sábado, 19 de setembro de 2015

Pedro, meu amigo


Ola meus queridos(as)

Ele foi meu primeiro "amor" (se é que eu sabia o que era "amor")... Mas algo dentro de mim mudou, quando o vi, trilhões de borboletas se mexiam dentro do meu estômago. Eu tinha 10/11 anos no máximo, mas antes de tudo ele foi meu amigo!

Foram as férias mais memoráveis da minha infância (e não foi para Disney, nem para o Caribe, nem para Europa), foi numa praiazinha perdida no litoral norte de SP chamada Toque-toque Grande (alias não faz o mínimo sentindo, pois Toque-toque Grande é a menor praia, e a outra Toque-toque pequeno é a maior...). Mas naquela época, a única coisa que importava é que estávamos indo para praia, e iríamos ficar na casa de uns amigos dos meus pais, e suas filhas, que eram muito amigas minha e da minha irmã! Era quase uma vila, ruas de terra, sem supermercado, sem barulho, sem nada... só a praça da igreja e aquele mar imenso, azul, nosso playground. Eu, só queria acordar e sair correndo por ai! O  litoral norte de SP era um paraíso escondido, uma jóia preciosa... muito diferente do que é hoje, uma pena. 

Ele era o filho do caseiro, Pedro, uma criança como nós, mas sabia tudo do mar, e pescava! Um dia nos encontramos num final de tarde na praia, e ele estava saindo com seu barquinho/canoa e perguntou se eu não queria ir junto. Claro, e foi o por do sol mais inesquecível, principalmente porque meus pais gritavam enlouquecidos da praia exigindo que a gente voltasse enquanto seu barquinho se distanciava da costa e a gente só ria! Ficamos de castigo aquele dia...

Ele era sensível, ele era simples, ele não sabia o que era metro nem video game, ele era uma cria daquela natureza; tão diferente dos meninos que eu conhecia da escola, uns pentelhos. E assim passei meus dias, andando com ele pelas trilhas da mata atlântica, pelos lugares secretos que só ele conhecia (cavernas, cachoeiras), colecionando conchas, limpando as redes de pesca, sentados no banco da praça, deitados na areia contando as estrelas a noite, nadando no mar até não conseguirmos mais ver a praia.

Quando acordava de manhã e escutava ele no portão me chamando, algo dentro de mim batia mais forte, e saia correndo cheia de felicidade e borboletas; e lá íamos nós explorar as praias desertas, os tesouros escondidos pelos piratas, nadar pelados nas cachoeiras, subir nas árvores, roubar cachos de bananas, pescar com sua varinha de bambu, e contrariando tudo e todos, sair com sua canoa mar a fora! 

Mas as férias estavam acabando, ele sabia, eu sabia... e num final de tarde, sentados na praia, seu pé cheio de areia encostando no meu, seu braço salgado me abraçando; nos beijamos. Meu primeiro beijo, seu primeiro beijo... o universo parou por um minuto, e tudo fez sentido! E aquele minuto existe até hoje dentro de mim! Ele me deu um colar de conchas (que ele fez), disse que nunca iria me esquecer e me amaria para sempre... Usei esse colar por vários anos até a minha infância acabar e ele se quebrar,  guardei as conchas na caixinha de lembranças assim como nosso beijo salgado.

No dia seguinte, não consegui esconder minhas lágrimas enquanto subíamos a serra, queria escrever pelo menos (já que nem telefone existia), meu pai explicou que o correio também não chegava lá; mas existem outras formas que as pessoas se comunicam, através do coração! Lembro que tocava no rádio uma música do Milton que até hoje me leva até ele: Canção da América. "Amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não... o que importa é ouvir a voz que vem do coração"...

P.S: Para vocês que nasceram com celular, iPad, internet pode parecer estranho...mas existiu um tempo que foi assim, é era bom!

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