São Paulo, 10 de Janeiro
de 2013
Caiçara querido,
Não sei mais o que
fazer, talvez o melhor a fazer é simplesmente deixar você tomar
suas próprias decisões sozinho. Emocionalmente me desligar de você
e essa montanha russa de sentimentos, puxa...tudo muda a cada três
segundos. Para mim não esta sendo viável viver nesta gangorra,
estou me desgastando muito.
Durmo mal, perco a
concentração, fico irritada com as pessoas. Isso não esta sendo
produtivo para mim, preciso apreender a me desligar de você...não
me preocupar mais, não me colocar no meio do caminho, deixar de
controlar (o que não tenho controle) e seja o que Deus quiser. Se
você quiser completar seu tratamento ótimo, se você quiser pular o
muro e sair correndo...não tão ótimo, mas que seja, problema seu!
A partir de hoje eu não vou mais me responsabilizar pelos seus
problemas, já bastam os meus que são suficientes.
Depois de muito tempo
voltei a tomar remédios para dormir, estou procurando um novo
psiquiatra e começar, mais uma vez, uma terapia na tentativa de me
ajudar. As pessoas que convivem comigo e gostam de mim perceberam
essa mudança de comportamento, o quanto irritada, intolerante e
triste eu estou ultimamente. Principalmente minha família, e
apoiaram minha decisão de retomar a psicanálise (meu pai não
muito, ele acha que se você sumir da face da terra as coisas se
resolvem, e com o dinheiro que vamos gastar eu passo uma semana
tomando sol no nordeste todo mês ao longo deste ano ao invés de
ficar deitada num divã, melhor ficar deitada na praia tomando sol).
No mundo lógico e racional do meu pai, talvez ele tenha razão,
você não me faz bem.
Ontem na sala foi doído
mas encorajador escutar o retorno que tive das minhas companheiras, e
a realidade nua e crua é essa, eu me permiti ficar amarrada neste
caos e só cabe a mim desatar os nós e me libertar! Porque a vida é
muito maior do que tudo isso! Porque eu mereço ser feliz! Porque eu
posso escolher!
Faça suas escolhas...as
minhas eu já fiz.
Claro que ainda estou
machucada, mas não estou mais com raiva, também não tenho pena
(como tinha antes) muito menos culpa. Nunca me senti culpada por
nada, talvez facilitei pois simplesmente não enxergava o óbvio...mas
culpa não. Continuo estacionada no primeiro passo, entregar ao poder
superior ainda não, alias do jeito que eu me conheço provavelmente
nunca. Eu não acredito que o poder superior vá resolver nada, esta
energia esta entre nós para nos dar força não tomar as rédeas das
nossas vidas.
Outro dia estava
dirigindo super atrasada, tentando chegar numa reunião aonde eu
faria uma apresentação sobre gestão ambiental e responsabilidade
empresarial quando do nada surge o passado...tão distante, uma
música no rádio, remetendo-me à alguns anos atrás quando nos
conhecemos e tudo era tão descompromissado, tão leve, tão o
momento...sem delírios, sem muitos planos e senti falta disso.
Simplesmente estar, ser...amar. Let me take you far away, you will
like a holiday! Mas não temos como voltar no passado e resgatar
este momento perdido, o tempo passou...muita coisa se perdeu, algumas
se acharam (só ainda não fechei o balanço de perdas e ganhos).
Aonde tropeçamos? Deixando escorrer entre nosso dedos...o que
tinhamos de melhor.
Nós éramos tão
apaixonados um pelo outro! Confesso, até meio malucos um pelo outro,
quantas vez simplesmente desci a serra, do nada, só para te ver
feliz da vida! E hoje...cada vez que desço a serra é com um aperto
no coração, cada placa de retorno é um martírio, uma vontade de
fazer meia volta a simplesmente subir a serra. O que somos juntos? Eu
não sei.
Sozinha, eu sei quem eu
sou: eu sou mãe, profissional, amiga, filha/irmã ...mas o que
somos juntos, eu não sei. Não tenho dúvidas do amor que senti por
você, mas aonde esse amor esta agora? Honestamente, não sei.
Não é uma despedida...é
um até breve, quando soubermos quem queremos ser juntos. E você não
conseguirá responder isso antes de enfrentar seus demônios,
trabalhar seus passos e aceitar quem você é. Tudo tem um tempo, e
pode ser longo........Estarei do seu lado dentro das minhas
limitações, pois também sou uma pessoa que chora, ri, ama e sofre.
E o mundo aqui fora continua! Eu também preciso deste tempo, para
trabalhar melhor a pessoa que eu sou, como mencionei antes começarei
uma psicanálise, que nunca é fácil.
Para que esse processo
realmente traga frutos (para nós dois), preciso me afastar...decidi
que só vou vê-lo no dia que você sair para a sua resso. Esse tempo
nos dirá aonde realmente estamos nesta caminhada. Terei imenso
prazer em receber as cartas que você escrever, também escreverei
mantendo você informado sobre nós quando puder.
Não se preocupe com o
I., você sabe muito bem que ele não poderia estar em melhor lugar
(alias estamos de viagem marcada para a Disney, ele vai amar o
Mickey!) Faremos o roteiro
básico, Disney, Universal...10 dias estamos de volta. Sei o que você
esta pensando agora, eu só estou indo passar as férias com o
I., minha irmã e o meu sobrinho na Disney! Só isso! Não estou
fugindo.
Entenda o que estou
dizendo, não é abandono! Ao contrário, precisamos deste momento
para entendermos quem somos, o que queremos juntos, quais são nossos
valores, o que pode ser resgatado e o que, infelimente, se perdeu.
Porém, o mais importante, o que estamos dispostos a constuir no
futuro!
Dói querido, mas não temos
escolha. Ou é isso, ou vamos acabar cometendo os mesmos erros de
ontem...No dia da sua saída para a ressociabilização, em
março/abril estarei no portão esperando você! Fique bem meu
amor...e até breve!
Pense.
Beijos, Dona Barriga
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