segunda-feira, 20 de julho de 2015

Maldito Stalin


Ola meus queridos(as)

Sempre tive problemas com o autoritarismo, não que isso me tornou uma rebelde sem causa (ou com causa), protestando, sendo do eterno "contra", levantando a bandeira da anarquia e arrancando o sutiã em praça pública. Claro que já fui adolescente, numa época no mínimo interessante na história deste país, a primeira vez que votei para presidente (não só eu mais muita gente) tinha 16 anos, fui filiada ao PCB, acreditei piamente num socialismo, lia qualquer coisa marxista que caia na minha mão (dos clássicos O Capital e o Manifesto Comunista, aos escritos de Engles, a biografia de Trotsky e outras grandes cabeças da revolução bolchevique como Lenin e Zinoniev). Chorei quando estive no México e visitei a casa onde Trotsky foi assassinado no seu exílio a mando de Stalin enterrando qualquer possibilidade da revolução socialista dar certo, exterminando o único "herdeiro" de Lenin e seu sonho socialista (sério, eu acreditava piamente que a polarização mundial não teria existido se o filho da puta do Stalin não tivesse assassinado Trotsky e muito menos tivesse exilado meu avô durante a segunda guerra).

Meus pais, na época, nem estimulavam nem podavam esse meu interesse, até porque suas vivências da ditadura ainda eram muito recentes, e eles no fundo tinham um certo medo que o regime democrático não se instaura-se e a ditadura voltasse com força total. Quando as coisas apertaram lá pelo final dos anos 60, eles "sumiram" de circulação; e não porque meus pais eram grandes ativistas políticos, simplesmente porque eles eram médicos. E como médicos, quando os prisioneiros políticos torturados chegavam entre a vida e a morte no pronto socorro do hospital, com escolta militar e sei lá eu mais o que, eles não só atendiam como, anos depois, confessaram que fraudaram atestados de óbitos, e retiraram os pseudo defuntos pela porta dos fundos que conseguiram sair do país depois. Era uma rede, sem muita articulação ou liderança, mas como médico você não iria deixar a pessoa morrer, ou simplesmente manter ela viva para mais uma sessão de tortura e ponto final. E assim quando alguns outros médicos foram convidados a prestar depoimentos no DOI-CODI eles foram fazer um "estágio" no Chile por alguns anos... até hoje meus pais não acham que fizeram nada de mais, nada que qualquer outra pessoa teria feito, mas vários colegas médicos deles nunca mais voltaram dos seus depoimentos no DOI-CODI e eles optaram por "aceitar" uma bolsa de estudos no Chile (onde eu fui concebida). Até hoje, meus pais não falam muito sobre esse momento, imagino o porque e respeito... muitas pessoas morreram, as cicatrizes das torturas eram reais e o medo ditava a ditadura. 

Mas eu sonhava com uma sociedade sem capital, onde não havia propriedade privada, você fazia parte de uma grande família compartilhada, onde as pessoas eram iguais, e nada tinha valor material... e a união fazia a força! Linda ideologia, mas Marx passou muito longe! Ele esqueceu a coisa mais fundamental, gente é gente! Mas por muitos anos, deitava na minha cama lendo Che Guevara, com a bandeira da União Soviética estampada na minha parede e ingenuamente esperava "a mudança"; finalmente o fim da ditadura e o começo da revolução vermelha! Lembro o dia que conheci o Roberto Freire, estava na sede do PCB (que ficava na Av. Angélica, ajudando uns companheiros a separar uns panfletos para o tal comício da vitória na Candelária, no Rio de Janeiro.... eu que faço qualquer coisa hoje para não ter que ir para o Rio, fui de livre e espontânea vontade panfletar lá de ônibus, pode?). Roberto Freire, o presidente do PCB, candidato a presidência da república, exilado político anistiado, educador, filósofo... e o currículo dele ficava cada vez maior a cada panfleto que eu organizada suando frio! E ele simplesmente sentou do meu lado, curioso e tive a melhor aula sobre socialismo da minha vida. Mais, a melhor aula sobre cidadania da minha vida! O Freire era um fofo, até hoje sua carreira política impecável, honesto... pena que só na minha cabecinha ele iria ganhar as eleições (para quem não lembra, nem chegamos no segundo turno, deu Collor... pois é, do céu a terra MESMO!). Mas ele era uma pessoa muito íntegra, o convidei a dar uma palestra no colégio que estudava (o Santa Cruz), muito solicito não só ele foi, como aguentou um bando de adolescentes filhinhos de papai (na época os netos do Montoro estudavam lá e metade da nata paulistana e todo mundo era direita, menos os padres, os "maconheiros" e eu). E assim meu sonho de uma sociedade comunista foi por água a baixo, entrei na faculdade, virei "gente" mas cultivei alguns resquícios desta época, uma bolsa de couro surrada, minhas alpargatas, o livro O Castelo do Kafka que o Freire me deu de presente, minha crença num mundo melhor e que o Stalin FUDEU tudo!!!!

Um comentário:

  1. Que legal, outra ex comunista rs... Me identifiquei muito nesse texto, eu também já fui (me considerava né) comunista... Não numa época tão interessante como essa, mas... Enfim... Hoje vejo que o problema do comunismo é que ele é focado no trabalho, não nas pessoas... O sistema capitalista tem as artimanhas perfeitas para manter as coisas como estão, para romper com isso é bem complicado... As pessoas estão tão presas na matrix que acham que estão livres e defendem o sistema que as escraviza... Hoje não vejo uma saída prática, viável e possível, mas espero que ela exista... Se não houver mudança nos principais paradigmas da sociedade, se não mexermos nos sistemas de crenças, fica difícil mudar... Se as pessoas entendessem que todos somos um, talvez se importariam mais com as desigualdades... Mas se penso que só importa o que acontece comigo e com os meus, foda-se o resto, fica cada um por si e impera a lei do mais forte... infelizmente...

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