sábado, 30 de julho de 2016

A bruxa evangélica


Ola meus queridos(as)

Algo de podre paira sobre o reino da Dinamarca... Quando era criança escutava isso, e pode ser um ditado bem bobo mas quando algo cheira mal... eu lembro dele, e algo cheira mal aqui. É sempre assim quando o Caiçara resolve ligar para irmã bruxa/evangélica dele. O ar pesa, cheira mal, e depois lá vou eu jogar sal grosso na casa inteira. É sério, vocês devem estar imaginado que enlouqueci mas não, tudo pesa, seca, escurece; esse ser é um não ser, desprovido de luz e suga tudo e todos! Quase como um buraco negro. Mas até um buraco negro tem sua função no universo, só ainda não sei qual é a dela. 

Algumas pessoas simplesmente não apreendem, e o Caiçara é uma delas. Inúmeras vezes pedi que ele  continue andando sem olhar para trás ou carregar essa bruxa com ele, mas algo dentro dele não consegue simplesmente se desvincular... mas ela é minha irmã, jura? Foda-se. Irmã não é isso meu querido. Esse ser apenas nasceu da mesma barriga que você e mais nada. 

Eu não tenho mais raiva como alguns anos atrás, hoje eu tenho dó e mais nada, Quanto mais longe de mim e do meu filho (boa tia nem lembrou do aniversário dele), melhor. Alias eu só lembro que essa bruxa evangélica existe quando o Caiçara lembra que ela existe, por mim, honestamente tanto faz quanto tanto fez. Mas ela o afeta, o transtorna, não faz nenhum bem à ele; clássica relação tóxica, Desejo que o Caiçara consiga quebrar essa relação com esse ser MAS quem sou eu... 

Enquanto isso, ignoro, e vou vivendo minha vidinha que esta gostosa! E sinto muito que o ser humano ainda não entendeu o que importa na vida. 


Mamãe águia


Ola meus queridos(as)

E mais um ano na vidinha do I. é comemorado. Meu pequeno fez 5 aninhos!!! Como o tempo passa, não, passa não voa... outro dia ele estava no meu colo e agora correndo enlouquecido por ai. Cheio de personalidade, um serzinho, mas um SER, único, com gostos e (des)gostos, opiniões, vontades, sonhos, maluquices. 

Para uma mãe, é uma mescla de sentimentos; uma enorme compensação por ver seu filho crescer saudável e feliz explorando o mundo, mas ao mesmo tempo, um medo tão enorme quanto por vê-lo começar a caminhar pelas próprias pernas; a cada ano que passa sinto que o cordão umbilical vai se estendendo, até um dia romper de vez.  Fisicamente o cordão umbilical foi cortado 5 anos atrás, e racionalmente sei que o cordão emocional nunca será cortado MAS mãe quer os filhos embaixo das asas, mesmo sabendo que eles precisam voar... 

Outro dia estava assistindo um documentário muito interessante sobre as águias americanas (american eagles), lentamente sua população aumenta a cada ano e provavelmente estarão fora da lista de espécies em extinção em breve com esse crescimento populacional. Entre outros fatores, começando por nós humanos a preservar seu habitat natural; as águias voltaram a se reproduzir e serem bons pais ensinando seus filhotes a sobreviver. Lá estava a mamãe águia, no topo de um cliff com seus filhotes no ninho e chegou o momento de ensiná-los a voar. Um por um, relutantes, os filhotes não queriam simplesmente pular no abismo; a mamãe águia sabia que, para eles sobreviverem, teriam que apreender a voar e carinhosamente foi encaminhando os até a beira do penhasco. E com todo o instinto do mundo, a mamãe águia empurrou seus filhotes... e alguns saíram voando em três segundos, outros demoraram um pouco mas começaram a bater as asas, e um simplesmente caia em queda livre quando a mamãe águia abriu as asas e voo em sua direção; e o filhote começou a imitá-la e bater as asas também. 

No fundo é isso, eu gostaria de ser a mamãe águia com sua sabedoria, seu instinto e coragem de empurrar seu filho do penhasco para que ele apreenda a voar quando a hora chegar! 



segunda-feira, 25 de julho de 2016

Tatjana manuska


Ola meus queridos(as)

Essa é a segunda estória/lenda da minha família, lado materno polonês/russo. Minha avó e meu avô, os dois engenheiros de minas vivendo sua vidinha, minha tia já nascida pequenininha com uns dois ou três ano, minha avó grávida (da minha mãe), em Varsóvia, na sua casa da cidade e outra no campo. É o que era chamado de casa de inverno e verão, na época era comum. Minha avó sempre amou mais os verões que os invernos, e a casa do campo era seu refúgio. Nesse oasis ela cultivava suas orquídeas na estufa o ano todo, plantava seus morangos para compotas, e beterrabas para um bom borsch...  e amizadse com os "criados". Um belo dia a mulher do caseiro entrou em trabalho de parto, difícil, longo, complicado, o médico não chegava (hospital...nem pensar né), e minha avó saiu do salto alto, tirou o casaco de mink, e literalmente fez aquele parto sozinha! Diz a lenda que chamaram o bebê de Tatjana... em homenagem a minha avó Tatjana. 

Rapidamente os tempos mudaram, a Alemanha nazista invadiu a Polônia, e a casa de verão foi invadida pelas tropas,  e as orquídeas destruídas, as beterrabas esmagadas... e minha avô, que só era polonesa, não judia embarcou para Auschwitz sem suas orquídeas, grávida de 7 meses. Minha mãe nasceu num campo de concentração, longe do seu berço tão decorado, seus bichos de pelúcias, das orquídeas. Mas minha avó nunca se dobrou, cortou quilos e quilos de batata numa cozinha pobre e gelada enquanto minha mãe mamava grudada no seu peito (e ela agradecida por poder amamentar ela, não a mesma sorte de outros). Todos sabiam o fim, os "banhos" nos quais eram envenenados e mortos. Minha avó sabia que seus dias estavam contados, e numa noite de nevoeiro ela saiu do alojamento pedindo à Deus que fosse morta escutou uma voz... não era Deus mas um soldado da SS que patrulhava as cercas... Tajtana, Mamuska Tajtana! 

E ai entra a lenda, era ele seu criado da casa de verão que minha avó ajudou no parto da mulher. E como todos os menos favorecidos foram recrutados pelas SS por um trabalho. Combinaram um horário que ele estaria de vigília, na madrugada, para que pudessem fugir. E assim foi, numa madrugada sombria, com nada mais do que a roupa do corpo, minha mãe já andando, minha tia chorando e meu vó... o ex-caseiro não viu, e eles entraram no meio da floresta e correram, correram até chegarem num casebre, imploraram ajuda; e foram acolhidos, alimentados e dormiram numa cama depois de vários anos nas mãos dos nazistas.

Era 1945, o final da guerra... e eles chegaram na Itália e embarcaram no primeiro barco saindo da Europa para qualquer lugar e vieram parar neste pais. E até o dia que minha avó morreu nunca conseguiu pronunciar, e procurou os seus que ficaram, sumiram, morreram, e nunca desistiu até seu último dia nessa terra de acho-los e ajudá-los. Passou anos e anos enviando sacos de comida, roupas etc... voltou a Polônia inúmeras vezes buscando seus irmãos e irmãs sem achar, nenhum deles teve a mesma sorte que ela. Nunca achamos nem os túmulos.

Anos depois da sua morte confortável aqui, do lado da família, minha mãe e tia receberam uma carta do governo alemão querendo restituir as propriedades que foram da minha avó/avô desapropriadas indevidamente pelos nazistas durante a guerra.  Pois é, a casa de verão da minha avó com suas orquídeas ainda existe, e segundo minha mãe que esteve visitando uns anos atrás, continua como ela deixou. Só falta algum de nós quer ir morar lá. Já a casa da cidade, elas decidiram doar, pois um orfanato funciona lá hoje.

Muita coisa horrível aconteceu na guerra, muita coisa se perdeu mas muita coisa se achou também! Só quem viveu sabe que no concreto sempre nasce uma flor que não desisti! Isso é minha avó! Minha Babushka, que rezava toda noite o pai nosso para mim em polonês ... depois de tantos anos ainda lembro da voz dela e rezo em polonês também quando a coisa aperta!!!

P.S: A última vez que estive na Alemanha, o processo de restituição de posse não estava finalizado ainda, então não vi a estufa das orquídeas da minha avó,  mas vou, quem sabe, passar um tempo com elas e o I, em breve!









sábado, 23 de julho de 2016

O velho Manoel


Ola meus queridos(as)

Minha família é pequena mas cheia de estórias, algumas delas ninguém realmente sabe se são fatos ou lendas que se perpetuam através das gerações e se tornaram verdadeiras. Temos duas clássicas, de cada lado da família. Fiquei com vontade de escrever uma delas hoje, do lado paterno português. 

Meu bisavô Manoel (pois é, parece que todo português de Tras-os-montes se chama Manoel, como meu avô Manoel e meu pai Manoel também), cruzou o Atlântico e chegou ao Brasil no começo do século passado, em busca de aventuras e dinheiro deixando sua amada Maria debruçada numa janela no além Tejo esperando seu retorno um dia com promessas de fortuna e casamento. 

Só temos uma foto muito velha dele, desbotada em preto e branco; mas ele era bonito, jovem, com um olhar sonhador. E foi parar em Manaus, em pleno ciclo da borracha. Com sua lábia e conhecimentos, afinal de contas estudou engenharia em Coimbra, construiu um império; o "rei"da borracha (assim meu avô diz que o chamavam), prosperou, ganhou fortunas e perdeu grande parte dela com jogo e mulheres (diz a lenda). Se apaixonou por uma índia/cabocla, sumiu na floresta e anos depois voltou para Portugal, sem um centavo no bolso e casou com Maria, que ainda o esperava.  Nasceu meu avô Manoel na quinta em Tras-os-montes, (sim, esse é o nome da província, alias essa quinta esta na nossa família vai bater uns 100 anos ou mais), e tudo estava lindo e maravilhoso no reino do vinho do Porto e bacalhau por um tempo.  Mas ele, o velho Manoel ainda sonhava com as plantações de seringueiras, os trópicos, a cabocla... e ele voltou ao Brasil e nunca mais se soube dele.

Anos depois, meu avô Manoel (sei, está confuso é muito Manoel nessa estória) veio ao Brasil e aqui resolveu ficar com sua mulher, minha avó Maria (é Maria demais também né?), que não era portuguesa mas espanhola. E fizeram seu lar numa ruazinha em Perdizes, a casa ainda existe, nessa metrópole, que na época tinha bonde e não metro. Nasceram meu pai (mais um Manoel) e meu tio, meio portuguêses, meio espanhóis, meio brasileiros... Por alguns anos meu avô procurou seu pai, viajou inúmeras vezes a Amazônia, o que de mais concerto, entre as várias estórias que ele escutou, é que meu bisavô foi morto numa disputa de terra. 

Por muitos anos ninguém deu muito crédito a essa estória, até um dia um oficial de justiça bater na porta do meu avô informando que 10.000 acres de terra perdida no meio do nada na Amazônia pertencia ao meu avô. Pois é... 

Mais do que isso, apenas sobrou a velha bengala do velho Manoel, com suas inicias cravadas em ouro que meu pai guarda com carinho! 





quinta-feira, 21 de julho de 2016

Torre de Babel


Ola meus queridos(as)

Cada um de nós somos um universo paralelo... O que se passa aqui dentro, por mais que tentemos explicar, comunicar, desenhar, traduzir... sempre será apenas um pseudo espelho distorcido. A comunhão (sem nenhum sentido religioso), o entendimento pleno e único, é breve e pontual. Pequenas amostras do que somos capazes, mas ainda não chegamos lá, não evoluímos o suficiente para fazer essa comunhão com outro universo. 

Hoje fui a prova disso. confesso que tentei; em vão. Ele sabia que algo de errado acontecia no meu universo, perguntou... não soube responder, procurei as palavras, achei algumas, tentei responder, sucesso zero. Queria tanto que ele pudesse simplesmente "ler" ou "sentir" o universo aqui dentro. Fico impressionada com a clareza emocional que alguns universos têm, outros carentes dela. 

Sempre fui fã de ficção científica, passei grande parte da minha infância e adolescência entre viagens interestelares e alienígenas; lembro um livro de Philip Dick, talvez seja "The alien mind" mas honestamente não tenho muita certeza do título, no qual encontramos uma espécie inteligente que apenas se comunicava por telepatia. Qual melhor forma de se comunicar do que essa? Você pensa, e pronto; o outro lado recebe sem interferências linguísticas, gestuais, etc... interpretação zero, exatamente o que você pensou o outro lado recebeu. O que você sente, o outro sente. 

Acredito que experimentamos essa comunicação ocasionalmente em nossas vidas, sabe aquela frase clássica, ele olhou para mim e entendeu tudo?! Provavelmente é um desses momentos, que ninguém precisa falar nada e tudo foi dito! Mas são momentos raros, perdidos em trilhões de diárias traduções e explicações. Nossa linguagem verbal por mais rica e poética que seja, não traduz as profundezas dos nossos universos... tão vasto, não há palavras que os descrevem.

E assim nos perdemos em confusões, interpretações, traduções infrutíferas; e nos tornamos uma gigante Torre de Babel!



sábado, 16 de julho de 2016

As pessoas cansam...


Ola meus queridos(as),

As pessoas cansam... essa é a verdade, nua e crua, as pessoas cansam. Cansam de investir, de acreditar, de tentar, de fazer de conta. Elas cansam, e um belo dia elas estão tão cansadas que existem duas opções, elas continuam cansadas e continuam cansadas ou colocam um ponto final. 

Eu cansei de tentar entender o que não faz sentido, eu cansei de me preocupar pelo que não me diz respeito, eu cansei de me cansar... Simples assim, hoje eu não me canso mais por nada disso. Eu me canso porque trabalhei o dia todo, porque não fui no supermercado e na reunião da escola do I. ao mesmo tempo, eu me canso porque já passei dos 40 e gosto de dormir um pouco mais no final de semana... Mas não me canso mais por qualquer outra coisa. 

Talvez seja um aprendizado, talvez eu me tornando um ser menos "cansado", ou chutando o balde mesmo! Precisa de muito hoje para me tirar do me centro, ou roubar meu sono. Talvez seja a idade, os anos... nunca gostei muito de escutar que o tempo, as experiências nos ensinassem mas hoje, não tenho como negar. E o que alguns anos atrás seria uma tragédia, hoje é apenas uma lombada no caminho, transponível, nada de mais... administrável. Resolvido. 

A proporção que as coisas tem ou não tem dependem de você, em qual momento da sua vida você está ou o quão cansada você está! 

P.S: Caiçara contando os dias para sua troca de ficha, não estou cansada dele não!!! Estou cansada de outras inúmeras coisas... Sua feijoada de sábado, seu carinho e compreensão continuam deliciosas!

sábado, 2 de julho de 2016

E lá vamos nós para a praia invernal


Ola meus queridos(as)

Trabalho novo, Mac novo... problemas velhos. E chegou as férias!!! Deles, pelo menos. Por alguma razão cósmica, nosso escritório em Londres atrasou tudo, o que significa que AQUI atrasou tudo também e, surpresa... alguns dias de folga! O que calhou, micro férias, e lá vou eu para o único lugar que sei ir, praia!

Estará frio?! Provavelmente. A água estará gelada? Certamente. O céu estará azul? Nem todos os dias...  mas é a praia! Meu refúgio, minha casa, salgada, arenosa, calmaria cheia de ressacas... não há outro lugar no universo aonde se entende melhor quem somos. Ou quem eu sou, não tenho como enganar o oceano com mentiras, nem fazer de contar que esta tudo bem para o vento terral que sopra no final da tarde, muito menos me esconder da maresia. São meus velhos amigos, cheios de sabedoria; sabedoria que eu jamais terei; então apenas escuto as ondas quebrando na praia, observo o horizonte sem fim na curvatura da Terra, abraço o vento salgado e enterro meus pés na areia. E por um micro segundo, faço parte desse todo; sem explicação.

Nem sempre o mundo faz sentido, alias nem sempre os dias fazem sentido... MAS tudo faz sentido no oceano! Ainda estamos aqui porque 30% de todos os gases de efeito estufa de origem antropogênica são absorvidos por ele (não sabemos até quando, todo sistema tem uma capacidade de suporte, e a acidificação de algumas áreas já é observada), porque ele ainda regula o clima com sua circulação termohalina (meio afetada ultimamente pelos últimos estudos comprovando o degelo na calota polar causando um aporte de água doce diminuído a salinidade), e por ai vai... Talvez faça um blog científico, mas ninguém aqui está muito interessado em saber como o balanço na equação da salinidade está afetando o processo de formação da NACW (North Atlantic Deep Water), o que compromete a distribuição de calor entre os hemisférios. Mas WHO CARES? Sei lá...EU (e meia dúzia de oceanógrafos e climatologistas por ai). 

Mas ainda temos o oceano para nós lembrar o que importa (por enquanto). Dele viemos...e sem ele não existimos, simples assim! Isso é algo que, de formas diferentes, sempre dividimos; eu e o Caiçara; o respeito e amor pelo mar... e nosso pequeno caminha nossos passos! É quase assustador escutar o Iago falando do mar, com tanto conhecimento e carinho (ele nem fez 5 anos), "mamãe, a baleia azul vai sumir se a gente não ajudar...", pois é, mais uma espécie na lista de espécie em extinção. São frases como essas que me ajudam, como mãe, à saber que estamos no caminho certo!

E o Caiçara? Contando os dias para seu primeiro ano limpo (acho que é em Agosto, não, pode ser Setembro...sei lá, eu nunca contei nada) MAS para ele parece ser um gigante evento, planejando sua troca de ficha. Talvez, porque o cara nunca conseguiu ficar um ano limpo mesmo... deve ser.  Estou estourando rojões? Não. Fico feliz por ele, e é isso. Alguns queridos agora devem não estar concordando comigo, poxa; o cara vai bater um ANO um ano limpo e você indiferente?! Não é bem assim... Vejo como um marco, o primeiro de vários que ele terá que ultrapassar, só isso. Mas é um marco importante a se comemorar... só isso. Continuo não estendendo nenhum tapete vermelho.

Como sempre disse, depois de um ano a gente conversa... já que ele esta chegando lá, talvez chegue a hora de conversar!