segunda-feira, 25 de julho de 2016

Tatjana manuska


Ola meus queridos(as)

Essa é a segunda estória/lenda da minha família, lado materno polonês/russo. Minha avó e meu avô, os dois engenheiros de minas vivendo sua vidinha, minha tia já nascida pequenininha com uns dois ou três ano, minha avó grávida (da minha mãe), em Varsóvia, na sua casa da cidade e outra no campo. É o que era chamado de casa de inverno e verão, na época era comum. Minha avó sempre amou mais os verões que os invernos, e a casa do campo era seu refúgio. Nesse oasis ela cultivava suas orquídeas na estufa o ano todo, plantava seus morangos para compotas, e beterrabas para um bom borsch...  e amizadse com os "criados". Um belo dia a mulher do caseiro entrou em trabalho de parto, difícil, longo, complicado, o médico não chegava (hospital...nem pensar né), e minha avó saiu do salto alto, tirou o casaco de mink, e literalmente fez aquele parto sozinha! Diz a lenda que chamaram o bebê de Tatjana... em homenagem a minha avó Tatjana. 

Rapidamente os tempos mudaram, a Alemanha nazista invadiu a Polônia, e a casa de verão foi invadida pelas tropas,  e as orquídeas destruídas, as beterrabas esmagadas... e minha avô, que só era polonesa, não judia embarcou para Auschwitz sem suas orquídeas, grávida de 7 meses. Minha mãe nasceu num campo de concentração, longe do seu berço tão decorado, seus bichos de pelúcias, das orquídeas. Mas minha avó nunca se dobrou, cortou quilos e quilos de batata numa cozinha pobre e gelada enquanto minha mãe mamava grudada no seu peito (e ela agradecida por poder amamentar ela, não a mesma sorte de outros). Todos sabiam o fim, os "banhos" nos quais eram envenenados e mortos. Minha avó sabia que seus dias estavam contados, e numa noite de nevoeiro ela saiu do alojamento pedindo à Deus que fosse morta escutou uma voz... não era Deus mas um soldado da SS que patrulhava as cercas... Tajtana, Mamuska Tajtana! 

E ai entra a lenda, era ele seu criado da casa de verão que minha avó ajudou no parto da mulher. E como todos os menos favorecidos foram recrutados pelas SS por um trabalho. Combinaram um horário que ele estaria de vigília, na madrugada, para que pudessem fugir. E assim foi, numa madrugada sombria, com nada mais do que a roupa do corpo, minha mãe já andando, minha tia chorando e meu vó... o ex-caseiro não viu, e eles entraram no meio da floresta e correram, correram até chegarem num casebre, imploraram ajuda; e foram acolhidos, alimentados e dormiram numa cama depois de vários anos nas mãos dos nazistas.

Era 1945, o final da guerra... e eles chegaram na Itália e embarcaram no primeiro barco saindo da Europa para qualquer lugar e vieram parar neste pais. E até o dia que minha avó morreu nunca conseguiu pronunciar, e procurou os seus que ficaram, sumiram, morreram, e nunca desistiu até seu último dia nessa terra de acho-los e ajudá-los. Passou anos e anos enviando sacos de comida, roupas etc... voltou a Polônia inúmeras vezes buscando seus irmãos e irmãs sem achar, nenhum deles teve a mesma sorte que ela. Nunca achamos nem os túmulos.

Anos depois da sua morte confortável aqui, do lado da família, minha mãe e tia receberam uma carta do governo alemão querendo restituir as propriedades que foram da minha avó/avô desapropriadas indevidamente pelos nazistas durante a guerra.  Pois é, a casa de verão da minha avó com suas orquídeas ainda existe, e segundo minha mãe que esteve visitando uns anos atrás, continua como ela deixou. Só falta algum de nós quer ir morar lá. Já a casa da cidade, elas decidiram doar, pois um orfanato funciona lá hoje.

Muita coisa horrível aconteceu na guerra, muita coisa se perdeu mas muita coisa se achou também! Só quem viveu sabe que no concreto sempre nasce uma flor que não desisti! Isso é minha avó! Minha Babushka, que rezava toda noite o pai nosso para mim em polonês ... depois de tantos anos ainda lembro da voz dela e rezo em polonês também quando a coisa aperta!!!

P.S: A última vez que estive na Alemanha, o processo de restituição de posse não estava finalizado ainda, então não vi a estufa das orquídeas da minha avó,  mas vou, quem sabe, passar um tempo com elas e o I, em breve!









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