domingo, 5 de julho de 2015

O urso


Ola meus queridos(as)

Nesta época de inverno sempre penso nas pessoas que moram na rua, se aqui em casa com direito a aquecedor ligado no máximo, cobertor e chocolate quente estou congelando fico imaginando a dor física que essas pessoas pseudo vestidas com chinelo de dedo em baixo de uma ponte qualquer cobertas com papelão não estam sentindo. É muito triste... Claro que elas estam lá o ano todo, pode até parecer meio hipócrita da minha parte só lembrar que elas existem quando a temperatura cai abaixo dos 15 graus, mas desde criança sou assim. Outro dia, numa esquina na Av. Paulista, uma dessas pessoas pediu dinheiro para comprar um cobertor... escondi aquela lágrima que teimava em escorrer pelo meu rosto, acelerei o passo e cheguei sã e salva no escritório. 

Não teve jeito, aquilo ficou martelando na minha cabeça o dia inteiro; a noite, quando a temperatura caiu mais ainda e veio aquela chuva gelada, passei pela mesma esquina na esperança de encontrá-lo mas não havia ninguém. Deitada na minha cama quentinha, dormindo de conchinha com o Caiçara em baixo de uma tonelada de cobertas, fiquei me convencendo que, provavelmente, aquela pessoa  foi recolhida à um abrigo. Tive sonhos, não, sonhos não e sim pesadelos; eu perdida no meio de uma nevasca, um mundo branco e gelado, um urso assustador, enorme se aproximando de mim... eu paralisada, presa na neve espessa, queria gritar, sair correndo... pensei, bom é o fim, o urso vai me devorar. De repente senti um calor me envolvendo, seu corpo peludo e quente; o urso me salvou com o seu abraço e eu acordei ensopada de suor! Alguém sabe se tem urso no jogo do bicho? Depois dessa, vou ter que fazer uma fezinha... 

Não sou muito fã de Freud mas até eu consigo interpretar esse sonho tão óbvio. Ou eu morreria congelada ou devorada pelo urso, e no final, meu maior medo, não só não me devorou como me protegeu do frio e me salvou. Desculpe se decepcionei alguém, mas acho que não tem como elaborar mais do que isso... 

Independente do sonho/pesadelo, já tinha decidido levar um cobertor para aquela pessoa. No dia seguinte, sai mais cedo com o I. a tira colo (um daqueles dias que não tinha com quem deixá-lo, além de que ele adora andar de metrô e sabe todas as estações de cor e salteado), compramos um cobertor bem quentinho, e fomos procurar a pessoa. Ao nos aproximarmos da tal esquina fiquei pensando, e se a pessoa não estiver mais lá, e se ela morreu de frio  na noite passada (maluquices da minha cabeça); comecei a ficar com raiva de mim, e se uma merda de um cobertor que você não deu pudesse ter evitado isso... comecei a me sentir culpada, por favor, esteja ai na esquina, por favor, esteja ai na esquina fiquei repetindo em silêncio, implorando e aquela lágrima reprimida escorreu, e várias outras depois enquanto o I. entregada o cobertor para a pessoa (ufa, ele estava lá). Em retribuição, seus olhos tristes e mareados, seu sorriso desdentado e honesto, e ele nos deu, provavelmente a única que ele tinha, seu abraço; um abraço forte, um abraço de urso! Um abraço de urso que me salvou da indiferença... um abraço de urso que nos uniu no medo e no frio que todos sentimos, um abraço de urso que aqueceu meu coração.

Um abraço de urso que resgatou minha humanidade. 





3 comentários:

  1. Eita que essa semana as blogueiras resolveram aparecer...rs...um abraço de urso pra ti bem quentinho...bjus

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  2. A gente tem tendência de nos sentir culpados... Porque eu tenho casa, agasalho e cobertores e os mendigos estão passando frio... Devemos ser gratos pelo que temos, não nos sentirmos culpados por isso. Não é culpa sua que as pessoas não tenham o que não tem... Mas é claro, se tiver oportunidade e vontade de ajudar, por que não? É sempre bom... Mas não por culpa e sim por vontade... (não estou te criticando, só comentando a respeito pois é bem comum nos sentirmos culpados pelo que temos, mesmo que mereçamos tais coisas... a sociedade, as crenças passadas de geração em geração estão sempre tentando nos encher de medos e culpas que não são nossos, só vão passando e tomamos para nós sem questionar...).

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    1. Oi mulher! Claro que temos uma carga de culpa pseudo embutida em nós que não é nossa, alias carregamos várias coisas que não são nossas... Mas eu realmente penso, se aquela pessoa tivesse as mesmas oportunidades que eu tive, será que ela estaria morando na rua, ou teria feito uma faculdade? Não tenho bola de cristal mas vejo que grande parte dessas pessoas, não tiveram nem infância, já nasceram sem chances... essa é a meleca.

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