quinta-feira, 15 de maio de 2014

As mães da segunda guerra mundial


Ola meus queridos(as)

Ganhei um livro de dia das mães do I. (claro quem comprou foi o Caiçara), simplesmente não consegui largar mais, e entre uma estação do metro e outra terminei em lágrimas a última página hoje. Provavelmente ele, quando comprou não tinha muita idéia, apenas deveria estar na gondola livros para o dia das mães, e na capa escrito: " Nós, mulheres, fazemos escolhas pelos outros, não por nós mesmas. E quando somos mães suportamos o que for preciso por nossos filhos." 

Não sou muito fã desta palavra, mas acabei "identificando" um pouco da minha própria infância... No livro a mãe, russa, sem conexão com as duas filhas (já adultas), é fria, calada, o pai (americano) morre e elas (as filhas) se vêem nesta missão impossível de quebrar essa gigante muralha que existe entre elas e cuidar da mãe idosa, morando numa réplica do seria uma dasha, comendo piroeski e borscht com o famoso canto sagrado e sua vela acesa eternamente (quem é russo, polonês, ucraniano ou simplesmente cristão ortodoxo sabe... eu sei, pois minha avó tinha o seu cantinho sagrado na sua sala com as poucas fotos em preto e branco de familiares que ela conseguiu trazer junto com o jogo de xícaras de chá e o Samovar quando vieram fugidos da guerra). 

O livro descreve a luta de sobrevivência, e as escolhas que essa mãe precisou fazer durante o cerco a Leningrado (minha avó e mãe não estiveram no cerco, mas na época nos guetos em Varsóvia), ver uma das suas crianças morrer de escorbuto, escavar o chão no gélido inverno em busca de grama para fazer uma sopa, assistir sua linda e bela cidade transformar-se num cemitério... Não sou muito emotiva, já li vários livros e documentários sobre a segunda guerra, visitei o memorial em Washington com os trilhões de sapatos de judeus e por ai vai. Mas essa estória da guerra assemelha-se muito a da minha família, nós (ou eles) não eram judeus... minha avó era polonesa, meu avô russo. E como no livro, a "mãe" cozinhava para um batalhão, assim era minha avó, estocava latas de comida em baixo da cama, sempre muita fartura... porque? Porque eles passaram fome. FOME, e não é essa que a gente sente não... valorizar uma micro gota de mel para colocar na água quente do chá num inverno de menos 25 graus! Fome ao ponto de cortar seu próprio dedo para que seu bebê sugue o sangue e amenize o choro... misturar água com fermento para simplesmente conseguir ficar de pé mais um dia.

O que foi o cerco de Leningrado? Sem entrar em nenhum mérito estrategista (segundo alguns historiadores, a União Soviética jamais abria mão da cidade e deixaria a população inteira morrer ao se render aos exércitos alemães), do ponto de vista prático: por 900 dias os habitantes viveram cercados por tropas nazistas. Um milhão de russos morreram na ocasião, sendo 800 mil em consequência da fome. 

Minha mãe, até hoje, nunca falou da guerra... sempre diz que era pequena demais e pouco lembra; minha avó, acho que com o tempo foi fazendo as pazes; não que falar da guerra fosse seu assunto preferido mas também nenhum tabu... Existem várias estórias e algumas meio "lendas" como diz minha mãe sobre esse momento (fica para outro post).

Mas o que eu sei hoje, minha avó quando começou a raspar o papel de parede e cozinhar na panela não era só Alzheimer, depois de ler esse trecho do livro: As sopas eram preparadas com cola de carpinteiro, obtida raspando-se os móveis, depois de desmanchá-los, ou raspando-se as paredes, depois de arrancados os papéis que as cobriam. 



Um comentário:

  1. cara ...realmente não temos a dimensão da dor de muitas estórias que já aconteceram no nosso mundo...bjaum

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