São Paulo, 27 de Janeiro
de 2013
Oi Caiçara,
Acordei hoje querendo
tanto acreditar que podemos ser aquele 1% ! Que tudo vai dar certo,
que voltaremos a ser uma família novamente...Infelizmente os
números não estam ao nosso favor e eu não acredito mais em conto
de fadas à anos. Mas acredito em comprometimento, na capacidade de
mudar, crescer e no amor. E que todo esse árduo trabalho será
recompensado.
Outro dia lembrei de uma
frase: Ignorance is bliss! Difícil a tradução, seria algo como a
ignorância é a felicidade absoluta. Na verdade o significado é
muito mais profundo, quando somos ignorantes simplesmente não temos
o conhecimento da realidade e vivemos num mundinho aonde “achamos”
que somos felizes pois não questionamos, não vemos, não
pensamos...Uma vez que tiramos a venda e o mundo real se desdobra a
nossa frente nosso “mundinho feliz” desmonora, deixa de existir e
questionamos. Inclusive nossas verdades, porque você acha que todos
essas pessoas fanáticas (religiosas ou sei lá eu mais o que) são
tão felizes? E quando são confrontadas sentem-se tão amedrondadas?
Mas o I. acordou,
termino meus delírios filosóficos mais tarde...
Também andei pensando
sobre a questão da nossa inexistente relação sexual no presente
momento. Eu não faço sexo desde novembro (e não diga você também
pois essa escolha foi sua), eu não escolhi simplesmente parar minha
vida sexual saudável, isso me foi imposto por você e pela clínica
que você escolheu ( na visita catastrófica era mais ou menos isso
que eu tentei expressar, não de uma forma tão direta quanto agora,
eu precisava/preciso me sentir mulher, fazer amor com você, sexo,
transar...entendeu agora?). Outro dia depois de ter me masturbado (é
o que me resta) fiquei pensando que merda...porque eu tenho que podar
algo fisiológico que me faz bem?
Quotando: “Cada
vez mais estudos comprovam os benefícios de uma vida sexual saudável
para nosso organismo. A atividade sexual é fundamental, ao ponto da
Organização Mundial de Saúde apontá-la como um dos sete índices
para medir a qualidade de vida”, explica a psicóloga especialista
em Sexualidade Humana pela Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo, Carolina Miranda do Amaral e Silva. “
Então
basicamente, estou diminuindo minha qualidade de vida por causa desta
abstinência. Quando tentei argumentar, deu no que deu...Resumindo
querido, nós sempre tivemos uma vida sexual boa e nem isso podemos
ter mais?! Não acho justo comigo. O seu problema não é
compulsividade sexual (que pena...hahahah), então porque eliminar
algo que faz bem? Não lembro de você sair correndo em direção a
biqueira depois de ter um orgasmo comigo, alias dormiamos muito bem
depois. Pior são as contradições, que esse é o momento que tenho
que cuidar de mim, da minha vida MAS minha vida sexual FAZ parte da
minha vida! Minha vida profissional, minha vida familiar, minha vida
sexual...tudo isso faz parte do que é a minha VIDA! Queria ter
conversado a respeito disso pessoalmente com você quando estive ai,
mas o tempo era curto, outras coisas foram mais relevantes...enfim,
só não entre em nenhuma paranóia. Eu quero fazer amor com você,
só com você e ninguém mais. Mas sinto muita falta (até
fisiologicamente).
As
vezes gostaria de ser ignorante....viver com uma venda nos meus
olhos, acreditar piamente em qualquer merda e ser feliz, burramente
feliz. Mas não tem volta, com o conhecimento surgem os
questionamentos, o aprofundamento de ser ou não ser, as escolhas, a
busca. O ser humano é muito complexo, prefiro meus modelos numéricos
com suas equações diferenciais e suas variáveis parametrizadas,
faz mais sentido...continuo não entendendo gente, pois fazemos
absolutamente tudo ao contrário da lógica e acabamos sempre nos
fudendo (inclusive eu).
E
quando já resolvi todas as equações, achei a solução racional
para o problema, o I. corre em minha direção com seus bracinhos
pedindo colo, Dona N. me abraça tão forte, meu pai me olha com
carinho, o sol se põe com todos os tons de vermelho e você me beija
novamente como se fosse a primeira vez depois de tantos anos...e
minha solução foi pro brejo. Minha humilde conclusão: precisamos
uns dos outros, precisamos ser abraçados, beijados, reconhecidos,
respeitados, e amados! O ser humano precisa ser amado. Primitivo não?
Talvez, nós não tenhamos evoluido tanto assim...Me incluo, pois eu
preciso ser amada e amar senão serei a pessoa mais chata, lógica e
sem sentido da face da terra. O I., aos poucos vem me ensinando
isso...e você, mesmo aos avessos, também!
Alias,
não é porque o I. é meu filho, mas ele é uma criança muito
cativante e comunicativa. Outro dia estavamos no trânsito e ele
dando risada, quando vi ele estava brincando com o motorista do
ônibus pela janela...pode? Também ficou pulando de colo em colo
quando estive na Dona N., as meninas até disputaram ele! Ah,
acho que esqueci de comentar que a Mria esta trabalhando na
cozinha do quiosque.
Bom
meu amor, uma noite de domingo tranquila, I. dorme, eu tentando
ficar acordada (não são nem 10 da noite) mas sem muito sucesso.
Penso em você com carinho, com saudades e desejando muita
serenidade, coragem e sabedoria. Três coisas tão simples, mais que
nos trazem tanta força. O dia vai chegar, e oraremos juntos a
mais simples e sábia oração da serenidade...E deito na minha cama
junto com o Mr. Sebastian (alias ele é um caranguejo laranja muito
interessante!) querendo tanto que você se materializa-se aqui, do
meu lado...estou tão cansada, tão carente. Será que o conto
infantil no qual a princesa beija o sapo e ele vira um príncipe
aplica-se a caranguejos de pelúcia também?
Uma
ótima semana para você.
Beijos,
Dona Barriga
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