sábado, 25 de julho de 2015

O medo do mar


Ola meus queridos(as)

Sei que falo e pouco falo dele... meu primeiro marido o P. É difícil falar dele? Não, mas realmente nem sei por onde começar, foram longos e curtos 15 anos ou mais, ninguém contava. Vivemos tanta coisa, crescemos juntos, viajamos juntos, construímos juntos, brigamos juntos, nos amamos muito e MUITO e MUITO mesmo... Era para sempre, mas não foi. Foi para sempre enquanto durou. Acho que nunca realmente escrevi sobre isso porque não sei por onde começar, um post apenas não seria suficiente para fazer jus ao que realmente vivemos, ele merece um blog inteiro!!!! Então, hoje, senti vontade de falar dele sem nenhuma ordem cronológica.

Seus cabelos já eram grisalhos quando o conheci (apesar de ser alguns poucos anos mais velho que eu e estarmos começando a faculdade), e ao longo dos anos ficaram mais brancos e lindos, alto, esguio, e com toda essa postura, era um pouco inseguro, sensível e pela primeira vez (de muitas) o vi chorar, procurando meu colo numa madrugada de tempestade. Minha casa (quase nossa nessa época, pois gradualmente ele foi se mudando, uma cueca, uma escova de dente... até ficar com a cópia da chave), era próxima à praia, escutávamos as ondas quebrar a noite gentilmente na praia, até chegar o inverno; e o oceano inteiro se rebelou em enormes ressacas, invadindo a praia, ecoando em todos os cantos, mostrando sua força... e foi numa destas noites frias de tempestades que ele me segurou como se fossemos afundar, embaixo dos cobertores, e o fogão a lenha esquentando o quarto...mas lá dentro dele, tudo era frio. E ele chorou com uma criança, com medo e assim fiquei sabendo que o seu pai tinha morrido afogado alguns anos atrás.

Ele não estava (e se sentia culpado pois não foi), apenas a mãe e o irmão na praia, seu pai simplesmente entrou no mar e nunca mais voltou... e tudo mudou na sua vida depois que recebeu aquele telefonema. Ele tinha uma tristeza profunda dentro dele, que com os anos foi apreendendo a conviver, e amar novamente... viver de novo! E como! Não tinha churrasqueiro melhor que ele, não tinha amigo melhor que ele, não tinha companheiro melhor que ele, não tinha amante melhor que ele... não tinha amor melhor que o dele!!!! Porque ele não simplesmente te amava, ele profundamente TE AMAVA, se unia a você de uma forma inexplicável, ele olhava para dentro de você e sabia tudo!

Mas nas noites de tempestade, quando o mar crescia, enorme, barulhento... ele se agarrava a mim desesperado enquanto eu tentava o acalmar, e acalentar como uma criança assustada. Mas mesmo assim, ele foi ser oceanógrafo, e ama o mar tanto quanto eu! 

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