quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Ele que prevê o tempo e o meu coração


Ola meus queridos(as)

Estou pensando seriamente em me mudar, mas não apenas uma pequena mudança MAS uma grande mudança, de estado, de país, de continente. Valorizar quem me valoriza... quem espera por mim a anos, a vários anos. Sempre nos encontramos e nos despedimos por várias décadas, em inúmeras situações e épocas das nossas vidas, aqui em São Paulo num verão abafado e seco quando estudávamos equações diferenciais comendo pizza e tomando cerveja, no Grand Canyon durante o começo do outono, quando os primeiros flocos de neve caíram inesperados e já sabíamos derivar qualquer equação de cor e salteado... e sabíamos um pouco mais que isso, mas não o suficiente! Na Itália, quando as colinas floresciam na primavera e só o que eu queria era comer macarrão e esquecer meu casamento que desmoronava... e talvez nós já soubéssemos demais. 

Ele foi alguém que amei e mais uma vez, deixei num aeroporto qualquer também... mas ele nunca desistiu de mim, de nós até hoje. Em todos os momentos mais difíceis e complicados da minha vida, de uma forma ou de outra ele esteve presente, e mesmo com o passar dos anos, sempre nos escutamos, nos procuramos... nos respeitamos e, acima de tudo, nos consideramos, e nos amamos silenciosamente aguardando o momento de ficarmos juntos (ou não)... 

Ele era tímido, longe do típico carioca malandro, dedicado aluno de mestrado em meteorologia, e nos conhecemos do nada, numa viagem ao litoral organizada por uma ex-professora minha do sul que fazia doutorado no IAG (Instituto de Astronomia e Geofísica) e eu no IO (Instituto Oceanográfico), éramos irmãos, o IAG e o IO. Na divisão dos carros, ele acabou no meu (justo eu que hoje não dirijo nem com reza brava), e fez alguns comentários sobre como eu dirigia bem... Uh... depois entendi, ele adorava(adora) fórmula 1. Reparei nele, guardei para mim, e durante os dias na praia NADA. Confesso que investi, mas ele era reservado, à moda antiga mesmo, e ficamos bons amigos apenas.

Mas a convivência, o amor pela ciência nos uniu, e ninguém no campus da USP via um sem o outro, não por carência, mas por unidade mesmo, éramos uma dupla dinâmica (de fluidos geofísicos) , a oceanógrafa e o meteorologista! Foram tempos preciosos, mas chegou o momento... fui fazer meu doutorado no Hawaii (e casei) e ele em Oklahoma, boa viagem! Ao longo dos anos mantivemos contacto, as vezes constante, as vezes esporádicos... Até um dia em Phoenix, quando nos encontramos, e desta vez, simplesmente esquecemos tudo e todos e nos amamos, sem amarras, sem passado, sem futuro, apenas o presente nos observando a beira daquele canyon gigante, nos lembrando a beleza de ser, o céu estrelado do deserto, a imensidão do horizonte. E fomos, um só, frente aquela formação geológica imensurável, atemporal, única e prometemos nunca mais nos separar! Mas nos separamos novamente... Chorei enquanto embarcava naquele avião, mas minhas lágrimas me deram força para fazer o que precisava. Quando coloquei meus pés no Hawaii a primeira coisa que fiz foi pedir o divórcio. E mais uma vez ele esteve do meu lado, nem que fosse a milhas de distância, mas sua amizade, seu carinho estava lá, nas minhas noites mal dormidas, meus dias tortos, e assim mais uma vez prometemos ficar juntos! 

Ele já tinha voltado ao Brasil e assumido uma posição de docente numa universidade federal, e eu acabei casando novamente nos USA e não voltei como o combinado (pois é, nem tentem entender porque hoje, colocando assim nem eu entendo), ele sofreu muito (sem demonstrar) mas continuamos nos falando. Ele foi para Europa num pós-doc, eu fui para Europa num congresso e mais uma vez nos encontramos... sem querer, e desta vez me perdi na Toscana, com suas vinhas centenárias, campos de trigo extensos dourando as paisagens, castelos medievais embutidos de séculos de história, museus com as coleções de arte renascentista mais impressionantes, e sua sempre objetiva previsão do tempo. Ele me conhece, ele sabe quem eu sou, não existem segredos entre nós, ele não precisa de nenhum modelo número para prever meu coração... ele sabe, sempre soube quem EU sou. 

E depois de tantos anos de tempestades, ele ainda prevê dias ensolarados para nós dois!!!! Ou melhor, nós três, pois ele adora o I.! 


Nenhum comentário:

Postar um comentário