segunda-feira, 20 de abril de 2015

Shape of my heart


Ola meus queridos(as)

Eu o conheci anos atrás, ainda era uma estudante de mestrado querendo provar o quão inteligente eu era (ops, sou), e fui convidada para fazer parte da equipe científica que coletaria os dados num embarque oceanográfico, partindo de Miami (aonde eu morava na época) e desembarcando em Trinidad Tobago 25 dias depois...  Uma proposta única (vieram outras depois, bem mais legais como um embarque de 45 dias na África do Sul) mas lá fui eu, embarcar naquele navio oceanográfico, com todas as regalias de ser uma pesquisadora (tinha minha própria cabine!). A rotina era puxada, 12 horas trabalhando e 12 horas fora.... entende-se 12 horas trabalhando na frente de um computador conectado aos instrumentos descendo 2 mil metros de profundidade em tempo real, CTD/ADCP enfim, não vou entrar nos detalhes técnicos dos instrumentos mas, eu precisa estar em contato com a pessoa da tripulação que operava o guincho (que descia os instrumentos) o tempo todo... Depois de alguns dias começou a ficar monótono, e começamos a conversar pelo rádio... os casts (descidas dos instrumentos) eram longos, 6/8 horas. E aos poucos fomos expandindo nossas conversas, ele falava um pouco dele, eu um pouco de mim até que um final de tarde lindo aonde o por do sol no mar do Caribe foi desenhado a dedo (estava terminando minhas 12 horas graças a Deus, exausta), ele perguntou se eu precisava de uma massagem... Opa! Disse que SIM, mas até então eu não sabia quem ele era, apenas um voz que operava o guincho que descida nosso material de coleta que custava uma micro fortuna.... Ele apenas falou:  eu vejo você todo dia, a vários dias; só você não me vê! Se quiser a massagem deixe a porta aberta da sua cabine. 

Está parecendo até filme pornô né? Mas não, eu o amei e muito. Deixei a porta da cabine aberta, tomei banho (outro privilégio, meu banheiro particular na cabine) e quando entrei no quarto o vi pela primeira vez me esperando, simplesmente com um sorriso mágico, cabelos grisalhos rebeldes, uma "barriguinha" adorável (sim, ele era mais velho que eu, mais amável do que eu, mas sábio do que eu), e com seu inglês californiado pediu que eu deitasse no chão e até hoje estou procurando uma massagem como aquela! Ele foi um gentleman, quem não aguentou e atacou meu marinheiro fui eu... 
E assim foram todos os outros 20 dias.... até desembarcarmos em Trinidad Tobago, lá fui eu para o mega super resort pago pelo projeto, no dia seguinte eu voltaria para os USA e ele seguiria com a tripulação para a Patagônia.... e eu chorei, honestamente chorei enquanto aquele avião levantava vôo. Minha vontade era de simplesmente pular daquele avião, da mesma forma que ele queria pular daquele barco... E essa foi mais uma vez que eu chorei deixando alguém que eu amava para trás num aeroporto qualquer perdido no meio do nada.

Durante meses recebia cartões postais dele, África do Sul,  Índia, Islândia, Hawaii, Alaska, Japão... e a cada cartão postal meu coração aquecia, acreditava que poderia ser! Mas chegou o momento de voltar para o Brasil e defender a tese (e decidir o que faria com o P. também, que acabou sendo meu marido mais amado depois). E perdemos contato... Poucos anos depois, antes de eu voltar aos USA para meu doutorado (de casório marcado), fui convidada novamente para um embarque como pesquisadora (agora responsável pelo projeto) saindo das Guianas Francesas até Natal, 30 dias no máximo (era o programado). Como queria "sair" um pouco da universidade, do futuro marido, aceitei... e qual a minha surpresa?!!!!! 

Aterrisei em Cayenne (honestamente, no meio da selva Amazônia, nem sei como) mais uma vez me colocaram num resort chatérrimo com um monte de franceses por alguns dias até o navio estar pronto, mas como eu não gosto de comida de hotel, e queria conhecer um pouco a cidade lá fui jantar num restaurante local (talvez até demais, pois cérebro de macaco complica um pouco para o meu paladar), quando estava saindo do restaurante, e lembro disso como se fosse ontem, tropecei na calçada (se é que dar para classificar aquelas ruas como ruas e calçadas como calçadas, a situação lá é feia).... uma dor horrível, torci meu tornozelo e uma mão me ajudou a levantar, me abraçou e mesmo sem abrir os olhos eu sabia que era ele, meu marinheiro.  Inesperado, não sabia que ele estava na tripulação do embarque, ele olhou para mim e disse: como a nossa pesquisadora chefe esta no chão?!!! E rimos o caminho todo até o "pseudo" hospital.... E lá foram mais 30 dias embarcados, que eu o amei! Nos amamos.... shape of my heart, é a música do Sting do filme que gostámos de assistir depois de 15 horas no deck sem parar, The Professional.... eu apenas deitava minha cabeça no seu colo e o mundo encolhia, no por do sol no oceano Atlântico! E hoje eu sei, em qualquer oceano! 
Sinto falta do mar, de olhar em todas as direções e apenas ver o infinito mar e você!

James, como você disse tantas vezes.... Tha's not the shape of my heart! And I'm glad to know the real shape of your heart! I'm sorry, I didn't give us a change.



4 comentários:

  1. saudades de vc querida De! Muita força, viu?!, Se cuida!

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    1. Minha fofa! Obrigada pelo carinho! Saudades também...mega beijos

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  2. uouuu...me senti assistindo um desses romances de Hollywood...rs...tmj nega...força :)

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    1. Oi mulher, foi um romance sim... mas hoje eu sei que EU não nos dei uma chance de ser mais do que isso. Talvez se eu tivesse dado essa oportunidade teríamos ficado juntos e hoje estaríamos casados com meia dúzia de filhos nos odiando, ou embarcados pelo mundo nos amando... Isso eu nunca saberei! Mega beijos

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