quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Vambora


Ola meus queridos(as)

Ele foi, provavelmente, o único homem que eu amei de uma forma diferente, muito fraternal (apesar do desejo físico sempre estar presente), um enorme amigo, companheiro, confidente, parceiro... quase como se fosse sua melhor amiga mas de cuecas. Até ir no banheiro fazer xixi nós íamos juntos (e não, ele não é, nem nunca foi gay), até dormir na minha cama ele dormiu e eu na dele como dois irmãos (apesar do desejo, que com o tempo foi se intensificando...até um dia).

Ele tinha aquele sotaque catarinense que precisava de legenda, vindo de uma cidade perdida no meio do nada que nem lembro o nome hoje, físico, com mestrado em física e buscando algo novo como candidato a doutorado em oceanografia na cidade grande. E foi assim que o conheci, na USP, ele não entendia muito de oceanografia e eu não entendia muito de física na época (começando meu mestrado); ele era calado, e eu falava demais; ele era paciente e calmo, e eu era inquieta e explosiva; ele era paz,e eu queria mais era ver o circo pegar fogo! Mas ele podia ser bem maluco também com meia dúzia de cervejas, lembro de uma festa dos bichos no centro acadêmico da farmácia que simplesmente ele sumiu, e quando dei por mim o Go-go boy em cima da mesa era ele (sem roupa)! Ele sempre teve um lado meio "animal" enjaulado, meio porra loca que herdou do pai poeta (alias um gênio) que apreendeu a conter para sobreviver.

Ele foi meu fiel escudeiro (e vice-versa), onde eu ia, ele ia, meus amigos, eram seus amigos, cada página da minha tese ele leu e releu um bilhão de vezes e corrigiu com carinho, cada sugestão, cada gráfico, cada equação... quantas noites em claro estudando (cursamos várias disciplinas juntos, mesmo ele sendo do doutorado), quantas noites em claro perdidos pelos botecos da Vila Madalena... quantas noites em claro simplesmente conversando um no colo do outro, quantas noites em claro planejando escapar para Marte ou qualquer outro planeta!

Ele era meu guarda costas, do seu lado tudo era seguro (mesmo só fazendo merda), podíamos tudo e mais um pouco. Até o dia que literalmente invadimos o Instituto Oceanográfico depois de várias cervejas no bar da física, pois eu tinha esquecido minhas chaves no laboratório, pelo buraco do ar condicionado (fazer o que, o segurança não tinha a chave do laboratório e eu precisa pegar minha bolsa, né?). Claro, no dia seguinte, o "arrombamento" foi a fofoca do dia no cafezinho, e nós dávamos risadas... Jura? Alguém entrou pelo ar condicionado? Ou quando ele "chulapou" um cara muito folgado que estava me incomodando numa balada, ou quando eu "chulapei"uma vagabunda dando em cima dele... (no fundo, tínhamos um ciúmes inexplicável um pelo outro).

Mas ele era família (tinha uma namoradinha de infância lá na cidade perdida no meio do nada), e eu sempre enroscada, já com o P. se tornado algo "tipo noivo", nunca dando chance para nada nem ninguém e chegou o momento de ir para os USA...  Fiz um enorme churrasco de despedida, noite a dentro; e claro, meu fiel escudeiro não poderia faltar! Acho que foi nesse churrasco que viram a gente fazendo xixi juntos no banheiro e até hoje ninguém esquece isso... Mas foi nesse churrasco que nos beijamos pela primeira, única e última vez, e isso EU não esqueço...

Um beijo, sincero, profundo, contido, guardado, intenso, eterno.. Um beijo, que não trocaria por mil outros beijos, um beijo que disse mais que mil palavras; um simples beijo, nosso único e precioso beijo de entrega total como se não houvesse amanhã, nunca mais fui beijada assim, com tanta intensidade, tanta cumplicidade; e isso faz ele ser único... E até o último minuto, enquanto eu embarcava naquele avião, sonhei que ele poderia ir comigo e mudar tudo! Mas eu nunca o convidei a ir... Nunca abri as portas e deixei ele entrar.

P.S: Entre por essa porta agora,
       Me diga que me adora, 
       Você tem meia hora para mudar a minha vida, vem
       Vambora... 
       (Adriana Calcanhoto)

P.S.S: E mais uma vez quem foi embora fui eu...

3 comentários:

  1. eita desencontros nega...rs...Dona barriga e seus amores ....

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  2. Sempre fugindo da "felicidade". Rsrsrs Poderia ter sido tudo diferente? Paz, amor e muita tranquilidade?.... Acho que não. ..só passamos por aquilo que precisamos passar .... isso é evolução.

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  3. É minhas queridas... quem é que vai saber?!!! Mas talvez eu já tenha "evoluído" o suficiente nesta vida e chegou o momento de apenas ser FELIZ em paz, de preferência do lado de alguém que eu amo (pode ser o I., ótimo)!!!! Mas desta vez, não irei mais embora ou deixar mais ninguém num aeroporto, se esse alguém quiser que eu fique! Mega beijos

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