupir de plástico no M da felicidade domingo... estou esperando até agora né? Nem pensei duas vezes, convidei minha mãe e lá fomos nós três. Depois passamos a tarde na minha irmã, o pequeno já esta com 5 kilos! O I. brincou com o primo (bom, mais ou menos, ele já fez 6 anos e vive perguntando se o I. babou nos seus brinquedos... uma figura, confesso que acho ele meio chatinho, mas agora com a chegada do novo membro ele perdeu seu trono, quem sabe melhore). Peço ao PS que me guie nessa jornada e eu saiba educar o I. para que ele não vire aqueles filhos únicos mimados e chatos... criança mimada é tão feio (lá na escolinha do I. tem as pencas, sabe o que é isso? Culpa, os pais trabalham que nem uns malucos, não tem tempo para a criança e acabam fazendo todas as suas vontades para suprir a sua culpa). 

Bom, até agora nada, nem um telefonema, nem um sinal de fumaça... quase 48 horas de sumiço. A compulsão deve ter voltado com força total, desta vez tenho quase certeza que ele vai perder o emprego (merecidamente) e a mulher aqui já fez as malas também (no sentido figurado, graças a Deus tive a clareza de continuar morando no meu canto). Claro que outras coisas de ordem prática passam pela minha cabeça, se ele foi atropelado, se levou um tiro sendo assaltado (acontece em SP todo santo dia infelizmente) mas no fundo... ele voltou para a ativa de braços abertos. 

Como já postei inúmeras vezes, na ativa não tem diálogo. Na ativa NÃO tamu junto... Apenas espero que ele encontre o caminho da recuperação novamente, pois a dependência química é uma doença progressiva e fatal. Mas demora para sair aquele atestado de óbito, antes do ponto final eles vão gradualmente morrendo em vida mesmo... tornando-se zumbis, escravos da droga, perdendo tudo, sua condição como ser humano, virando bichos acuados, paranóicos. É meus queridos, não tem como florear, assistir de camarote a pessoa que você ama/amou neste estágio é fora de questão! 

Mais uma vez vou de primeiro passo, sou impotente perante o adicto e o décimo primeiro, através da prece e meditação melhorar meu contato consciente com o PS, conhecer a SUA vontade em relação a mim e a força para realizar essa vontade. 

Obrigada pelo carinho de todos vocês, seguro minha mão na sua, uno meu coração ao seu para que juntos possamos fazer o que sozinha eu não consigo!!!!! 

sábado, 5 de outubro de 2013

E daí?



Ola meus queridos(as)

Hoje vou de Milton Nascimento e sua eterna sabedoria... 
E daí?
Meu sangue de mangue sujo
Sobe a custo, a contragosto
E tudo aquilo que fujo
Tirou prêmio, aval e posto
Entre hinos e chicanas
Entre dentes, entre dedos
No meio destas bananas
Os meus ódios e os meus medos
E daí?



Como é bom simplesmente ser, com meus ódios e medos entre essas bananas... As vezes essa é  a importância do e dai?!!! É difícil, é fácil, é amor, é não tão amor, é vida... e daí?!!!!!!! Quase acho que Milton sabia da teoria do foda-se quando escreveu essa música lindíssima! 

E daí? Foda-se... seja feliz, com suas escolhas, as dos outros são deles! Mais uma vez ele voltou para o programa (NA), mais uma vez ele disse que fará tudo diferente, mais uma vez ele quer se recuperar... e eu, vou de Milton, e daí?!!!!!!

Quem sou eu? Apenas alguém que têm esperança e fé mas e daí? 

http://www.youtube.com/watch?v=COdn0PzRpPc
(não sei direito como colocar o link da música, mas vou apreendendo meus queridos)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Amor exponencial


Ola meus queridos(as)

O que cultivar? São tantos sentimentos misturados, como separar as sementes e plantar o que vale a pena ser colhido? Amor.... amor cresce, floresce, dá frutos. O amor gera amor dentro de uma progressão geométrica, exponencial! Enquanto outros sentimentos crescem linearmente, o amor é exponencial. Como faz bem ter um jardim cheio de amor.

Queridos, não virei a Madre Tereza de Calcutá, longe disso, nem o Dalai Lama mas simplesmente, mesmo vivendo esse momento complicadíssimo, optei por plantar amor no meu jardim, amor por mim (sempre em primeiro lugar), amor pelo meu filho, amor por ele, amor pelas pessoas que sofrem, amor ao próximo (sem saber quem é esse próximo), amor pela vida (com seus altos e baixos), amor a minha irmandade... 

Muitos anos atrás quando ainda estava casada mas querendo me separar (meu primeiro casamento, não queridos, não matei nenhum deles, alias só foram dois...não tenho vocação para ser viúva negra) ouvi essa frase: é impressionante a força que as coisas têm quando elas precisam acontecer. Ficou gravada comigo todos estes anos, e só hoje realmente compreendi seu significado. A força que as coisas têm... quando precisam acontecer! É uma força que literalmente "move montanhas", a força destrutiva/construtiva que esta na natureza e dentro de cada um de nós sem saber, ela esta lá e nos momentos mais críticos, se manifesta com todo esplendor e magnitude. Força! Para construir ou destruir. 

E mais uma vez me pego nas escolhas... o que fazer com essa " força"? Construir ou destruir?  Escolho, só por hoje, construir o amor, e que ele cresça exponencialmente e chegue a todos que dele precisam! 


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Dor


Ola meus queridos(as)

Sem palavras... não é mais recaída, voltou para a ativa mesmo. Combinamos de pegar o I. na escolinha e ir almoçar, afinal de contas quarta-feira é dia de feijoada e neste friozinho nada melhor. Ele me liga no final da manhã, vamos sim tudo certo. Meia hora depois, ele me liga de volta, perguntei já chegou no metrô? Não, não posso ir..... tá bom, porquê? Sua resposta: estava no uso até agora. Meu corpo reagiu de uma forma instintiva, meu coração acelerou (deve ser a descarga de adrenalina), simplesmente controlei minha vontade de mandar ele a merda e desliguei o celular (total).

Fui pegar o I. na escolinha com a babá e fomos comer feijoada nós três. Algumas horas depois, ligo novamente o celular (afinal de contas, profissionalmente as pessoas precisam entrar em contato comigo), 30 ligações... mais uma, atendo. Apenas disse, você têm 5 minutos do meu tempo. Lá veio ele com a ladainha, mas desta vez querendo ser internado, estou pedindo ajuda... É mesmo querido?! Só porque você esta nesta gigante ressaca, com a droga ainda falando no seu corpo, o Mar Vermelho vai se abrir para você passar? Não, ele não quer parar... ele não quer recuperação e eu não vou sair que nem uma maluca por ai resgatando ninguém. Tomei a decisão, deixa a poeira abaixar, amanhã ou depois se ele realmente quiser ser internado, compro a passagem para Porto Alegre e boa viagem (a clínica já esta de sobre aviso). Mas neste momento, perda de tempo total... 

Pois é meus queridos, abalei um pouco? Se falar que não estou mentindo, perdi minha serenidade? Um pouco, não tem como, e uma enorme tristeza toma conta de mim, não porque criei expectativas (expectativas zero, faz um tempinho) mas minha esperança diminuiu... preciso lembrar sempre que recuperação é para quem quer, não para quem precisa. E as estatísticas estam ai! Fico triste em ver que, talvez, ele seja mais um número nesta estatística avassaladora, que meu filho crescerá longe do pai (alias aquela idéia antiga de simplesmente voltar para os USA e contar uma linda estória de como o pai morreu ressurgiu com força total). 

Mais uma vez ele se auto sabotou, mais uma vez ele achou que "só uma"... olha, esta ficando monótono esse discurso. Ele não vai parar de usar enquanto ele não resolver/quiser  parar de usar, posso até interná-lo MAS do que adianta se ele não der o primeiro passo novamente, e abraçar a terceira tradição do NA? NADA...... 

Qual minha parcela nisso? Nenhuma, simples assim... chegou o momento, de simplesmente deixar ele ir... pelas próprias pernas, aonde quer que elas os leve. Não vou me culpar, não vou apagar o incêndio, não vou fazer NADA! O que vou fazer? Depois de encher o saco das companheiras (amiga única super você mesmo, madrinha intensivo) apenas lembro: aceite ou sofra! Eu aceito... e não sofro!

Mas dói...


Acolhimento


Ola meus queridos,

No mínimo curioso como algumas coisas acontecem, eu não acredito em destino mas as vezes é muita coincidência mesmo! Semana passada tivemos nossa reunião de serviço do distrito, discutimos muito como criar mecanismos para que as pessoas permaneçam frequentando as salas do Nar-Anon, temos um fluxo de companheiros que aparecem uma, duas vezes e não voltam mais. Como fazer essas pessoas ficarem nos grupos? Uma das respostas é acolhimento, um bom acolhimento, carinhoso, respeitoso, amoroso ajuda muito aquele companheiro se sentir confortável, amado, enfim acolhido pelo grupo; aumentando bastante as chances dele voltar, e continuar voltando. 

No meu caso, foi fundamental! Tanto que a pessoa que me acolheu quando fui na minha primeira reunião do Nar-Anon hoje é minha madrinha! Olha a importância!!!! E ontem na sala o PS me colocou em cheque mate, não só tinhamos pessoas novas na reunião (o que é raro, o último acolhimento que fiz faz meses; e confesso, sem muito sucesso, a pessoa nunca mais voltou), como foram três de uma vez! 

Confesso que na hora deu um friozinho na barriga, será que conseguirei ser amorosa, assertiva, segurar a mão dessas pessoas que estam aqui procurando ajuda? Acolher... abraça-las, escutar e não dar uma aula sobre o que é o Nar-Anon (sei que as vezes sou "didática" demais, por isso acabo sempre dando temáticas sobre as tradições, os conceitos mas raramente falo sobre minhas experiências pessoais ou recuperação). Puxa, são três ao mesmo tempo e eu, uma só! No intervalo minha madrinha veio ajudar, sentei com uma delas, minha madrinha com outra e a terceira pessoa (depois na partilha percebi, a que mais precisava) ficou meio distante, sem querer muito papo imersa na sua dor. 

Três pessoas, três estórias de vida, três reações totalmente diferentes... quando li a terceira tradição, a companheira que eu fiz o acolhimento levantou a mão prontamente feliz de ter nos encontrado, a que minha madrinha acolheu, disse ser muito cedo ainda (pela sua postura corporal vi o quanto blindada e machucada ela esta) e a terceira simplesmente desabou a chorar copiosamente (fazia tanto tempo que ninguém chorava na sala que saiu todo mundo procurando a caixa de lencinhos que tinha ficado no armário). 

Depois da sala fui tomar uma cerveja com minha madrinha, ela me abraçou e disse, das três novas pessoas na sala a única que tenho certeza que voltará foi a companheira que você acolheu; quem paga a cerveja hoje sou eu! E assim, ganhei meu dia e uma cerveja de brinde! 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Quem tem medo do lobo mau?


Ola meus queridos(as)

As histórias do lobo mau nasceram séculos atrás na Europa, onde o lobo sempre foi incompreendido e temido. Presente nos clássicos da literatura infantil, como Os três porquinhos, Pedro e o Lobo, e óbvio, Chapeuzinho Vermelho. Mas também temos uma lenda do lobo bom versus o lobo mau, mais ou menos assim:

“Uma noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas.

Ele disse:– A batalha é entre os dois lobos que vivem dentro de todos nós. Um é Mau. É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, mentiras, orgulho falso, superioridade e ego.O outro é Bom. É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade, humildade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:– Qual lobo vence?O velho índio respondeu:– Aquele que você alimenta!”

Bem simbólica né? Muito utilizada na terapia cognitiva, e facilmente de ser interpretada. Os dois lobos são nossas emoções, causadas pela forma de pensar, portanto o lobo que alimentamos é uma escolha nossa. Simples assim! Pensar bem nos faz sentir bem e agir bem... Então vamos alimentar o lobo bom, sem ter medo do lobo mau! O lobo mau só existe se você alimentá-lo!