sexta-feira, 1 de abril de 2016

As mãos que me chulaparam


Ola meus queridos(as)

Este post é para você, amiga, querida, guerreira que ainda carrega o peso do mundo nas costas... Este post é para você, que acorda no meio da madruga (ou nem dorme), desesperada, sem saber se essa infindável noite um dia terminará... Este post é para você, que sofre escondida, chora no banheiro, não atende o telefone, esqueceu de pentear o cabelo... Este post é para você, que teve sua alma tão machucada que não acredita em mais nada nem ninguém... Este post é para você, que ainda acha que vai salvá-lo das garras da adicção e consome cada segundo da sua vida nesta missão impossível... Este post é para você que sofre porque ama alguém que é um dependente químico.

Eu já estive aí, neste limbo, nesta dor eterna, nesta escuridão sem fim... (e nada me garanta que não possa voltar, por isso me policio diariamente; a codependência também é traiçoeira). Eu já estive ai, me agarrando com unhas e dentes as migalhas de esperança que alguns poucos raios de sol traziam pela persiana da janela fechada. Eu já estive ai, minhocando planos mirabolantes para que ele não usa-se mais drogas... Eu já estive ai, agachada atrás da porta com medo, apavorada! Eu já estive ai, escondendo minha bolsa, a chave do carro... Eu já estive ai, sendo refém dentro da minha própria casa. Eu já estive ai, morrendo, agonizando, sangrando lentamente a cada dia... deixando meus sonhos escorrerem pelos dedos. Eu já estive ai, perguntando o porque, por que comigo? 

Quem me chulapou e me acordou desse pesadelo foram várias mãos (e pés na bunda também, só assim eu me mexia), e sou grata a todas elas, MAS antes eu precisei colocar minha cara para bater.... e não foi fácil. Vocês, meus queridos, que me acompanham neste espaço há uns anos sabem da minha trajetória, meus altos e baixos; e finalmente minha busca por equilíbrio. Fazer as pazes comigo mesma! As vezes ainda fico meio brigada comigo, mas não dura muito porque eu gosto deste eu; é um eu chato, birrento, arredio, impulsivo, insano (as vezes) mas é uma parte do meu "eu" também. E assim me desculpo, e me perdoou... O que me permiti desculpar e perdoar os que amamos também! 

Sem essas "mãos" que me chulaparam, me ampararam, me abraçaram... a estória seria outra e, talvez, eu não estivesse mais aqui, cultivando os sonhos e amando tudo e todos!!!  E acreditando, não no papai noel, mas na humanidade... no ser humano e sua capacidade de fazer o bem neste planeta. Como estamos carente de "mãos" amigas! Se a minha servir, estendo minha mão a você, minha querida....

Quem "tem" tem medo


Ola meus queridos(as)

Mais uma vez, em tempos de crise, o Caiçara que nasceu com a bunda para Lua, conseguiu um ótimo emprego numa rede multinacional de restaurantes, asian fusion cuisine (esta na moda e eu adoro!!!!). Agora ele apreende a fazer o melhor wonton do universo! O salário não é lá essas coisas, mas a empresa é grande com restaurantes em vários países (ele até se animou a apreender inglês) com plano de carreira e benefícios; e se ele realmente se dedicar e não meter o pé na jaca, o vejo como sous chef em um ano.

Fiquei feliz por ele, sua auto estima, se ocupar com o que gosta MAS não posso deixar de pensar aqui com meus botões: será que vai desta vez? Quantas mais oportunidades a vida vai lhe dar? Já foram tantas indas e vindas... Porém, sinto uma diferença; seu comportamento. Não é manipulação, é genuíno; ele se preocupa; ele nos ama; ele quer viver em paz. Um tempo atrás enquanto conversávamos, ele, muito tranquilo disse, que simplesmente não podia mais usar; seu organismo não aguenta mais e provavelmente ele morreria. Sei lá... vaso ruim não quebra, mas senti um verdadeiro comprometimento DELE com ele mesmo, com sua vida.

Adotei uma outra postura também já faz um bom tempo, não passo mais meio segundo da minha vida me preocupada com ele... não é egoísmo, longe disso; adoro dividir minha vida com ele, e vice-versa (espero eu!). Ele pode recair e voltar a fumar crack, pode; é uma possibilidade; ele pode continuar investindo na sua recuperação e continuar limpo; pode, também é uma possibilidade... Sei, e vocês também, infelizmente, o quanto traiçoeira é a dependência química; porém sinto que ele não mais a menospreza, alias, porque não dizer, ele tem medo dela pois sabe que as chances dela ganhar são muito maiores que as dele de vencer. Inúmeras vezes, ele simplesmente flertava com ela, brincava; mas algo mudou, hoje, ele a respeita e como dizem, quem "tem" tem medo!